Com a nossa ideia de contar as histórias de vida real de Camis em Dublin, me veio uma outra, de falar um pouco daqui de Salvador, para ver se nos encontramos no meio do caminho. Eu, do lado de cá, ela, de primeira viagem. Um pouco disso tudo, todo mês.
Nosso café de 2019 foi em Edimburgo. Onde será o próximo? |
O tempo está virando aqui. Salvador vive um outono atípico, mas não há nada de normal mesmo este ano. Está começando a fazer frio - o frio daqui, dos nosso vinte e poucos graus - e tem chovido mais do que... do que sempre, porque é tudo novo e velho pra mim. Estou na cidade há quase três meses e antes disso estive no Rio de Janeiro por 12 anos. Quem já passou pelo Café, sabe que sou baiana, soteropolitana e que amo muito o meu quadrado, mas fazia tempo que não passava tanto tempo aqui. Aliás, até dele, do tempo, já falei outro dia.
Camis vive a primavera e em breve será verão em Dublin. As temperaturas mais altas para ela são o nosso inverno de praia o ano inteiro - que agora está fechada pela pandemia. Ela aproveita o relaxamento do isolamento social enquanto nós, do lado de cá, seguimos confinados na Bahia (o Brasil segue cronogramas distintos por estado), à espera de melhores dados para então, falar mal do trânsito, da hora do rush, de algo próximo daquela rotina que todo mundo sente falta - até de reclamar. Mas, com relação a isso é melhor ficarmos quietos, a Bahia vai bem na medida do possível, com ACM Neto na prefeitura de Salvador, e Rui Costa como governador, tocando as medidas de combate a esse maldito coronavírus. O povo tem ajudado, mas ainda tem muita gente dificultando o processo e atrasando a vida de quem quer se ver livre dessa agonia.
Dá pra ver o mar da varanda. Não é uma vista 360 graus ou aquela coisa de cartão postal, mas ainda é meu mar e dá para ficar pensando na vida até perceber que perdi a tarde nisso. Diferentemente de Camis, não estou grávida mas, como ela, estou sem trabalho fixo-oficial-valendo, então temos tempos livres ou tempos de decisão acontecendo. Por ora, a meta é decidir se vou ou se fico - o Rio segue cada vez mais distante e talvez seja a hora de voltar para Salvador, nem que seja por uns tempos. Um luxo sair de uma cidade maravilhosa para outra excepcional, eu sei. Mas ainda assim, viver no meio do caminho está de matar. E nem acarajé tenho comido - deve ser isso o que está faltando.
Das coisas que não lembrava mais do dia a dia da cidade, o salitre (ou a maresia) e o vento são os mais marcantes. É impossível manter as janelas e os pisos 'não nublados' (minha versão fofa para úmidos, embaçados e salgados). Tem que limpar feito um condenado, passar pano duas vezes por vez (sim) e umas três vezes por semana se você for perfeccionista - tudo tem limite nessa vida. Varanda e janelas fechadas à noite porque faz frio e porque queremos manter os eletrodomésticos e eletrônicos vivos o maior tempo possível, antes de morrerem de corrosão. Não é exagero. Mas, faz bem né, não ser materialista e entender que um dia na vida tudo acaba, especialmente na vida de maresia. Ou no salite.
Daqui a pouco eu volto, que o piso me espera. Conto as decisões, maluquices e acertos - assim esperamos - dessa vida de mulher independente entre duas capitais, no meio da pandemia, na expectativa de dias melhores e tentando planejar os próximos passos.