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Café: extra-forte

Chegamos ao final da série 1899, cujo início comentei no post anterior. Agora, além de falar sobre a produção, surgiu uma polêmica para discutirmos: a denúncia de um suposto plágio da obra de uma autora brasileira, Mary Cagnin, que escreveu Black Silence, um quadrinho que apresenta similaridades com a produção da Netflix. E sim, parece improvável, mas não é impossível de acontecer.

poster-1899-netflix

Antes de entrarmos na polêmica, vamos por partes. A série de fato é muito boa. A ideia aqui não é trazer spoilers, mas dar uma ideia do todo, respondendo à pergunta de sempre: vale a pena assistir? Sim, vale. A série é menos sombria do que Dark, o roteiro tem algumas barrigas - cenas que poderiam ser encurtadas, momentos da narrativa que alongam os episódios e não são fundamentais - mas, suas reviravoltas a partir do 4 episódio são interessantes. Quem não leu nada sobre a série (recomendo que siga assim), não consegue vislumbrar, no início, o final que esta temporada terá. 

É interessante ver a construção narrativa e entender como os criadores conseguiram esticar a trama para o alcance e transformação que tem. A partir de um ponto, eu comecei a visualizar parte da ideia final da obra, sem saber ainda como seria sua conclusão e, de uma maneira, ela me lembrou Westworld. Esse é o máximo de informações que darei para garantir a surpresa do espectador. 

Para além dos spoilers, é muito bacana perceber que, como na série anterior dos mesmos criadores, aqui há também muito simbolismo. É parte da graça da série quebrarmos a cabeça para entender ou nos anteciparmos sobre os destinos dos personagens. Então trago alguns, como a pirâmide, um elemento histórico e místico importante para nossa história mundial, cuja função é dar morada 'eterna' aos antigos faraós do Egito. Em seguida, os nomes dos navios: Prometeus e Cérbero, dois personagens importantes da mitologia grega. O primeiro roubou o fogo divino para dar aos humanos e, como castigo também divino, foi amarrado a uma pedra, e todos os dias uma águia comia seu fígado, que se regenerava para um novo ataque no dia seguinte por toda a eternidade. O segundo, Cérbero, um enorme cão de 3 cabeças que guarda a entrada do reino de Hades, o reino dos mortos, de onde nenhuma alma sai e os vivos que ali adentram, são despedaçados em seguida. Além disso, tem essa entrada de sonhos / realidades paralelas, que se remete tanto à física dos buracos de minhoca quanto às interpretações de sonhos da psicanálise - ou seja - tem muita diversão para quem gosta de enigmas de todo tipo.

O enorme e ótimo elenco de 1899
O fato é: os atores e a trama se sustentam até o fim, mas eu esperava - e isso é pessoal - que fossem aparecer mais referências ao século XIX como pontuei no texto anterior. É o penúltimo ano do século, de um século com tantas transformações em diversas áreas. 1899 funciona mais como um cenário do que como um motivo real para o ser título da obra. Pelo menos, nesta primeira temporada é o que dá a entender. Caso encontrem outros motivos que tragam mais relevância ao ano na série, mandem pra mim por aqui ou no instagram do Café: extra-forte pra gente discutir.

Agora sim, falaremos sobre o plágio. O mundo recebeu com surpresa a afirmação da autora brasileira Mary Cagnin em sua conta no twitter, acusando os criadores de 1899 de plágio. O plágio, como sabemos, é a reprodução total ou parcial de um conteúdo produzido de uma pessoa por outra sem sua autorização e/ou conhecimento. Ela afirma que há na série vários elementos e ideias iguais ou muito similares aos de sua criação, citando a pirâmide, escritas em código e outros. 

mary-cagnin-black-silence
Mary Cagnin
Acabei de ler Black Silence - a autora disponibilizou a obra para o público, objeto do suposto plágio - vou indicar sempre que é suposto porque não é da minha competência dar esse atestado - e os elementos que ela cita, em parte, estão lá mesmo. Não sabemos se é uma estranha coincidência (pirâmides são referências muito usadas em ficção científica, assim como escritas em código), como também vale afirmar que as narrativas das duas obras são bem diferentes. O roteirista e criador da série, Baran Bo Odar se manifestou, indicando a impossibilidade do plágio em sua conta no instagram e disse ter tentado contato com a autora brasileira para que se entendessem.

A polêmica funcionou como um chamariz para as duas obras, que agora entrarão com mais uma camada no crivo do público, que se tornará o avaliador da suposta cópia. Cabe aos advogados especializados em direitos autorais essa matemática sensível, mas, da forma como foi posta a questão, me pareceu que o plágio seria mais escancarado, como o de estudantes que copiam textos de mestres, e identificamos logo de cara o problema. No caso da série e do quadrinho, alguns elementos estão lá, mas as histórias me pareceram bastante distintas de forma geral, tanto que não sei se cabe a ação. Mas, como disse anteriormente, é deixar com os especialistas.

comparações entre a série 1899 e o quadrinho Black Silence.
1899 à esquerda, Black Silence à direita.
De todo jeito, vamos aguardar o provável e ótimo retorno financeiro desta primeira temporada de 1899, aquecido não apenas pela qualidade da obra, como pela polêmica que se fez em torno dela. Casos assim acabam servindo à curiosidade do público, que quer ser parte da trama, nem que seja apenas por conhecimento, para a boa conversa na mesa do bar ou tomando um café. Acho que o plágio é uma realidade em qualquer meio e, neste caso específico, há muitas nuances a avaliar antes de se atestar algo tão grave. A série segue valendo a pena, a temporada de debates está aberta e quem quiser falar sobre simbolismos, sobre as qualidades e defeitos da obra, expectativas e interpretações com e sem spoilers, estou por aqui com meu café quentinho, esperando a visita. :)

***

O Café está em constante e parcimoniosa atualização. Em breve, volto com novidades. Para contribuir e deixar este lugar ainda mais aconchegante, dá uma passada no buy me a coffee. Por muito pouco, se faz muita diferença ;)
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A nova série da Netflix, 1899, mostra já nos primeiros minutos ao que veio. Com uma construção minuciosa como a que vimos em Dark, estabelece de cara o clima do que estaremos a ver, assim como um universo à parte, que nos é, simultaneamente, estranho e familiar.

1899-netflix-serie

Quando o espectador assiste uma produção audiovisual, nem sempre se atenta à enormidade que é a transmutação de texto em imagem. Ao escrever isso, vem à mente aquela frase clássica da fotografia, de que ela vale mais do que mil palavras. No caso da construção cinematográfica, é mais realista dizer que para uma imagem - cena - se construir, precisa-se de muito mais do que mil palavras.

1899 faz isso em sua abertura. Com uma voz off (onde o narrador não aparece), vemos imagens sombrias e belas de natureza poderosa, céu e mar. A sinopse conta que esta é a história de passageiros de diferentes nacionalidades em um navio que segue da Europa para os Estados Unidos. No meio da viagem, se deparam com sinais de que outro navio, desaparecido meses atrás, está próximo e vão ao seu resgate. No texto narrado, como em um dos temas de Dark, falamos do elemento humano e da crença na ciência, sobrepondo o cérebro (pensamento e razão) à imensidão e (in)finitude do universo (mistério e caos). Na sequência, encontramos a protagonista: uma neurologista que fez algum tipo de tratamento de saúde mental à revelia antes do embarque, uma mulher de ciência que já foi tida como louca. Voltando aos minutos iniciais, o som é um elemento à parte, tão ou mais espetacular do que as imagens que absorvemos com sofreguidão: a combinação de efeitos sonoros com a qualidade da voz e da trilha, insere a tensão que descortinaremos em breve. Mais uma vez lembraremos de Dark, a série que traz a angústia como ponto forte, imensamente trabalhada no som e na fotografia. Mas, por que fazer desta forma?

poster 1899, nova série netflix.

Em 1899, nada é gratuito. A construção visual e sonora é preconizada lá atrás, nas palavras do roteiro. Ali, se visualiza a tensão, com indicações precisas sobre o que veremos e ouviremos, assim como suas metáforas. O cinema é um trabalho de criação artística coletiva e o que houver de indicações em texto, será compartilhado com as equipes que trarão ainda mais elementos criativos, darão profundidade e uma forma concreta ao que o roteirista pressupôs inicialmente. Esse conjunto de ideias se traduz em uma 'criação de clima' que suporta o universo inventado, elementos que dão contexto e plausibilidade à história que assistiremos. E nisso, os criadores de Dark, os mesmos de 1899 - por isso as menções acima - são brilhantes.

O que mais impressiona, e estamos no início da série, é a construção desse mundo e a forma como ela nos convida, imediatamente, a fazer parte dele. O mistério é a chave mestra, o clima sombrio, as apresentações de personagens dando a entender que cada um traz um problema, a adaptação de época com questões sobre medicina, filosofia, gênero e comportamento, e essa indicação, mais uma vez, de se tratar de algo que descobriremos juntos: espectadores e personagens. Em menos de meia hora do primeiro episódio, conhecemos os principais envolvidos na trama, figuras diversas e misteriosas que farão um amálgama das relações humanas dentro de um universo particular - um navio - e fantástico - o mistério do navio afundado, considerando o chamariz do sobrenatural versus a ciência, como a medicina do cérebro (que fatalmente se mostrará como um novo mistério, a mente humana) em uma protagonista desacreditada. É muita informação para pouco tempo de história, mas tudo parece fazer sentido e embarcamos nessa jornada com facilidade e questões em aberto à espera de solução.

elenco principal de 1899, série da netflix

Vamos seguir adiante com 1899, esperando desdobramentos interessantes, suspense, personagens complexos e mistérios para solucionarmos, como os grandes filmes e séries. Pensando que a série se passa no finzinho do século XIX, vale relembrar o que acontecia na época e como as revoluções em todas as áreas do conhecimento podem se fazer presentes aqui, de Darwin a Freud, de Pasteur a Dostoiévski, Marie Curie e Van Gogh, da evolução da fotografia e do nascimento do cinema. É uma produção para todos assistirem (exceto menores de 16 anos) e perceberem a riqueza de uma construção cinematográfica excepcional em muitos sentidos. Pelo menos, até agora. 

No avançar da série, volto aqui para falarmos mais sobre ela.  
Aguardem cenas dos próximos capítulos. =)

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Faz tempo que não venho indicar filmes e séries para assistir. Talvez por ter esses conteúdos mais perto por conta do trabalho, a percepção é a de que há muito do mesmo, muito barulho por nada, muita massificação de conteúdo. E, para piorar, todos os streamings buscam basicamente os mesmos gêneros e formatos para novas produções. É difícil.


Mas sempre há, no meio do ruído, uma brecha, um som especial. E essa nota particular encontrei em Landscapers, exibida pela HBO Max. Deixando claro, estou no terceiro episódio, mas a série inglesa baseada em fatos reais e protagonizada por Olivia Colman e David Thewlis é brilhante.

O tranquilo, ingênuo e excêntrico casal Edwards é acusado de assassinar os pais abusivos de Susan, a esposa, mais de uma década atrás. O casal, agora na França, assume tê-los enterrado no próprio quintal, como uma forma de cuidado. A polícia inglesa os encontra após uma denúncia e eles retornam à Londres, se entregando para as diligências. Com um humor peculiar entre a inteligência dos gestos, a morbidez dos atos não assumidos e personagens milimetricamente construídos para o deleite do próprio elenco e do público, não há como não se encantar. É viciante.

Olivia Colman | Landscapers

O roteiro flerta com o teatro em cenários de luzes exageradas como se eles próprios fossem personagens, marcando flashbacks, fantasias e o tempo presente, também com projeções de vídeos e filmes ao fundo. A direção de arte e cena criam um clima tão curioso, que pensamos menos no crime e mais em como estão contando aquela história… ou qualquer história. O elenco é estelar; além do casal conhecido, temos Kate O’Flynn (Brexit, Wonderlust, Bridget Jones) e Samuel Anderson (Lady in the van, Loaded, Football Monologues) como detetives cobrindo o caso.

A HBO acertou em cheio ao trazer essa produção da Sky Atlantic para o mercado internacional. Novamente, se trata de um dos gêneros mais consumidos e produzidos no mundo, o de crime verdadeiro, que transita entre ficção e documentário nos dois formatos (filmes e séries), alimentando a curiosidade mórbida e ávida de seus espectadores. Todos os streamings têm produções do gênero aos montes, mas poucas são realmente interessantes. Aqui, a série ficcional traz ainda ao fim de cada episódio, reportagens da época cobrindo com verdade jornalística os atos criminosos de uma família disfuncional.

Samuel Anderson e Kate O'Flynn | Landscapers

Não espere encontrar uma série de crime comum com uma investigação padrão como as que conhecemos. As reconstituições são brilhantes e até as participações curtas do elenco de apoio são muito bem feitas. Também não espere gargalhadas, o humor entra na estranheza dos detalhes, nas interpretações impressionantes de Colman e Thewlis, principalmente, e nas ironias de olhares e diálogos. Tudo se equilibra bem, numa educação inglesa como as que vemos nos cinemas, da hipocrisia escancarada, da educação dos gestos discretos até, provavelmente, a explosão dos acontecimentos e possíveis surtos dos nossos heróis à medida que a trama agudiza.

Fico me perguntando se não está na hora das séries irem para a grande tela. A fotografia, a escolha dos planos, tudo aqui parece feito para os cinemas, inclusive a liberdade criativa na forma como contam a história, mesclando a fantasia que há em nossos protagonistas ao que seriam os fatos à luz do dia, o crime, os possíveis desfechos. É o retorno da ilusão que esperamos e precisamos encontrar quando entramos na sala escura, a experiência de viver aqueles minutos em suspensão e ter o deleite de conhecer uma história bem contada. Landscapers, tem tudo isso com a força de uma história verdadeira. Pra quem quer ver algo diferente, a série é, com certeza, uma boa aposta.

David Thewlis | Landscapers

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Na primeira crítica do ano, vamos com um assunto que parece batido e velho, mas que está todos os dias diante de nós: a humilhação pública. Conhecida como cultura do cancelamento, o tema do documentário 15 minutes of shame da HboMax, tem tudo a ver com o nosso cotidiano, com empatia, ignorância e respeito. Produzido por quem sabe muito sobre o assunto, Monica Lewinski.

15 minutes of shame, hbo max
O diretor Max Joseph e sua produtora, Monica Lewinski

Quando vivemos um período de crise, de forma geral, somos tomados por emoções e acabamos tomando decisões precipitadas. Parte delas são julgamentos sobre pessoas e fatos com base nas informações que recebemos em qualquer meio: julgamos por uma decisão errada, uma frase equivocada, uma ação precipitada, uma foto – como as que nós mesmos podemos tomar ou produzir a qualquer momento. O que nos diferencia de quem comete o erro? A fama, o dinheiro? Às vezes, quase nada, apenas a sorte de não estarmos sob os holofotes.

O documentário traz uma premissa que vale o filme inteiro: a ideia de que não sabemos a história de cada um e julgamos pelo que achamos ser verdade, baseado em nossos parâmetros subjetivos e no que a mídia diz, o que quase nunca significa a mesma coisa.

Além disso, o filme traz um panorama histórico e explicativo sobre a cultura do cancelamento com exemplos em todo o mundo. Comprovamos que o que vivemos é a repetição de um comportamento social antigo e, nem por isso, correto. Os ditames morais de cada período reforçam a prática e, em 2022, os apedrejamentos e banimentos continuam como os de séculos atrás, literal, metafórica e virtualmente. A evolução do desfile da vergonha em praça pública se tornou a fofoca de tabloides com os papparazzis atrás de novidades perniciosas sobre famosos décadas atrás. Hoje, com as tecnologias disponíveis, estes famosos são qualquer um: influencers, tiktokers, instagrammers, youtubers, subcelebridades, BBBs, podcasters, quando não um cidadão comum flagrado em uma situação delicada.

15 minutes of shame, hbo max
Na tradução: 15 minutos de vergonha

Fico me perguntando se o sucesso dos reality shows também não se trata disso, do nosso desejo em julgar o outro e ter ali um programa de TV “realista” que oferece esta possibilidade com pessoas interpretando a si mesmas. Lembremos dos atores de novelas que personificavam heróis e vilões e eram abordados na vida real, recebendo elogios e degradações públicas por uma obra ficcional. Hoje, a ficção não é suficiente. Os realities substituíram a fantasia se fantasiando, eles mesmos, de verdade. Sentados nos sofás das nossas salas de estar, somos os juízes detentores da moral e bons costumes do mundo e distinguimos os dignos de nosso apreço dos que merecem a execração pública. O que não podemos esquecer é: tudo isso é planejado. A humilhação e o banimento dos séculos XX e XXI são uma forma de fazer dinheiro pautada na opinião pública, conduzida através da apresentação de seus personagens e histórias na TV e nos algoritmos online. Nada é por acaso.

No filme, escutamos os especialistas de diversas áreas que trazem reflexões e aprofundam o tema, como a neurocientista que conta como nosso cérebro percebe um indivíduo, indicando que para isso, não basta ter conhecimento sobre ele, é preciso perceber suas emoções e ver seu rosto, conhecer suas expressões. Em tempos de internet, isso se torna supérfluo, especialmente no twitter, o que dá mais poder e menos inteligência às nossas verborragias sobre alguém que, em nosso subconsciente, sequer é entendido como humano. Outra pesquisadora traz a informação de que nosso cérebro libera dopamina ao descobrirmos que um malfeitor foi condenado por seus atos. Partindo disso, fica fácil relembrar tanto a força justa dos movimentos sociais que explodiram na internet da última década em busca de justiça, quanto quando achamos que um indivíduo fez algo errado e foi condenado em nossa praça pública virtual. É a mesma satisfação, mas não pelas mesmas razões. É Tiffany Watt Smith quem estuda o assunto e vai além, falando sobre o prazer que sentimos sobre, com o perdão da palavra, a desgraça alheia.

O filme é interessante e, mesmo tentando abarcar todas as possibilidades de vergonha pública sem necessidade, segue bem, nos fazendo pensar em nossos comportamentos, reações online e no mundo real, e em como somos manipulados todos os dias. É um filme que conversa bastante com O Dilema das Redes e Cidadão Quatro. Produções importantes para pensarmos no conteúdo que produzimos, na atenção que damos ao que nos chega online, em como somos vigiados, no que consumimos virtualmente e como isso nos afeta, nos faz construir linhas de pensamento que se retroalimentam, muitas vezes, alheios à nossa consciência. Somos inundados por uma gama de informações programadas com o objetivo de consolidar opiniões e promover engajamento, gerando lucro para quem as produz. Neste jogo, só nos resta sangue frio e um olhar mais atento ao que nos chega, com o cuidado de promover um engajamento pautado no cuidado e respeito ao outro além, claro, da veracidade do que absorvemos e propagamos. Saímos do documentário com uma reflexão sobre quem somos nestes tempos de manipulação cibernética de forma leve, atenta e com exemplos claros de pessoas que, possivelmente, nós também julgamos quando suas histórias foram à público. Estes são os pouco mais de 15 minutos de vergonha que valem o ingresso.

***

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A família Richthofen (da ficção)

Partindo de um crime que abalou o Brasil, a Amazon Prime Video aposta em um lançamento nacional duplo: A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais, dois pontos de vista da mesma história, nenhum deles verdadeiro. 

Tratar de verdade em uma narrativa ficcional é um tema polêmico. Tratar da verdade em 2021, não apenas abarca o mesmo adjetivo, como o torna controverso. A verdade anda cara em nossos dias. As fake news não são a novidade do século, mas tornaram-se mais perniciosas, preocupantes e moldaram muito do comportamento, política e economia de grandes nações nos últimos anos. O assunto é tão sério, que há novos estudos sobre o tema, também por força do avanço das redes sociais e seus impactos nos mais jovens.


Filme A menina que matou os pais, Amazon Prime Video

No Brasil, estamos familiarizados com a desinformação. Dentro da casa de cada brasileiro há uma ou mais pessoas que ouvem apenas um lado da história e acreditam que é esta a verdade dos fatos. Muitas vezes, sem sequer conhecer os fatos. Muitas vezes, sequer sabem se os fatos realmente os são. Em uma trajetória de informações distorcidas e falsas, sobre muito do que nos cerca, somos encaminhados através dos algoritmos por uma narrativa que vai se firmando e se pretendendo real. Em estudos de comunicação se dizia que se virou notícia, é real. Com tantos mecanismos de propagação de ideias e histórias, com a pseudo democracia da informação na internet, como fica essa afirmativa nos dias de hoje?

Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos
cartaz dos dois filmes sobre o caso Richthofen

O menino que matou meus pais e A menina que matou os pais se encaixam perfeitamente neste momento. Os filmes abrem com a informação de que são uma narrativa ficcional baseada em fatos reais, em especial, nos depoimentos dos principais assassinos, Daniel Cravinhos e Suzane Von Richthofen. Com essa premissa, é preciso estar atento e forte: nada do que for contado ali é, realmente, digno de crédito.

Como Elize Matsunaga, o caso Eloá, Eliza Samudio, o Maníaco do Parque e Daniela Perez, este é mais um caso que tomou o país. Suzane e Daniel planejaram e assassinaram os pais dela enquanto dormiam em sua casa. A intenção era viver sem eles, aproveitando a boa situação econômica da família. Quando chegamos aos depoimentos e investigações da época, o que sabemos é deste jogo de culpa, quando o casal rompe em uma troca de acusações. De vítimas, ficaram os pais mortos e o irmão de Suzane, Andreas, que carrega um passado e presente trágicos.

Imagens dos filmes A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais
Allan Souza Lima (Cristian Cravinhos), Carla Diaz (Suzane von Richthofen) e Leonardo Bittencourt (Daniel Cravinhos)

Entretanto, a curiosidade sobre grandes crimes é parte do que nos torna humanos. Talvez menos pela morbidez dos atos, mas por uma busca de compreensão, de entender se há alguma justiça nos crimes cometidos ou se é, apenas maldade, perversão, violência gratuita. Neste percurso, de nada os filmes nos servem. Juntos, eles são um jogo narrativo de inversão de papeis a partir do discurso dos depoimentos dos réus. Os vilões, responsáveis pelo crime, se alternam nos filmes e é apenas isso o que vemos.

Talvez o que mais decepcione seja justamente isso: os autores decidiram não contar as histórias que desejávamos tanto conhecer. Esta escolha de jogo de cena seria interessante como uma alternativa, algo como o que vemos em Corra Lola, Corra (Tom Tykwer, 1998). Ali, em um único filme de ficção, há diferentes pontos de vista para uma mesma história, nos dando um panorama mais completo do que estamos a conhecer. Nesta obra escrita por Raphael Montes e Ilana Casoy, e dirigida por Maurício Eça, deixamos escapar a veracidade dos fatos, a única coisa que realmente importa em uma história de crime verdadeiro. Em tempo: é importante ressaltar o respeito pelas escolhas da produção. Só é uma pena que se perca a oportunidade de abordar o entorno do crime, os julgamentos de fato, as histórias um pouco mais próximas da realidade.

Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos
Daniel Cravinhos e Suzane Von Richthofen

Ao sair dos filmes, ficamos com as mesmas questões com que entramos: o que de fato aconteceu? Por que aconteceu? O que fez com que eles saíssem de vítimas colaterais a suspeitos e então condenados pelos crimes? Por que não sabemos nada sobre as investigações? O que aconteceu a Andreas? Ao colocarem as famílias de classe média e classe alta em oposição, a única coisa que sabemos é sobre a polarização de velhas ideias e preconceitos, punindo não apenas os criminosos, mas suas classes e dando a entender que o interesse motivador do crime não partiu apenas de Daniel - no caso de O menino que matou meus pais - mas de toda sua família. Na versão que se quer oposta, se diz: a pobre menina rica não aguentou a pressão preconceituosa de seus familiares e, por não ligar para dinheiro (apenas porque o tinha em profusão), arquitetou sua solução final com o extermínio dos pais para viver melhor.

Talvez, de positivo, saiamos com a percepção de que ainda não encontramos uma boa forma de contar esta história, abrindo margem para novas produções, já que ainda há muito o que conhecer e encontramos um público ávido e receptivo à produção nacional. Com tantos streamings investindo em conteúdo brasileiro, esperamos o aquecimento do mercado audiovisual como uma nova retomada de produções no pós-pandemia, esta última que promete acabar ano que vem. Se isso tudo for verdade.

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Este é o segundo dia das mães que passamos na pandemia. Alguns não têm acesso direto às suas mães por conta do isolamento e lhes resta, com isso, uma ligação, um carinho enviado à distância e com muita saudade. Então, trago dicas, tentando ajudar nestes encontros, da forma que der.

dicas do que fazer, assistir, ler, no dia das mães. para você e sua mãe. dicas de como preparar um dia das mães incrível

Fiquei pensando em uma imagem que trouxesse um pouco as minhas ideias e comecei buscando famílias, fotos de mães, mas interrompi este fluxo, da mesma forma que não queria listar, ainda que perca um pouco do público, 10 filmes para ver com sua mãe. Se colocar no google, verá, provavelmente, uns 40 sites fazendo isso. Queria algo que nos aproximasse mais, que trouxesse um pouco de ternura, porque mãe é isso: amor incondicional e ternura.

Assim, encontrei flores. Acho que dar flores é um ato de ternura. É de amor e carinho, claro, mas a ternura acho que traz uma gentileza junto, ternura é ato, mais do que sentimento pra mim. Então, vamos lá. Pensei em formas que se traduzam nesta gentileza, no afago, no abraço que queremos dar em nossas mães, independentemente das circunstâncias. Querer é tudo o que temos. Segue a lista!


Envie uma carta

Quando eu morava no Rio, minha mãe me enviou umas duas ou três cartas. Era uma forma que ela havia encontrado para falar das coisas do coração. Eu sei, quase ninguém recebe cartas que não sejam contas ou propaganda e, por isso, acho que seria uma grande novidade. Também troquei cartas com uma amiga que mora na Europa e é uma experiência. Nos sentimos um pouco como os escritores dos séculos passados, trocando correspondências, aguardando e trabalhando a ansiedade do correio. É, aliás, uma forma saudável de lidar com este sentimento. Se puder, envie uma carta para sua mãe. Custa muito pouco e você pode expressar nas suas palavras o quanto ela é importante para você, pode contar uma história, uma piada, falar da vida. A carta íntima dá uma liberdade incrível, e receber uma, é delicioso. É a certeza de que aquela pessoa se interessa por nós. De repente, some à carta, umas pétalas de flor, imagina a surpresa dela ao abrir?


Envie uma cesta de café da manhã

Se estiver com um pouquinho de grana, não precisa muita, envie uma cesta de café da manhã. Eu amo cafés da manhã. Acho que é aquele momento em que o dia está começando e há uma promessa de coisa boa no ar. Imagine sua mãe acordando com a campainha e aquele carinho em forma de comidinhas especiais esperando por ela? Com sorte, alguém até acordou antes dela e deixou em cima da mesa aquele embrulho grande e cheio de quitutes. Com certeza, será memorável para todos. Eu acho uma delícia de presente, literalmente. 


Assistam a um filme juntos

Vou passar uma lista de filmes para ver no dias das mães, mas a ideia é ir além. Se você tiver a sorte de encontrar com sua mãe em segurança, se vocês estiverem no mesmo isolamento social, vale assistir  juntos, alguma coisa que ela vai gostar. Pode até ser sobre maternidade... minha mãe, particularmente, adora a temática. Se não puderem ver juntos, combinem de ver o mesmo filme à distância e depois se liguem. O que importa, no fim das contas, é a cumplicidade e compartilhar momentos, certo? Segue uma lista com filmes filmes e séries para ver no dia das mães:

filme um inverno em nova york (the kindness of strangers). dica para o dia das mães 2021.

Um inverno em Nova York

Um inverno em Nova York significa mais em seu título original: The kindness of strangers. A trama é sobre esta mãe que foge para Nova York com os filhos. Enquanto o marido abusivo é policial e procura por ela, ela segue no amparo de estranhos, por sorte e encontrando essa gentileza do título, o cuidado de pessoas que cruzam o seu caminho. É um drama bonito, com personagens complexos e que quase se desenrola rápido demais. Dá vontade de seguir acompanhando aqueles personagens por mais tempo. Na netflix.

Que horas ela volta?

O filme conta a história de Val (Regina Casé), uma empregada doméstica pernambucana que trabalha para uma família de classe alta em São Paulo. Há anos no serviço, Val mora onde trabalha, recebe a notícia de que sua filha Jéssica (Camila Márdila) irá à cidade prestar o vestibular e sua chegada rompe com o equilíbrio da casa. O filme promove um retrato fiel não apenas da classe alta, como um recorte amplificado das diferenças sociais e a delicada relação entre família, patrão e empregado. Para saber mais sobre porque ver este filme, clique aqui! No telecine play.

Fatma

Esta série recém-lançada traz muito para nós. A produção é turca e se passa em Istambul. Fatma é uma faxineira que busca desesperadamente por seu marido, desaparecido após sair da prisão. Ele cumpriu pena em lugar de outra pessoa e sua integridade é o que faz Fatma percorrer este purgatório para dizer a ele que seu filho morreu. Como faxineira, Fatma é invisível nos círculos que habita, como serviçal, passa despercebida nos lugares, o que acaba por se tornar uma vantagem, quando ela vem a cometer alguns crimes por raiva e vingança. Assisti a série toda de uma só vez, como não faço há muito tempo. Cada episódio constrói um degrau de conhecimento dela sobre seu marido, sua situação e quem são as pessoas que estão ao seu redor. Intrigante, excepcional e com grandes atuações. Na netflix.

Supermães (workin moms) é uma dica de série do que assistir no dia das mães.

Supermães

Esta série canadense sobre jovens mães traz um grupo de apoio de mães, em que cada uma precisa lidar com uma rotina atribulada entre família, trabalho, relacionamentos e individualidade. Humor ácido, grandes diálogos e muita vida real. Sendo ou não mãe, sendo ou não mulher, tem pra todo mundo. Catherine Reitman é Kate Foster a protagonista. Ela é também a criadora e roteirista, além de ser mãe, de forma que sabe do que está falando. Uma curiosidade bacana é que Philip Sternberg, o marido de Kate Foster é casado na vida real com Catherine. Não suficiente tudo o que a mulher faz, ela ainda foi ao Tedx Talks. Segue link com a palestra em português. Na netflix.

Kramer vs Kramer

Ano passado, em homenagem ao dia das mães, eu compartilhei a lista de filmes de minha mãe. Ali, há vários filmes que eu e ela (mais ainda) amamos. Um deles é Kramer vs Kramer que, sempre vi e sempre verei. Conto um pouco o porquê: Dustin Hoffman e Meryl Streep. Encontramos este casal em crise. Joanna Kramer decide sair de casa e deixa Ted Kramer com a tarefa de conciliar o trabalho, a vida doméstica e a educação do filho ainda criança. O filme joga com essa relação homem x mulher, poderes e deveres, relações machistas e readaptação. É muito mais complexo do que um drama de divórcio e muito mais interessante também. É um dos melhores filmes feitos e é muito despretensioso, o que o torna mais especial. E convenhamos: Meryl Streep e Dustin Hoffman juntos não poderiam fazer um filme ruim. Levou os principais prêmios do Oscar de 1980 e está no google play e na apple tv.


Um livro para o dia das mães

Eu mesma me coloquei nessa enrascada... um livro apenas... vou trazer então dois, para equilibrar nos pesos, sentimentos e diferenças. O primeiro é o que li no início deste ano.

um defeito de cor e o amor é fogo. duas dicas de livros para o dia das mães.

Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves
Aqui, temos a saga de uma criança que sai da África para ser adulta, mulher e viver no Brasil. Em Salvador. Isso no que poderia ser o fim da escravidão mas era, ainda, o início dos movimentos abolicionistas. O livro é uma saga. É para ler com calma, é extenso. No meu caso, funcionou como uma série. Não senti dificuldade em maratonar suas mais de novecentas páginas e, mesmo parecendo um desafio quando comecei, li vorazmente. Dei uma olhada nos outros leitores blogueiros e, para a minha felicidade, tivemos impressões semelhantes. O livro é bem escrito, conta por uma perspectiva interessante a história de uma mulher que constrói sua vida com todas as adversidade possíveis. A pesquisa, com certeza, deve ter sido imensa, para dar conta dos detalhes culturais históricos entre os países. Dê para a sua mãe se ela tiver o hábito da leitura. Se não tiver, segue outra dica para ajudar a construí-lo:

O Amor é Fogo, de Nora Ephron

O livro virou o filme A difícil arte de amar. Novamente com Meryl Streep contracenando agora com Jack Nicholson, conta um período da vida da própria autora. Meio autobiográfico, meio romance, a narrativa é tão ou mais deliciosa do que o filme que a escritora roteiriza. O livro conta uma história agridoce sobre um casamento, do início ao que pode ser o seu fim, com uma intimidade de diálogos que impressiona. Nora é uma contadora nata e ela tem um humor peculiar, que nos faz rir como cúmplices de uma história nem sempre feliz. Com pouco menos de 200 páginas, dá pra ler numa sentada. Certamente sua mãe vai adorar.


Marque presença

A gente sabe que a vida não anda muito fácil. Se a sua mãe não estiver acessível para você, tenha certeza: ela está com saudades. Se um encontro físico não for possível, faça o que estiver a seu alcance: uma mensagem carinhosa, uma ligação, uma chamada de vídeo. Se puder, mande flores, um chocolatezinho ou alguma das opções que listei mais acima.

Se não puder, mande carinho, faça contato. Faça questão. Se a sua mãe for mãe mesmo, o que ela mais vai amar é o gesto. Pode ser um aceno da porta do prédio ou da casa. Pode ser um "só passei para dizer um oi de longe". O que importa é o ato. O carinho, a ternura. Tudo o que, com sorte, ela já fez e faz tanto por você.

***

Espero, de coração, ter inspirado um pouquinho a sua semana e que você consiga preparar alguma coisa legal para a sua mãe ou para as suas mães, se você tiver a sorte de ter mais de uma. Para me ajudar a manter este blog delicioso, dá uma passada no buy me a coffee! Cada cafezinho faz uma diferença danada e me estimula a seguir produzindo conteúdo para todos nós 💘

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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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