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Café: extra-forte

sobre o anestesista de São João de Meriti, Rio de Janeiro, que estuprou mulheres em trabalho de parto. Julho 2022.

Hoje eu quis matar alguém. Uma pessoa específica, mas hoje eu entendi a raiva, o desprezo por uma vida. Fica um gosto ruim na boca, uma ressaca sem álcool que dura mais tempo, machuca o estômago, anuvia o cérebro, esgana o coração.

Eu nunca quis matar ninguém. Nem o despresidente, nem Hitler, nem nenhum torturador. Talvez pelas distâncias históricas ou geográficas, ou por privilégio, pude pensar que odiar alguém era desperdício de energia, era um cultivo fétido para fazer germinar uma energia cinza de pó e fumaça.

Mas hoje, ao saber de um médico que estuprava mulheres desacordadas durante o parto de seus filhos, eu quis matar alguém.

Alguém que tornou um dos dias mais importantes nas vidas de tantas pessoas, puro horror e asco. O dia da vida virou um dia de dor, o amor se desfez no ato. O homem que estuprou grávidas vulneráveis, desacordadas em seus momentos talvez mais sublimes e reais, em seus momentos de vir a ser, não merece nada.

Mulheres que querem ser mães, que conseguem rápido ou que penam e sofrem para engravidar. Que chegam ao clímax deste enredo para desfazerem-se como corpos inertes e entregues a um ser que não cabe como humano. Não há humanidade ali.

Este homem eu quis ver morto. Agora, fica o vazio do sentimento depois do enjoo de horas, de uma perda que não é minha e é, é de todas as mulheres. A compaixão nos faz ver além de nós mesmas e aqui, viramos irmãs.

Estou digerindo o peso amargo que tudo apodrece. Pode ser doença, mas talvez seja só maldade. A crueldade, a desumanização, novamente. A certeza, para uns, de que nossos corpos não têm voz, como bonecas ocas à espera de alguém que nos possua, manipule, quebre. Mais uma vez, como todos os dias dos noticiários, fomos nada.

Que se resolva com uma justiça ativa, sem cegueira ou meias verdades. Essa é uma esperança tênue, à beira da desistência da crença nela mesma. A fé na reparação para as vítimas (não há reparo para o horror) é o outro lado da mesma moeda antiga e barata. 

A ver se agora será diferente.

O peso da vontade de matar é muito grande, especialmente quando ele ultrapassa o ponto de ebulição, quando a raiva se esvai e a água, agora morna, tende a esfriar. É a intolerância da vingança, comida vencida que insistimos em mastigar, certos de um futuro sombrio. É um desfavor a nós mesmos, mas, quero acreditar que a humanidade também é atravessada pela ira como uma transformação. Vivemos à beira da perda coletiva de nós mesmos. Talvez ainda tenhamos chance de virar o leme.

Eu nunca mais quero querer matar alguém.

***

Para saber mais sobre o que motivou este texto, foi o crime do médico anestesista que atuava até ontem em São João de Meriti, Rio de Janeiro, acusado de estuprar mulheres sedadas no parto de seus filhos.

Links de referência:
A notícia do G1. Segundo o jornal O Globo online, é apenas a ponta do iceberg, por essa notícia, dizendo que o Estado do Rio de Janeiro tem um estupro a cada 14 dias.
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Faz 1 ano e alguns dias que vivo com Pituca. Minha vira-lata caramelo, a mais feliz do mundo, deixou também mais feliz e rica a minha vida. Nas mais variadas gestações que vivemos nessa teimosa pandemia, voltar a viver com uma cachorrinha e crescer com ela um amor de vida inteira foi um dos maiores acertos. Sabe por quê?

foto de um filhote de um viralata caramelo sorrindo de frente para a câmera.

Porque ter um cachorrinho ou um gatinho é mais do que ter carinhos gratuitos e uma quantidade infinita de fotos e vídeos fofos. É, para quem não tem filhos e deseja um, uma espécie de teste, com o mesmo grau de responsabilidade no cuidado com uma espécie diferente de ser vivo. Pituca trouxe isso e um tanto mais.

Ela me devolveu a delícia de conviver com cachorros depois de 12 anos apenas visitando os que moraram comigo e moravam com meus pais. Ao adotar Pituca, ela se tornou minha: minha companheira, minha "roommate", minha parceira de aprendizados. Foi por ela que passei a socializar no mínimo possível quando a pandemia ainda era um descalabro triste: precisava sair com ela para as necessidades e para que ela, ainda filhote, perdesse os medos de rua e de outros seres - e eu também.

pituca e a autora.

Pituca não conta o tempo, ela vive como os filósofos contemporâneos mandam: o agora. Se agora dá sono, ela dorme. Se está com fome, pede. Se não está com fome, não adianta empurrar a comida (tenho aprendido essa saciedade com ela), se quer brincar, chama. Se não quer, deixa claro também. Com Pituca não tem metáfora e nem indiretas, mas ela entende muito bem nosso idioma, mesmo sem falar muito.

Precisei adestrá-la um pouco, ficou muito tempo em casa nos primeiros meses de vida porque veio adoentada e tinha um medo, herança de maus tratos. Com o adestrador mais carinhoso que tive a sorte de encontrar, ela foi ganhando confiança e indo para a rua, conhecendo novos amigos. Seus amigos viraram os filhos dos meus novos amigos. Vizinhos que se encontram todos os dias no mesmo horário para as conversas sobre tudo e sobre nada. Nenhuma expectativa além de fazer os pequenos brincarem e fazerem o que precisam. A vida ficou, automaticamente, mais leve e acordar cedo, que não era um problema para mim, virou um prazer.

foto de uma viralata caramelo dormindo. Pituca.

Com um bichinho, a gente aprende como a vida pode ser simples - mesmo que tenha seus momentos super complicados. Lembramos que carinho, afeto e cuidado são tão fáceis de dar e deliciosos de receber. E que tudo isso custa nada. Pituca precisa de espaço e o apêzinho é tão dela quanto meu, então, enquanto não penduro as plantas nas paredes, menos plantas, mais pelos. Acordando mais cedo, tenho o tempo da caminhada com ela, o café da manhã sem pressa, a caminhada logo depois para exercitar o corpo e refrescar a alma, com vista para o mar. Na volta para casa, mais carinho, um banho e o trabalho começa. A vida de rotina pode ser cansativa, mas também nos dá o tempo de pensarmos em novos projetos, desejos, necessidades e até para cochilar lendo um livro na rede. Basta acordar cedo.

Ter um cachorrinho não é um benefício gratuito, bem sabemos. Há um custo envolvido que é, basicamente, o da manutenção de qualquer vida animal. Entretanto, é uma vida tão maravilhosa, que traz tanto e demanda tão pouco, que só consigo perceber lucros, e a despesa é paga com prazer.

pituca na praia de itapuã

Não sei se você tem ou teve um cachorro ou um gato na sua vida. Se teve, sabe do que estou falando e sinto um sorriso de cumplicidade. Se está em dúvida, adote. Há muitos animais incríveis e que precisam do seu abrigo e cuidado, em troca de algo que você nem imagina receber. Eu vivo isso todos os dias e espero viver outros tantos por muitos anos. Viva Pituca, um ano de muito amor e alegrias! 

***

Pituca é uma delícia de cachorrinha, né? Para contribuir com o Café, porque não participar com o valor de um cappuccino ou expresso gostoso? Passa no buy me a coffee e deixa um pouco desse carinho por lá! =)  

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Chegamos a meados de abril de 2021 e muita e pouca coisa mudou nestes meses de distanciamento social e pandemia. O tempo passa atrasado e arrastado e, neste descompasso, a coisa aqui no Café foi se encorpando em potência, mas ficamos nisso. Nenhum café foi passado. Chego hoje, como quem não quer nada, para botar o papo em dia.

imagem de pituca, a minha cachorrinha.

Bem assim mesmo, como blogueira pós-adolescente dos anos 00 que fui e sou. Da época em que não existia digital influencer ou blogueirinhas, a menos que fossem bem jovens e crianças. Chego de mansinho para falar da vida, deixando um pouco de cada coisa nas entrelinhas e trazendo meu novo amor, Pituca.

Projeto de 2020, execução perfeita em 2021, Pituca chegou cabisbaixa, meio adoentada, séria e rosnando. Aos talvez dois meses de vida, foi encontrada num terreno baldio por alguém e levada para um lar de adoção de bichos sofridos. Cuidaram dela mas, ainda assim, não perceberam uma coisa ou outra. Faz parte.

Pituca enveredou em um isolamento social comigo desde 30 de janeiro e dele ainda não saiu. Não terminou as vacinas, curou as doenças. Cresce aqui e na casa de meus pais, corre na grama da casa em ruína que será obra em algum momento. Feliz agora, passou muita coisa e as cicatrizes são a prova da perversidade humana. Passou.

Pituca atravessou meu coração assim que a coloquei no colo e ela segue dormindo as manhãs e animando as tardes, e mostra que quem manda aqui é ela. Me deu qualidade de vida, o melhor significado para distração e me julga: me olha na cara quando passo tempo demais no celular e de menos com ela. Reclama que trabalho muito, resmunga se acordo no meio da noite. Pituca sabe viver.

Os cachorrinhos nos mostram como a vida deve ser. Não se preocupando com muito, reclamando seus direitos, comendo quando dá fome, bebendo muita água. Até exercícios físicos regulares ela faz, correndo para gastar essa energia de criança dentro do apartamento mesmo, do jeito que dá. Dorme cedo e acorda cedo.

Nestes tempos de pandemia, consegui sair para caminhar até março e pretendo voltar logo, assim que os números soteropolitanos da pandemia permitirem. A coisa tem melhorado, e tá dando uma saudade imensa de tomar um café com algum amigo e amiga e falar da vida. Imagina a alegria que vai ser viver isso de novo?

Por enquanto, sigo aqui, atualizando a vida com ela mesma, mas prometo conteúdo tão bom quanto esse café desejado em breve. Com novidades, histórias, livros, filmes e reflexões. E, provavelmente, mais casos de Pituca. 

Aproveitando, mando duas dicas inspiradoras, para quem lê em inglês (é assim que eu treino os idiomas, lendo coisas 'aleatórias' nas redes): Deliciously Ella, provando que a vida pode ser mais leve e parece que, sempre deliciosa, e, Brain Pickings, que os amigos que lêem em menor frequência me indicaram e é apenas ótimo. Devo comentar estas referências em breve e porque me fisgaram. Ah! Se você tiver dicas inspiradoras, me manda. Estou fazendo uma curadoria de conteúdo para viver melhor (e ver menos notícias).

Volto logo. 

***

Quer me ajudar a manter este Café sempre inspirado e inspirador? Dá uma passadinha no buy me a coffee e me paga aquela dose maravilhosa de cafeína que tanto amamos. 💓

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É um tempo de tantas mudanças que, talvez a menos importante seja a virada do ano. E também talvez por isso, tenha sido tão tranquilo. Vem, vamos conversar.

2021 cronica do ano novo

Ontem brinquei com meu pai, dizendo que não estávamos em 2021, mas em 2020.2. Claro que não e deus me livre, porque 2020 já foi complicado o suficiente para os nossos corações e tudo o que queremos agora é algo para chamar de novo, para criar um novo ciclo, pensar em novos projetos de saúde, de trabalho, de vida.

Quem me conhece sabe que não sou dada a festas de Ano Novo, que fico meio pra baixo, talvez para compensar essa obrigatoriedade de felicidade instantânea e coletiva que a data impõe. Eu costumo ser uma pessoa bem tranquila e pra cima de forma geral, sem a necessidade de manter a vibração além do meu "normal", como se precisasse de uma exacerbação de felicidade, aos gritos de uma noite apenas. A imposição talvez me importune com a questão de se eu estou feliz o suficiente e naquele momento. Eu tendo a achar que sim, mas vai que... Em todo caso, esse fim de ano foi diferente.

Talvez as expectativas não estivessem tão altas, talvez tudo o que queremos para 2021 seja paz e saúde para todo mundo que a gente conhece e não conhece. Talvez a derrocada de Trump tenha trazido esperança com o enfraquecimento de Bolsonaro. Estive mais leve em tempos mais difíceis, sem forçar o sentimento e sem festa no meu quadrado familiar, restrito e isolado. E tudo passou bem. Talvez por isso mesmo, por podermos ter uma noite sem máscaras.

Janeiro, entretanto, começou violento, talvez com a raiva contida de não haver Carnaval esse ano. O mês foi obrigado a ser o primeiro do ano, contrariando uma tradição ancestral de que tudo só começa depois da festa da carne. Uma pena mesmo, porque eu queria um pouco mais de tranquilidade e praia vazia. Começamos os trabalhos, literalmente, com a velocidade de quem não tem tempo a perder, pelo receio de perder tempo lá na frente, com o descaso atual da pandemia. Descontrole de um verão que nos ganha em um clima delicioso e nos perde nas pessoas egocêntricas e irresponsáveis. A conta sempre chega, gente.

Começo o ano daquele jeito, caminhando na orla, tentando manter a saúde e garantindo os movimentos nos meus músculos que reclamam a ausência da tão conhecida ociosidade. O retorno ao Café: extraforte vem feliz, com a promessa de muitas mudanças, com um calendário de postagens viável - já há alguns meses não consigo manter a regularidade da maior parte de 2020, então resolvi fazer menos e melhor. Da mesma forma, vamos mexer em algumas coisas de marca e, necessariamente, identidade. Nada que me tire o foco do conteúdo, tudo que me torne mais próxima dele e de vocês.

Quero trazer um pouco mais de mim, do pessoal, dos contos esquecidos, das histórias divertidas, das viagens. Um pouco do dia a dia aqui e lá no instagram, cuja facilidade de postagem acelera a interação. No facebook, um pouco a replicação destes conteúdos. Inseri também aquele formulário para newsletter, que será mensal e com um texto apenas, para não ocupar muito o tempo de ninguém, não encher o saco e trazer algo que, espero, seja legal.

Vamos começar juntos esse 2021 com a vontade de ser feliz, com certeza mais saudáveis e, quem sabe, até com um cachorrinho. Sinto falta de ter um pequeno, de quatro patas, a me 'atrapalhar' os dias. Vem, ano novo, vamos fazer diferente!
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Venho sem desculpas e meias palavras: não gosto dessa expressão "novo normal". Explico o porquê, porque entendo como surgiu e o que significa. Além das atualizações, claro.

o novo normal e como lidamos com o dia a dia de novos comportamentos na pandemia.
balcony concerts by Catherine Cordasco, @unitednations
A proposta do lado de cá é fazer o contraponto das minhas experiências no Brasil da pandemia e do isolamento com a situação da minha comadre de primeira viagem, Camila. Ela está grávida, esperando Luquinhas e mora no outro lado do oceano, em Dublin. Do meu lado, a vida também mudou quase toda: mudei de cidade, saí do trabalho, um pouco aquelas histórias de filme, em que a vida da mocinha vira do avesso, ela tem que encontrar um novo caminho e acaba numa comédia romântica. A parte romântica da comédia ainda não está definida, mas o importante é ter fé!

Camila vive o dia a dia também afetado pelo coronavírus, que já passou por um isolamento mais fechado, a situação melhorou e agora, como sabemos, a Europa vive a segunda onda da pandemia. Não sabemos como vai ser, mas os países se preparam para um novo lockdown e ela segue um pouco descrente, tendo em vista o comportamento do cidadão irlandês. E a gente achando que só a nossa turma era indisciplinada. Enfim.

Do lado de cá, a vida segue aos atropelos. E essa história do novo normal que, junto com a pandemia, vem de todas as formas e meios. Todo mundo fala nisso, como se fosse uma coisa universal. A única coisa universal mesmo é a globalização e que, mesmo assim convenhamos, não é global. A gente não sabe o que acontece no mundo todo, não tem acesso a todo mundo. Hoje, descobri o inferno que está sendo a vida na Nigéria com uma força policial chamada SARS - com cara de milícia - brutal, talvez até mais do que a nossa. Claro, a informação e os transportes ficaram mais acessíveis, contudo, global é muito absoluto. E os algoritmos acabam nos fechando em bolhas, de qualquer jeito.

pandemia e novos hábitos. o que é o novo normal?
Erik Odiin, unsplash

Então, o novo normal está aí. A expressão indica que antes havia um normal, chamemos de velho normal. No velho normal, era tudo igual ao novo, à exceção do uso de máscaras em vários países. O álcool gel já existia. A gente não higienizava o supermercado inteiro, isso é verdade, mas o hábito de lavar as mãos sempre foi uma realidade. E o home office também. Menos frequente e intenso, mas presente. A história de deixar os sapatos na porta de casa também - especialmente se você mora sozinho e não tem muito tempo. E vamos lembrar que isso vale apenas para uma parcela da população. Mas, deixemos esse ponto sensível para outro dia.

Entretanto, apesar de ler e ouvir muita coisa genérica sobre o tema, ontem me caiu um texto que foi mais assertivo, que mostrava como o novo normal não é geral, amplo e irrestrito. Que, ao contrário, é específico, individual e particular. Sendo assim, não há um novo normal. Há uma adaptação à situação imposta e alguns pontos em comum com outros viventes, mas nada que se imponha 1. como novo e 2. como normal. A própria ideia de 'normal' já é desconstruída largamente por aí, na literatura de O Alienista, do sempre incrível Machado de Assis e em muitos estudos sobre saúde mental. Com isso, vamos parar com essa generalização, essa imposição da norma - aí sim, a origem do normal - como se tivéssemos que seguir uma cartilha que identificasse o que é novo e velho normal. Nada é normal. Aliás, nem o nada é normal.

Depois de vir aqui provocar, conto que a vida anda corrida. Muita coisa pra resolver de mudança e adaptação a Salvador, à pandemia e ao retorno de alguns hábitos. À vontade sempre crescente de encontrar os amigos, ao medo da doença e de seu espalhamento. Situações e imprevistos familiares, projetos empolgantes e até uma novidade que vou trazer aqui quando estiver mais ou menos pronta. Estou disposta a mais uma mudança porque, mesmo nesses tempos de suposta estagnação - taí um ano que está sendo diferente de qualquer outro - seguimos adiante. 

novo-normal

Já fui à praia, entrei no mar e agradeci. Por estar viva e com saúde. Por estar em Salvador, por ter a família perto e os amigos também - na distância de um aperto de mão ou aceno - ou ali, no fio do telefone, na tela do celular. Sou muito grata - sem essa agonia sem sal de #gratidão - em ter os amigos que conquistei. E esse ano, um desafio daqueles, tão difícil e doloroso algumas vezes, tem sido também tão feliz em ver novas vidas surgindo, amores crescendo e se multiplicando. Só aceito o novo normal se ele significar mais amor compartilhado, empatia e cuidado com o outro. O resto é propaganda pra vender jornal e marketing para vender coisa.

Mas, talvez eu esteja errada. O que você acha do novo normal? É novo? Normal? Me conta um pouco da sua adaptação, de como anda a vida do seu lado.

Para contribuir com esse blog maravilhoso e torná-lo permanente e atualizado com frequência, me chama para um cafezinho? =)
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Hoje é 8 de outubro, dia do nordestino. A bem da verdade, descobri isso só ontem, enquanto escrevia uma peça de trabalho sobre a data. Nordestina fuleira, meus conterrâneos diriam. A vida anda corrida, mas, hoje deu tempo de vir aqui conversar um pouquinho sobre o assunto.

8 de outubro, dia do nordestino.

A data surgiu em São Paulo, em homenagem ao poeta cearense Patativa do Assaré e a Catulo da Paixão Cearense, o compositor da maravilhosa Luar do Sertão, que Gonzagão imortalizou. Pelo que pesquisei, há indícios de que a data da celebração teria mudado para 02 de agosto, puxando sardinha para Luiz Gonzaga em seu dia de nascimento. Mas, o que importa mesmo, é saber que ser nordestino é... incrível.

Não sou muito bairrista, mas venho de Salvador e pouca gente desgosta da cidade. O pai de uma ex-colega de trabalho é uma dessas pessoas e ela mesma justifica, dizendo que ele não teria tido a impressão correta. O fato é que, não apenas os soteropolitanos, como os baianos e os nordestinos costumam ser calorosos e receptivos a seus visitantes, amigos e familiares. É de onde vem o calor humano, a intimidade que se pega no ar, o 'vem cá tomar um café comigo' e até mesmo, o 'passa lá em casa' honesto, real e sincero.

patativa-do-assaré-
O poeta cearense Patativa do Assaré
Mas, nem tudo são flores e toda a nossa pobreza também é uma marca indelével. A região, com toda a sua riqueza cultural e natural, carece de recursos e atenção politica em quase todas as esferas e a conta chega. Fome, seca, miséria, analfabetismo. A situação está um pouquinho melhor do que há 15 anos, mas ainda se encontra muito disso, além de um grande e estranho preconceito de uns e outros com nossa terra e com quem vem dela.

Já tratei disso aqui nas eleições de Dilma, já fomos taxados de ignorantes e isso retornou nas eleições do seu presidente Jair Bolsonaro (meu mesmo não é), quando a região foi a de menor receptividade ao 'capitão'. Mas, não se encerra aí, no Rio de Janeiro, há "paraíbas e baianos" para representar os nove estados. Em São Paulo, a 'baianada' é a bandalha, a 'roubadinha' que você dá no trânsito, como se fôssemos imprestáveis motoristas ou como sinônimo de coisa errada. Não me importo tanto com isso, mas há quem se incomode e nós, até onde eu sei, não perdemos muito tempo falando de quem a gente não conhece.

foto de Luiz Gonzaga para o dia do nordestino.
Outro grande mestre, Luiz Gonzaga
Eu quero é saber mais do meu nordeste, conhecer este mundo de cidades e espaços que ainda não visitei, repetir os encontros naqueles que fui e me encantei. A Bahia sozinha, meu quadrado, já é maravilhosa o suficiente, mas sei que há muito mais pra ver e comer. E ouvir e dançar. E nadar e escalar. E conversar e amar. Porque é isso, tem tudo aqui, gente. 

O nordeste é terra de aracajé, carne de sertão, cuscuz, canjica, mugunzá, moqueca, pirão, cozido, quiabada, cocada e caruru. Tem fruta que só tem aqui (a região Norte também está de parabéns nesse aspecto), tem coco verde baratinho para beber e comer a carne. Tem o maior litoral do país e de águas quentinhas e maravilhosas. Tem verão o ano inteiro e aqui em Salvador, inverno é frente fria de 23 graus.

É terra de tanta gente boa, que vou fazer uma lista curta, só para deixar na vontade: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Amado, Patativa do Assaré e Gonzagão, Maria Bethânia e Daniela Mercury, Tom Zé, Alceu Valença, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Glauber Rocha, Geraldo Azevedo, Belchior. É muita gente mesmo, mas é melhor parar por aqui, porque senão fica chato de ler. 

salvador-bahia
É terra de muito trabalho, mas tem água de coco para matar a sede
Eu não sei dessa história de dia do nordestino. Entendo que a homenagem vem de São Paulo, porque é a capital que tem mais nordestino fora da região, mas não sei se precisamos da data, na verdade. Acho que a cultura popular é forte e viva e não precisa deste compromisso fixo, como se fôssemos uma espécie diferente daquelas das demais regiões. A menos que exista o dia do nortista, do sudestino, do sulista etc. Se alguém descobrir isso, me avisa. 

Que o nordeste é terra viva, de gente retada e batalhadora, não é novidade. Que respondemos por parte da cultura e diversidade nacionais, também é falar o óbvio. Que temos uma culinária vasta e específica por cidades e estados, só vindo para conhecer e se certificar. Que somos incríveis e sinceros - posso falar por mim e por meus amigos, sim. Mas também, tem gente bizarra em tudo quanto é canto e queria eu dizer que não tem aqui. O nordeste é o coração do Brasil e não acredito que precisemos de um aniversário para confirmar isso, só precisamos que deem atenção econômica real e respeitem nosso povo e natureza. O resto é história.

E você, o que acha desta data? Compra a ideia de comemorar o dia do nordestino? Me conta! E, para me ajudar a manter este espaço vivo e crítico, me convida para um café? Ah! Não achei Luar do Sertão, mas encontrei essa coisa linda, para trazer um pouco de música para esse blog maravilhoso <3 



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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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