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Café: extra-forte

Camila Castro segue em seu De primeira viagem ainda grávida, entre as políticas de abertura e fechamento de Dublin em plena pandemia. Vamos saber a quantas ela anda?

de primeira viagem, camila castro avança na gestação em dublin.

Observação importante :)
Este post segue um pouquinho atrasado e vai encontrar o de dezembro logo mais. Também por isso, o texto está um pouco atrás, porque nossa comadre está adiantada na gravidez. Enquanto isso, vamos saber como estavam as coisas até pouquinho tempo atrás. Vamos juntos na saga da melhor brasileira em Dublin que eu conheço!


Por Camila Castro

Assim como nos primeiros meses, o segundo trimestre também tem seus contratempos, como azia e refluxo. Estou cada dia mais pesada e com dor nas costas de vez em quando. Tenho ido mais ao banheiro, até mesmo durante a noite. Porém, nada como a sofrência do primeiro trimestre. Agora ficam cada vez mais nítidos os movimentos do bebê, a parte mais gostosa da gravidez. Sentí-lo faz com que eu esqueça qualquer desconforto. Além disso, Leo, o papai, finalmente pode curtir e participar um pouco mais da gestação, conversando horrores com minha barriga. O nosso amorzinho responde sempre, com chutinhos e movimentos.

Estudando a gravidez

Nossos familiares parecem estar mais ansiosos do que a gente, começaram a comprar e fazer presentinhos para Luquinhas, enquanto estamos meio perdidos com relação a isso. Mas, quando os presentes começam a chegar, a gente se anima e começa as nossas comprinhas também, sem pressa. Não só para o pimpolho, mas também para a mamãe aqui, afinal, a cada dia que passa eu perco cada vez mais roupas. A maior compra que fizemos até agora foi o carrinho, até porque, para sair do hospital, eles pedem um bebê conforto. Para facilitar, compramos um 3 em 1 (tem o assento para passeio, a cesta/cama e o bebê conforto).

Além das compras, resolvemos fazer um curso online e gratuito pela The Baby Academy Ireland que vimos nas redes sociais sobre os cuidados com o bebê. Cortar as unhas, trocar fraldas e roupas, dar banho, entre outros assuntos foram ensinados. O que mais me surpreendeu foi que eles falaram para não dar mais de um banho por semana no bebê de até 6 semanas de vida, além de não usar nenhum produto para tal. É para usar apenas água. Esse foi um pouco do que achei muito divergente do Brasil. Fiquei um pouco chocada, mas nem tanto, porque as pessoas na Europa nem sempre tomam banho todos os dias no inverno (nojinho). Outra coisa foi o cuidado com o cordão umbilical, aqui recomenda-se fazer nada, apenas deixar ele seco e com cuidado com o contato com a fralda. Aparentemente, no Brasil se faz igual atualmente, mas eu lembro que antigamente se recomendava limpar o cordão com álcool (para secar mais rápido? Eu não lembro bem).

Nesse meio tempo, a terceira fase de flexibilização na Irlanda começou. Além das medidas anteriores, os restaurantes e bares (chamados de pubs aqui) abriram, servindo comida com distanciamento e tempo limite de visita. Cabeleireiros e academias também, com hora marcada. E é possível receber visitas em casa (máximo de 10 pessoas de 4 casas diferentes). Enquanto isso, a Europa começou a abrir suas fronteiras, pelo menos internamente, para a retomada da economia. Isso porque, durante o verão, é o período que muitos países são economicamente dependentes.


foto da holanda, praia em que camila foi.
holanda
Com isso e o número bem reduzido de casos na Irlanda, resolvemos viajar para visitar familiares que moram na Europa continental para, pelo menos, ter alguma viagem nesse ano (nos momentos finais da gravidez não se pode voar, assim como os primeiros meses de vida do bebê) para ver rostos familiares e aproveitar um pouco o verão - na Irlanda, a gente consegue contar nos dedos a quantidade de dias acima de 20 °C. Queríamos fugir um pouco do nosso pequeno apartamento, não aguentamos mais ficar de quarentena. Nosso cronograma de férias é poucos dias na Holanda, voltamos para a Irlanda por uma semana e depois mais alguns dias na Inglaterra. Depois, voltamos pra casa até depois do nascimento do bebê. 


Viagem de férias

Voltando ao nosso pequeno, estou com 24 semanas, 6 meses de gravidez, é hora da consulta com o clínico geral e Leo pôde participar. A visita é super simples e rápida, a médica mediu minha pressão, verificou minha urina, checou minha barriga e verificou os batimentos cardíacos do bebê para a felicidade do papai, até o momento ele não tinha ouvido ou visto o bebê. Perguntam-me se eu quero tomar a vacina para pertussis (gratuito), que a grávida pode tomar entre 16 e 36 semanas de gravidez para prevenção da tosse convulsa. Resolvi tomar a vacina na próxima visita, assim como a da gripe. Peço atestado médico para poder voar e a médica me informa que só posso voar até 28 semanas de gravidez, devido às regras de algumas companhias aéreas. Por sorte, as férias marcadas serão realizadas antes deste período. Ufa!

Na semana seguinte à consulta, fomos curtir nossas primeiras férias na Holanda e foram momentos maravilhosos. O clima não estava muito bom, mas conseguimos ir à praia (e saí roxa da água pelo frio! Não estamos na Bahia) e valeu muito a pena. Entretanto, quando estávamos praticamente no final dessas férias, a Irlanda resolveu fazer uma “Green List” (Lista Verde) diferente dos demais países da Europa. É mais restritiva do que a média e conta com os países em que se pode viajar para sem a necessidade de fazer quarentena no retorno. Infelizmente, a Holanda não faz parte da lista, assim como a Inglaterra. Quando voltamos de viagem, ficamos muito preocupados, pois a viagem a Inglaterra aconteceria durante o período que deveríamos estar de quarentena. E agora? Será que vale a pena arriscar?

será que ela vai precisar ficar de quarentena nesta segunda onda da pandemia? dublin está em lockdown.
dublin


***

Calma, que já já ela volta para contar um pouquinho mais dessa aventura! :)

Quem escreve
Camila Castro (Cam, Camy, Camis, Camilinha) é engenheira de produção e vive com o marido e o futuro bebê em Dublin, na Irlanda. Potiguar, morre de saudades do calor nordestino, das comidas e dos amigos de todos os lugares, mas encontrou seu cantinho no mundo para tocar a vida com mais tranquilidade. Você a encontra no linkedin e no facebook. Fala com ela!

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Depois da primeira ultra e da alegria em saber que um garotinho está se preparando para chegar em nossas vidas, seguimos em frente neste mundo de surpresas e alegrias com a reabertura da cidade para a convivência. Se é a primeira vez que você vem aqui, acompanhe a minha saga como uma futura mãe De primeira viagem em Dublin. 

de-primeira-viagem-camila-castro

E como em um passe de mágica, o dia da primeira visita ao hospital foi o último dia do enjoo matinal, que aconteceu, no total, entre a 5ª e a 14ª semanas da gravidez. E tudo o que eu não comi durante esse período, estou compensando agora, uma fome de leão! Além da fome, começo a perceber outras mudanças, como a alteração das mamas e o aumento da barriga. Também ando sentindo uns movimentos “estranhos” na barriga, normalmente como se fossem umas bolhas estourando ou um volume alto e localizado na barriga, ou ela fica mais dura do que o normal. Ou seja, a parte boa da gravidez chegou e será a que me fará esquecer por completo os 3 primeiros meses e os vômitos... para sempre, será? Agora é me preparar para o terror, ou melhor, o medo desde que me entendo por gente, é a hora do parto. Afinal, aqui na Irlanda, assim como na maioria dos países europeus, se incentiva o parto normal e só se fazem cesáreas em último caso.

Durante a 15ª semana da gravidez, o governo irlandês começou a flexibilização do isolamento social, que foi dividido em 5 fases. Nesta primeira fase, podemos “viajar” num raio de 5km de casa. Sobre o comércio, apenas lojas de casa e jardim foram reabertas e são permitidos encontros ao ar livre para grupos de até 4 pessoas que não moram na mesma residência, mantendo distanciamento de 2m. Desde que o isolamento social começou, nós praticamente não saímos de casa, somente para ir às consultas e às vezes ao mercado, quando esquecemos de comprar algo que não vale a pena pedir online. Neste tempo, recebi mais duas cartas do hospital, o que eu não esperava, por conta do cronograma entre o clínico geral e o hospital, para novas consultas e outra ultrassonografia.

Um parêntese aqui: no formulário que mandei para o hospital na Saga dos Correios, uma das perguntas era qual categoria de cuidado eu gostaria, se era com obstetra ou parteira e eu escolhi obstetra, mais por precaução, já que estou numa idade mais “avançada” e minha família tem histórico de abortos e nascimento de prematuros. Fecha parêntese.

Então, com 18 semanas de gestação, volto ao hospital para a consulta com a obstetra. Fila de quase uma hora para ser atendida e coitado do Léo fica esperando por mim fora do hospital, já que ainda não foi liberado o acesso de acompanhantes. É um procedimento bem simples, ela mediu minha pressão, testa minha urina (toda consulta tem que fazer xixi no potinho), faz algumas perguntas e, para minha alegria, faz uma mini ultrassonografia. Infelizmente, meus exames demonstraram que estou com pouco ferro, o que é bastante comum, e tenho que começar a tomar suplemento para compensar a insuficiência. 

camila-castro-dublin

Nesta mesma semana, começa a segunda fase de flexibilização e o raio de viagem aumenta de 5 km para 20 km, as lojas de varejo foram reabertas e os encontros ao ar livre para grupos pequenos aumenta de 4 para 6 pessoas. Decidimos ir ao parque algumas vezes encontrar amigos à distância, até para curtir o pouco de verão que temos por aqui, além de finalmente sair de casa para respirar um pouco ao ar livre. Na primeira vez que nos encontramos, a sensação foi bem estranha, por estarmos fazendo quarentena há tanto tempo e o medo ainda iminente do vírus. O parque foi a melhor escolha, por ser um lugar aberto e de maior distanciamento social, além de ser um dia de clima quente para a Irlanda. 

Uma das coisas ruins de se encontrar no parque e com praticamente todos os lugares ainda fechados, é não ter como ir ao banheiro, ainda mais estando grávida, onde a torneirinha é mais frouxa do que o normal. Aqui, infelizmente, os parques não têm toaletes. De volta ao encontro, cada casal de amigos no seu quadrado e à distância, e algumas perguntas sobre a gravidez, mas nem tantas, porque estamos nos falando online toda semana. O maior impacto para eles foi a barriga estar começando a aparecer, porque não é o mesmo do que ver numa tela de computador ou celular. De qualquer maneira, os encontros seguintes foram mais tranquilos e ficamos menos nervosos por já termos passado por isso antes.

Chegamos em 20 semanas, metade da gestação (por volta de 5 meses), eu faço outra ultrassonografia, a morfológica, que é um pouco mais detalhada. Nas outras, normalmente se pode medir o comprimento e batimentos cardíacos do bebê, mas essa mede tudo isso e mais: o comprimentos dos ossos das pernas, braços e coluna vertebral, tamanho da cabeça, verifica os órgãos, como o coração, os rins, o estômago, a genitália (até para garantir que o gênero visto na primeira ultra estava correto), além de determinar a localização da placenta que, no meu caso, está um pouco abaixo do normal. Nada a se preocupar no momento, até porque ainda tem muito tempo de gestação, mas algo a ser acompanhado. Segura a ansiedade que mês que vem eu conto mais um pouquinho sobre essa nossa aventura coletiva!

***
Quem escreve

Camila Castro (Cam, Camy, Camis, Camilinha) é engenheira de produção e vive com o marido e o futuro bebê em Dublin, na Irlanda. Potiguar, morre de saudades do calor nordestino, das comidas e dos amigos de todos os lugares, mas encontrou seu cantinho no mundo para tocar a vida com mais tranquilidade. Você a encontra no linkedin e no facebook. Fala com ela!
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Já estava ficando com saudades de minha comadre e mãe de primeira viagem, mas nossos problemas acabaram! Camila está de volta este mês com muita novidade e algumas surpresas. Mas, se você chegou agora e foi pego de surpresa, corre aqui, que te explico melhor.

brasileiros-em-dublin


Depois da saga dos correios, chegamos na semana de ir ao hospital. Junto com ela, os enjoos têm diminuído, mas, a ansiedade para ver como está o bebê é imensa. No dia anterior à consulta, malmente consegui dormir. Eram tantos os medos, especialmente da ultrassonografia porque, até o momento, você praticamente não tem (ou realmente não tem) conhecimento nenhum sobre o seu bebê. Acho que nunca rezei tanto para que ele fosse saudável e que a gravidez não fosse coisa da minha cabeça. Vai que eu perdi nesse meio tempo e estou tendo uma gravidez psicológica? Neuroses!

Então, eis que o dito dia chega e lá vou eu! Antes de ir ao hospital, mais um enjoo matinal, acredito que seja mais pelo nervosismo do que qualquer coisa. Chegando lá, devido ao COVID-19, há uma mesa com alguns funcionários que fazem várias perguntas para saber se apresentei algum sintoma ou se possivelmente fui infectada pelo vírus:
  • Viajou para fora do país nas últimas semanas?
  • Teve febre?
  • Passou mal além do esperado (risos)?
Eles não permitem que o Leo me acompanhe, por prevenção. Era algo que a gente esperava, já que na carta que recebemos com a data da consulta, eles informaram para ir sozinha. A gente ainda tinha uma esperança, principalmente por conta de ser a ultra que mostraria o sexo do bebê.

De qualquer maneira, vou para a fila da recepção e ao ser atendida, eles pedem confirmação de todos os dados que enviei pelo formulário e me encaminham para a entrevista com a parteira (midwife), e isso durou para sempre. Ela fez todo o tipo de pergunta possível sobre o meu histórico médico, o da minha família (pais e avós) e o do meu parceiro e sua família, tirou a minha pressão e verificou o meu peso (por sinal, perdi 4 kg desde a visita ao clínico geral… enjoo matinal é tenso!).

Depois me encaminharam para fazer exames de sangue e, para quem me conhece, esse é um momento aterrorizante. Mas, dessa vez não desmaiei, apesar da enfermeira ter ficado preocupada comigo quando eu estava saindo da sala de exames. Deu tudo certo.

E então, o tão aguardado momento: a ultrassonografia. O Leo me fez prometer que eu não poderia saber o sexo do nosso bebê antes dele. Isso porque, como o hospital não estava permitindo consultas acompanhadas, ele pediu para eu pedir para quem tivesse fazendo o exame anotar num papel o sexo para vermos juntos depois. Entro na sala, a técnica pede para eu deitar na maca e mostrar a barriga para fazer a ultra. Ela coloca aquele gel geladinho e depois começa a procurar pelo neném.... E a primeira coisa é que se escuta o coraçãozinho dessa dádiva, batendo que nem os atabaques do Olodum. Depois encontra a cabeça (cabeçudinho, por sinal), o corpinho com bracinhos e pernas, e finalmente, o cordão umbilical. Que emoção ver o meu alienzinho, queria poder ficar olhando para aquela tela borrada em preto e branco para sempre. E com toda a emoção e felicidade, vem também o alívio por saber que está tudo bem com ele. 

Peço à moça para verificar se dá para saber qual o sexo e ela pede para que eu desvie o olhar do monitor. Depois de algum tempo, ela diz que conseguiu ver e anota num papel para mim. E a vontade de abrir logo ali e fingir para o meu marido que não sei de nada? Me controlei. Então, ela me dispensou com duas fotos do ultra e saí do hospital. 

Liguei para o Leo para que me encontrasse no caminho para irmos ao supermercado. Encontro-o na porta do supermercado, tem uma fila de espera para seguir com as recomendações de distanciamento social. Conto como foi tudo e mostro a fotinho do nosso bebê que deram ao final da ultra. Ficamos ambos babões e na dúvida se devemos olhar o papel com o sexo ali mesmo ou se esperamos chegar em casa. 

E a curiosidade? Não aguentamos o suspense e olhamos o papel com a resposta: Boy! Congratulations! (Menino! Parabéns!). Sempre pensamos em ter um menino, não que também não ficaríamos mega felizes se fosse uma menina. É que, com o menino a gente sempre brincava com o nome e tudo: Lucas, ou melhor, Luquinhas como o chamamos - apesar de que, nos últimos tempos, eu esteja duvidosa desse nome. Ainda não haviamos pensado em um nome para menina, mesmo ensaiando um pouco com Aninha. Agora, estamos com aquela vontade doida de contar a família e amigos a novidade, mas ainda temos que fazer mercado. Terminamos as compras, vamos para casa, limpamos tudo, guardamos, tomamos banho e só depois é que entramos em contato com nossas famílias ansiosas e amigos animados para mandar a foto do alienzinho e contar o resultado. 

Perdeu os episódios anteriores? Clica aqui, onde tudo começou.


***

Quem escreve
Camila Castro (Cam, Camy, Camis, Camilinha) é engenheira de produção e vive com o marido e o futuro bebê em Dublin, na Irlanda. Potiguar, morre de saudades do calor nordestino, das comidas e dos amigos de todos os lugares, mas encontrou seu cantinho no mundo para tocar a vida com mais tranquilidade. Você a encontra no linkedin e no facebook. Fala com ela!
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cary-grant-randolph-scott
um verbete em alemão para “alegre”
derivou ao francês como “gai”
e ganhou o mundo em inglês.

antes do acrônimo+, “gay” era ainda mais extenso:
alegre, espontâneo, entusiástico, despreocupado, hedonista, feliz.

uma franciscana sede gay se criou só 
durante o “That '70s Show”.
muito antes do Pink Money,
Gay saiu do armário junto com o Lysergsäurediethylami

1938
o LSD foi descoberto!
justo seu grande entusiasta 
- o galã de Hollywood que recomendava o uso terapêutico do LSD às donas de casa -
sexualizou o gay.

Gay se assumiu sexo na boca de Cary Grant 
aos saltos, travestido de mulher.
a cena é do filme “Bringing Up Baby”*,
incessantemente adiado devido os
ataques de Hepburn e Grant - de risos.

entre 1932-1944, Grant riu com Randolph Scott
as fotos caseiras da dupla nos despertam romance.
reputação vendida às revistas como “salão dos solteirões”
cobiça às mulheres. virilidade.

Cary Grant
atraído ou não pelo mesmo sexo 
seguiu a vida despreocupado 
em busca de suas próprias alegrias 


*Cary Grant em Bringing up baby, com Katherine Hepburn (1938)
**Na foto: Randolph Scott e Cary Grant.

***
Quem escreve
Nasci paranaense, mas sou santista - de traços cariocas e pontos em SP. Amo prosear com alvitre de verdade. O Mercúrio é mesmo em Áries… mas quem rege é o ascendente em vô de Minas. Você me acha no instagram.
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de-primeira-viagem

Quando eu fui ao médico, descobri que estava na 5ª semana (para quem não sabe, se conta a partir do primeiro dia do último período menstrual), ou seja, 1 mês de gestação. No sistema irlandês de saúde, as consultas de acompanhamento se dividem alternadamente entre o clínico geral e o hospital que você escolhe para fazer o parto (inicialmente, de 4 em 4 semanas e mais perto da data do parto, a cada quatorze dias). Você vai ao médico assim que desconfia da gravidez para dar entrada no processo chamado de Maternity and Infant Care Scheme (Plano de Cuidados - Maternidade e Criança), e o consultório médico entra em contato com o hospital que você escolhe. O hospital marca a sua consulta, e você recebe a informação por carta (isso mesmo, Correios!) entre a 12ª a 20ª semana de gestação. Por que? Não sei, só sei que é assim.

Porém, com todo esse planejamento, para mim foi uma saga conseguir a primeira consulta no hospital. Chegou a 12ª semana de gestação e nada de receber a tal cartinha. Olhava a caixinha de correio aqui do prédio e nada, nem um lembrete. Pouca ansiedade? Magina! Então, já que nada do hospital entrar em contato, eu liguei para o consultório do clínico geral, já que eles tinham me informado que iriam dar início ao processo com o hospital. Eis que eles me mandam um e-mail com um formulário que eu deveria preencher e mandar pro hospital. Por que não me mandaram isso antes? Como nada na vida é simples, tenho que imprimir o formulário para preenchê-lo e eu não tenho impressora. E mais: onde eu vou arrumar um lugar no meio da quarentena para imprimir isso? Na dúvida, entrei no site do hospital e lá eles informam que se você não tem como imprimir, você pode solicitar que eles enviem o formulário pelo correio. Tipo Kafka. E lá vou eu mandar um e-mail para o hospital, para que me enviem o formulário pelo correio. No dia seguinte, eles já me responderam que iriam me enviar e, na mesma semana, o recebi. Aleluia irmão!

Preencho o bem vindo formulário e mando outro e-mail para o hospital, já que pedem para mandar cópias de documentos (identidade, comprovante de endereço etc) para perguntar se posso enviar tudo por e-mail, já que, como sabemos, não tenho como tirar cópias dos documentos, mas tenho todos no computador. Eles aceitam, tiro foto do formulário preenchido e anexo junto com os documentos no e-mail. Novamente, aguardar a cartinha do hospital para saber quando eu tenho que comparecer lá para fazer todos os exames. E, finalmente, uma semana depois, recebo a tão esperada carta com a data da consulta para daqui a sete dias! Enquanto esperamos, conto para os amigos da vida as novidades da gravidez - afinal, já se passaram 12 semanas - e até aposta para saber o sexo do bebê acontece! Como era de se esperar, tá todo mundo bem dividido. Você diria menino ou menina?

Ah, a consulta? Conto no próximo capítulo. =)

***
Quem escreve

Camila Castro (Cam, Camy, Camis, Camilinha) é engenheira de produção e vive com o marido e o futuro bebê em Dublin, na Irlanda. Potiguar, morre de saudades do calor nordestino, das comidas e dos amigos de todos os lugares, mas encontrou seu cantinho no mundo para tocar a vida com mais tranquilidade. Você a encontra no linkedin e no facebook. Fala com ela!
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sylvia-szekely

Observo que aqui no Brasil os textos e informações relacionadas às pessoas negras estão ligadas diretamente a uma perspectiva de enternecimento. Essa perspectiva se refere essencialmente à dor. Jamile Borges, professora e pós-doutora em estudos étnicos e africanos, chama de patrimonialização da dor: “No Brasil, ao lidar com a memória da escravidão, há uma tendência a se fazer a musealização da dor, em vez de evocar a resistência” (Folha de S. Paulo, 13/05/2019). Isso dura até hoje. 

Mas, será que a sabedoria dos meus ancestrais foi perdida para sempre no conhecimento padronizado daquilo que nos foi ensinado? Certamente não. Todavia, se pensarmos que a historiografia oficial romantiza os jesuítas no processo colonizador, subestimado e excludente dos povos indígenas; se credita à princesa Isabel o resultado pela abolição, com o 13 de maio contado sob a perspectiva dos vencedores – das oligarquias e classes médias brancas – sendo esses apenas dois fatos citados aqui dentre muitos, fica a dúvida. Isso, sem contar com todo o processo de formação do povo brasileiro, mas não é o foco do presente texto. 

Temos muitas questões sobre o processo colonizatório, que nos colocou em um lugar e a humanidade em outro. Nós, pessoas negras, não fazemos parte dessa humanidade. Fomos colonizados para servir a ela. Fomos cerceados. 

Nossa humanidade é outra. 

Podemos dizer, por outro lado, que a força epistemológica de apagamento da nossa história está no patamar crescente de mudanças, “o papel dos intelectuais, trabalhadoras e trabalhadores, cientistas negras e negros está sendo recuperado.”, como ressalta ainda, a profa. Dra. Jamile Borges. 

É claro que precisamos falar das nossas dores, até porque elas ainda são causadas diariamente. Mas também é preciso resolver, reparar, fazer, mudar, acabar. E essa é a responsabilidade dessa humanidade que nos colonizou. Agora, ela deve se reeducar. Sem isso, não vejo o tão sonhado mundo melhor. 

Imprescindível é falar sobre o significado de nossas vidas, o que nos permite a descolonização, o novo conhecimento, para então vivermos em nossas humanidades. É falar sobre o que nos mantêm vivos. E dizer que sempre resistimos, mas vocês nunca souberam. 

Nossas famílias sempre existiram. Ainda que a formação fosse essencialmente de mulheres em exercício duplo do materno e paterno, sempre mantiveram a solidez nas estruturas, com respeito aos mais velhos e muito, mas muito amor. 

Tivemos infâncias recheadas de peraltices, de amigos e amigas, de viver plenamente o lúdico e o realismo mágico. Temos nossas felicidades. Vivemos paixões exacerbadas, dançamos loucamente até a música não parar de tocar. 

Amamos bons papos e ótimos drinks. Sem falar das cervejas estupidamente geladas. Ah, e amamos comer. A comida nos define e muito. Faz a nossa cultura. Sem falar das nossas espiritualidades que atravessaram oceanos e definiu muita coisa aqui nesse Brasil. E é através delas que o nosso povo permeia os nossos fundamentos. 

Somos muitos e muitas. Acredite nisso. Há quem ainda não sabe que faz parte dessa grande teia de brasis enlaçada pelo continente africano, tão pouco visto, revisto, homenageado, respeitado e estudado por nós. O meu Brasil quer Madagascar, Nigéria, Gana, Benin, Congo, Costa do Marfim, Etiópia. São 54 nações em um só país. Vocês têm noção disso? 

A nossa humanidade permanece em busca daquelas e daqueles que fazem parte de nós. De saber quem somos. E sabemos bem o que queremos. 

“E a luta não acabou, nem acaba aqui. Só quando a liberdade raiar” (Edson Gomes – Lili).


***
Quem escreve
Consuelo Cruz é baiana, formada em Letras Vernáculas e apaixonada por literatura. Era o que mais gostava de estudar e pesquisar. Radicada no Rio de Janeiro há 14 anos e a sua área de atuação é o audiovisual.Trabalha na área de conteúdo dos canais Globo. Você a encontra aqui.
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amigos-que-escrevem
m - n respondeu seu story

23:55h
n - sou apaixonada por você e pelas coisas que você escreve.

23:56h
m - nossa amiga. obrigada de verdade! mas eu nem acho tuudo isso, saca?

23:57h
n - como não? pq não?

23:58h
m - ah.. sei lá. são só umas viagens da cabeça.

23:59h
n - mas então... a parada é essa, não?
não precisa ser tudo isso
só precisa ser, só precisa sentir
se tá sentindo é porque é verdade
e aí tá sendo tuudo isso mesmo
toda vez que você escreve, que você sente, tá sendo tudo isso
.....
porque a gente não sente sempre
a vida não deixa a gente sentir sempre, eu, pelo menos não consigo
eu queria e eu tento, mas tem tanta coisa acontecendo que fico anestesiada do sentir
o ‘segunda à sexta, de 10h às 19h’
o boleto que vence todo dia 5
a política, o genocídio da população negra
na verdade, a gente até sente e muito. mas sente tudo embolado. medo, revolta, angústia...
.....
então quando a gente rompe isso
e respira
e escreve
e entende que respirar e escrever é um privilégio
e que é importante reconhecer isso, para não cair em lugares comuns
e não reproduzir discursos perigosos
.....
ESSE é o grande ato
não tem certo e errado, tem o sentir
e enquanto a gente sentir, enquanto procurarmos sentir
ninguém poderá tirar isso da gente
isso, eles não podem tirar de nós.
***
Quem escreve
"Aquela que veio para ter sorte". Este é o significado no meu nome. Meus pais queriam me dar um nome com força e significado imponentes e encontraram Naila. Escrevo para preencher vazios e libertar sentimentos. Acredito no poder de transformação da arte. Amo sentir o cheiro de terra molhada, alho refogado e livro antigo. Respiro música desde 95. Fala comigo.
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Eu não sei por onde começar. Na verdade, comecei dando o título que eu já havia pensado há dias, mas me arrependi. Começar pelo título limita muito, estou presa aqui. Talvez o certo seja escrever e depois dar o título. Talvez o certo seja só escrever. Talvez nem exista essa história de certo. Talvez.

amigos-que-escrevem

Escrever deveria ser como fazer qualquer outra coisa. Eu quis dizer fácil, como lavar louça, ou tomar banho, ou pensar. E é. Mas não é. A diferença é que sua escrita pode alcançar longe. E, aí, seriam muitos pares de olhos te perscrutando, te conhecendo, te despindo. Escrever é autobiográfico sempre. Mas não leve ao pé da letra, considere as entrelinhas. 

Essa nudez a que me refiro ao ser lida nada tem a ver com a deliciosa sensação de tirar a roupa. Tirar a roupa é fácil e prazeroso. Adoro, em dias quentes, ficar nua na varanda ao final da tarde. Olho para esquerda e vejo o Cristo Redentor vestido de um céu rosa. Seios livres e por do sol. Em dias frios, dá-se um jeito. Um cobertor macio e um corpo quente.
Para a nudez da alma é preciso muita coragem.

Ando pensando demais e querendo entender todos os porquês da vida. Todos é coisa à beça. Quero um explicação pra quase tudo. Quase. E tenho saudades absurdas. Ab-sur-das. Separação de silabas, matéria de segunda série. Tenho dias melancólicos, isso acontece desde que me entendo por gente, e dias de sol e céu azul. Nesses dias geralmente fico insuportavelmente feliz. É acintoso. Lembrei agora que, uma vez, há uns 15 anos, me disseram que eu era insuportavelmente bonita. Eu não acreditei. Nunca soube receber elogios e simplesmente agradecer. Eu sempre estrago tudo. Até hoje. 

Por falar em saudade, eu tenho lembrado muito de pessoas e momentos que passaram. Pes-so-as que pas-sa-ram. Passar pessoas. Deixar pra trás. Nunca fui boa com isso, sofro em demasia com as pessoas que ficam pelo caminho. No entanto, já releguei e fui relegada. Aqui se faz, aqui se paga. Minha mãe sempre diz que o inferno são os vivos. É verdade. Como somos mal resolvidos. Escolhas erradas têm seu preço. Na pele.

Tirei a Blusa.

Ando muito distraída, só hoje já transbordei o filtro duas vezes. Não é o filtro que transborda, é o copo. Meu filtro é lento, eu boto o copo para encher, vou fazer outra coisa, esqueço. Transborda tudo o que precisa sair, os excessos. Palavra chique, excessos. Faz uma poça, um aguaçal, um aguaceiro. Adoro sinônimos. Aguaceiro também pode significar contrariedade, infelicidade, sabia? Vem a calhar, pois fico furiosa quando o copo transborda. Desbordam meus aguaceiros. Eu os seco. E passa.

Muito tempo sobrando para pensar a vida e seus caminhos. Estou com meus filhos, vendo séries, comendo brigadeiros de sabores inimagináveis e implorando por uma massagem nos ombros em troca de uma açaí. Eu tenho tido vários torcicolos. E eu tenho implorado também para eles lavarem a louça de vez em quando. Coisa boa essa história de duas cubas na cozinha. Um esfrega; o outro enxagua.

Muito louco ser mãe deles. Não posso imaginar a vida sem os dois, mas eu descobri recentemente que talvez o sonho de casar e ter filhos não fosse exatamente meu. A maternidade real faz dessas coisas, a gente questiona nossas maiores certezas. Maternidade não é romance levinho e despretensioso, me enganaram. Isso, contudo, não importa mais. Eu os tenho, e eu os quero com todas as minhas forças. Há 12 anos que vivo para ser mamãe. 

Tirei a saia.

O meu outro lado tem ideias incríveis que nunca saem do imaginário. Tem medos absurdos, só menores do que as saudades. Saudades, com s no final, é mais gostoso. Saudadiz, puxa bem o s. 

Medos. São muitos. De não dar certo, de não conseguir, de não ser o suficiente, de não merecer, de passar o tempo. A propósito, faço 40 anos daqui a 68 dias. Ave Maria. Tem que ser pra ontem. Tudo pra ontem. Na realidade, eu procrastino, tu procrastinas, etc. Isolamento, distanciamento, tempo, espera. Mas tinha que ser pra ontem. Porra.

Eu tenho feito tudo em casa, limpo, cozinho, lavo roupas e louças também. Hoje guardei uma faca mal lavada, ninguém viu, guardei assim mesmo. Lavei roupas de manhã e elas ainda estão na máquina, por estender. Eu detestava estender roupas, agora já acho tranquilo, estender bem é uma arte.

Passo pano na casa diariamente. Uso luvas de látex descartáveis sempre que mexo com água. Vivo com as mãos brancas e outro dia me perguntaram: O que é isso na sua mão? É pó de luva, eu disse. Achei tão lindo que resolvi escrever algo com esse título. Pó de luva, pó de lua. O saudoso João Ubaldo Ribeiro, em “A casa dos budas ditosos”, disse que todo bom título de qualidade literária não quer dizer nada. Então, tá certo. Acrescentei miscelânea ao título para legitimar essa bagunça. 

Bem vinda de volta. Agora, sim, nua.
***
Quem escreve
Jennifer Conte é mãe em tempo integral. Vive a maternidade real. É também assistente social e comissária de voo. Sonha todos os dias em alçar novos voos e escreve às vezes.
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A expiração continua restrita. Repetiu ele o conselho do dia anterior. Apesar de saber quão bem intencionadas eram aquelas palavras, elas atormentaram o restante da sua prática naquela manhã. Inspecionou a causa do incômodo. Seria decorrência da sua dificuldade em se esvaziar, desocupar, descarregar? Ou do medo de se sujeitar, submeter, subordinar? Teria ele relação com liberação, emancipação, autossuficiência?

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Contemplou a primeira narrativa recordando em filme acelerado seu passado atarefado, reconhecendo o padrão de atribular-se de afazeres para trancafiar sentimentos desagradáveis que insistiam em aflorar. Afastava-se assim da sua sombra, mas também de sua luz, postergando a aproximação de sua essência, algo que muito almejava mas, ao mesmo, tempo duvidava. Se por um lado, acreditava que uma bem-construída identidade facilitaria sua existência, por outro, desconfiava da viabilidade da empreitada visto que a mudança é a única constante da vida.

Impaciente, em vez de costurar linhas entre os pontos em aberto, abandonou com certa frustração o projeto inacabado movendo-se para a segunda narrativa. Indagou-se sobre o possível erro de analisar a relação com o outro sem antes compreender a relação consigo mesma. 

Notou a poderosa retroalimentação entre as narrativas. Ao se desconhecer, movia por vezes inconsciente conforme soprava o vento: família, amigos, coletividade. Meditou sobre as vezes que culpou o outro de egoísta, eximindo-se da responsabilidade de estabelecer limites. Confronto nunca fora seu forte. Na verdade, era seu calcanhar de Aquiles.

Teceu o link com a terceira narrativa. Competitiva por natureza, receava perder. Dado esse temor, sujeitava-se, submetia-se, subordinava-se. Refletiu um pouco mais e observou que ganhar poderia ser ainda mais assustador. E se o prêmio não fosse do seu agrado? Valeria a pena despender força e energia destruindo, desorganizando, anarquizando se, no final do dia, o reconhecimento de que o gasto não passou de uma mera troca de amarras, narrativas, ilusão de liberação, emancipação?

Notou o oportuno zig-zag de sua mente de advogada inclinada a questionar em vez de solucionar. Com determinação, buscou novos ângulos para encaixar as peças do lado de fora do quebra-cabeça. Notou na inalação o poder de se preencher, liderar e expandir por meio de relações interdependentes. Verificou que, quanto maior a prática dessas qualidades, menos assustadoras eram o esvaziamento, a sujeição e a independência derivados da expiração. Acatou, por hora, o equilíbrio entre as fases da respiração como chave para uma expiração menos limitada.

***
Quem escreve
Sou Fernanda Rubim, apaixonada por pessoas, por aprender coisas novas e ganhar diferentes perspectivas sobre a vida. Sou brasileira, soteropolitana e comecei minha carreira como jornalista, passando logo para o direito. Trabalho com finanças em uma multinacional por dez anos na Europa, enquanto ensino Yoga e escrevo artigos sobre os assuntos que me interessam. Você me encontra aqui.
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Da felicidade a mil para sofrência a mil (exagerando, mas no fundo nem tanto!). Mas, vou te falar, hein! Como romantizam a gravidez. Os três primeiros meses foram horríveis, pelo menos pra mim (desculpa, galerinha, momentos nojentos a seguir). Todo dia eu acordava e corria para o banheiro passando mal. E doce ilusão de enjoo apenas matinal, ficava nisso o dia inteiro! Às vezes ia para o segundo round no banheiro (por sorte minha, só ia, no máximo, duas vezes por dia... Talvez por estar comendo tão pouco...). A sensação é de que você está numa ressaca que nunca vai acabar.  

E o olfato? Fica ultra sensível e os cheiros parecem bem mais fortes do que você jamais imaginou. Cozinhar? Impossível. Alho e cebola, que eram seus melhores amigos na hora de temperar a comida, viram seus piores inimigos. Então, dá logo a responsabilidade para o papai cozinhar porque essa se torna uma coisa quase impossível de se fazer, a não ser que você cozinhe só besteira sem cheiro (tipo nuggets ou macarrão, arroz ou batata sem tempero nenhum). Enquanto isso, você fica com a responsabilidade de lavar a louça, essa LOUÇA que não acaba mais na quarentena. (Saudades de comer na rua, né minha filha?)

Uma coisa boa da quarentena (e infelizmente por estar afastada temporariamente da empresa – isso é uma opção legal na Irlanda, constando nos contratos de trabalho. Se vocês acham as leis trabalhistas brasileiras ruins, não vão morar na Europa. A maioria das leis trabalhistas dos países europeus é bem desfavorável aos empregados, muito por conta da seguro desemprego que os governos bancam) é poder ficar de molho para o todo sempre em casa sem ter que me preocupar como seria se tivesse que passar mal na rua, no caminho para o trabalho ou até mesmo em alguma loja ou restaurante. Por outro, ficamos com a preocupação de como faremos para manter nossa família, agora de 3, com dois pais afastados dos empregos. Complicado.

A Irlanda é um país sensato, ainda bem, e criou um auxílio financeiro para quem perdeu ou foi afastado do seu ganha-pão por conta do coronavírus. Toda semana, por 12 semanas, o governo deposita €350 para essas pessoas, com possibilidade de expandir por mais tempo, a depender de como a crise evoluir. É a hora em que temos o retorno dos suados impostos pagos. 

Mas, e quando acabar esse período? 
Afinal, somos estrangeiros e não temos todos os direitos que os cidadãos têm. 
Vamos voltar aos nossos antigos empregos? 
Vamos ter que procurar novos empregos? 
Como vou conseguir outro emprego estando grávida? 
Seria de má fé não dizer ou devo informar nas entrevistas que estou grávida? 

Fato: na Irlanda não pode se fazer algumas perguntas pessoais na entrevistas, como idade, raça, país de origem, gênero, religião, estado civil e orientação sexual. Se te perguntarem sobre gravidez, você não é obrigado a responder, porque é contra a lei aqui não contratar por conta de uma gravidez, mas, ao final, eles podem encontrar outros motivos para não te contratar. O único caso para você informar sobre a sua sua gravidez numa entrevista seria para uma vaga que possa ser prejudicial ao bebê, o que é um paradoxo, já que dificilmente você se candidataria a algo assim. 

De algum jeito, nosso santo é forte, Eparrey Oyá!, e meu marido Leo, em plena pandemia, foi contratado para trabalhar de casa. Então, a preocupação de como iremos nos manter diminuiu um pouco e eu posso curtir essa tão desejada gravidez do jeito certo: ficar de molho até esse enjoo eterno passar e esperar a cartinha com a data da consulta no hospital. 

Segura aí, que já já eu te conto um pouco mais sobre a vida aqui com o relaxamento das medidas de isolamento social, como tá sendo esse novo dia a dia e sobre esses trâmites modernos que envolvem os Correios e os serviços de saúde na Irlanda. E para ver onde tudo começou, clica aqui!
***
Quem escreve
Camila Castro (Cam, Camy, Camis, Camilinha) é engenheira de produção e vive com o marido e o futuro bebê em Dublin, na Irlanda. Potiguar, morre de saudades do calor nordestino, das comidas e dos amigos de todos os lugares, mas encontrou seu cantinho no mundo para tocar a vida com mais tranquilidade. Você a encontra no linkedin e no facebook. Fala com ela!
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A ciência se acostumou a se apresentar como o progresso desde, pelo menos, a Revolução Científica. Quase sempre esse binômio, ciência e progresso, se apresenta junto, seja na forma de inovações tecnológicas, seja nas suas implicações para a nossa visão de mundo. Um dia soubemos que o Sol girava em torno da Terra e o homem era o centro de tudo. No outro, a Terra era um planeta como outro qualquer e o homem estava solto pelo universo totalmente insignificante. No século XVIII, morriam 400 mil pessoas por ano de varíola, uma doença que já não existe mais no nosso planeta desde os anos 80. 

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Se a ciência moderniza, ela também traz conflitos com o tradicional. Enquanto a ciência tem seu carimbo positivo que aprova e classifica, ela é incapaz de entender como funcionam os valores locais ou como seus critérios objetivos podem não dar conta de um sentimento.

Em uma história mais ou menos verdadeira, a pequena vila galesa de Ffynnon Garw possuía como seu maior orgulho a sua montanha, Garth. Seu papel histórico de garantir segurança contra invasores e, além disso, de ser a primeira montanha do país, a tornavam parte integrante da identidade da vila. Ao mesmo tempo, a relação do País de Gales com a Inglaterra nunca havia sido a coisa mais tranquila da humanidade. Em uma disputa de centenas de anos, a Inglaterra invadiu diversas vezes aquele país, até que no século XVI, ele passou a fazer parte do Reino Unido. 

Assim, tudo começa durante os esforços da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Em nome da Rainha, dois engenheiros se dirigem à vila para medir o tamanho do acidente geográfico para constar no mapa atualizado. Com o critério de que uma montanha deve ter, pelo menos, 1000 pés (304,8 metros), os ingleses fazem uma primeira medida e decretam o resultado. Por 20 pés (6 metros), o que era a montanha Garth passa a ser uma colina. Não correndo o risco de estragar o final do filme já que o título conta essa parte, seus moradores se juntam e conseguem cobrir a altura que faltava para que a montanha pudesse existir oficialmente.
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O inglês que subiu a colina e desceu a montanha (1995)
A ciência possui, como já dito, seus critérios objetivos, mas tais critérios podem ser tão objetivos quanto arbitrários. Se pode parecer folclórica a revolta da população local de uma vila por algo que pode nos parecer uma bobagem, não nos esqueçamos que há poucos anos cientistas se digladiaram em torno da decisão de reclassificar Plutão como um planeta anão. Se tivessem como, levariam caminhões de terra até o planeta para corrigir o que eles consideram uma injustiça. Ainda hoje o tema é debatido e há quem mantenha a esperança. 

Se os próprios cientistas podem tentar barrar suas novas decisões por motivos, nesse caso, sentimentais, como reclamar da racionalidade da pequena vila galesa? Tal qual a religião, a ciência aprendeu que a melhor forma de se desenvolver é estar unida ao poder. A ciência depende do Estado e, muitas vezes, a força do Estado é a única capaz de fazer a ciência avançar. Da mesma maneira, em diversas situações em que a ciência é atacada, é a força do Estado se apresentando. A Revolta da Vacina é um grande exemplo. Ainda que se conte esta história como sendo pessoas ignorantes não entendendo como certas políticas vinham em seu benefício, o episódio é mais bem compreendido quando entendemos como o Estado avançou sobre a vida privada das pessoas sem explicar o motivo por trás disso. 

Neste O inglês que subiu a colina e desceu a montanha, do diretor galês Christopher Monger, a resistência galesa à mudança está intrinsecamente associada ao fato de serem os ingleses a desenvolverem tal medida. A força da Rainha, sem explicar seus motivos, estava ali para medir o principal motivo de orgulho da vila. Como é possível medir algo assim? O que era, então, um sentimento de uma pequena população, torna-se um comportamento universalizado e razoável. É verdade que a batalha da vila contra o sistema foi travada de uma forma bastante peculiar e através das regras da própria ciência e progresso que levantaram a questão. Por causa disso, a colina se manteve como montanha, sustentando o orgulho de um povo. Uma história inusitada que questiona os valores da ciência, estado e comunidade, mostrando que, isolados, estes conceitos de nada nos servem. E, como se não bastasse, ainda é um bom filme com o Hugh Grant bacana dos anos 90.

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Quem escreve
Fábio Freitas gosta de cinema e ciência. É físico e professor do Instituto de Física na Universidade Federal da Bahia. 
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Joseph Frank, um dos mais respeitados estudiosos de Dostoiévski (Dostoiévski: um escritor em seu tempo), indica que o personagem a quem é atribuída a frase "a beleza salvará o mundo" - o ingênuo e altruísta Príncipe Myshkin, protagonista da novela O Idiota - foi construído para ser o modelo de ser humano perfeito - segundo alguns, uma mescla de Jesus Cristo com Don Quixote.

O fim da novela, entretanto, não permite concluir que a beleza salvou o mundo. Ao contrário, o que se percebe é que o homem perfeito nem consegue reverter os males da vida mundana em direção à luz divina, nem consegue, pela apreciação da beleza - duas belas mulheres captam sua atenção - atingir a felicidade.

É certo que a cultura - dimensionada amplamente - é um instrumento de transformação. Mas se engana - quem defende que ela se trata de um instrumento apolítico. É simplesmente impossível uma renovação cultural dissociada de renovação política ou dissociada de uma alteração na conformação econômica da sociedade, porque os processos culturais são simultâneos aos processos políticos e econômicos. 

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A conquista de Jerusalém, por Émile Signol.

A arte sacra, por exemplo, mostra a História, não é apenas uma manifestação pura de perseguição do belo, da verdade ou da bondade. É também uma manifestação artística com propósitos políticos claros e financiada por um sistema econômico em coordenação com esses propósitos.

Exatamente por falta da compreensão dessa articulação simultânea de processos, é possível, recorrentemente, observar o uso do adjetivo "ideológico" como algo pejorativo, nefasto, quando, em realidade, o seu significado guarda apenas vinculação com a percepção de que existe mais de uma forma possível de enxergar o mundo - e, portanto, de identificar que o é bom, belo e verdadeiro.

O discurso da desvinculação político-ideológica - que parece subsidiar uma série de iniciativas políticas no Brasil pós 2013, a exemplo do Projeto Escola sem Partido, para ficar em apenas um - tem dois objetivos claros: o primeiro, de encobrir uma ideologia, por vezes menos palatável a um eleitorado pouco simpático às ideias eventualmente por ela propaladas, com o emprego de expressões difusas e descontextualizadas ("verdade", "beleza", "em favor do Brasil", "em favor da Bahia", “pelo povo”, “pela liberdade” por exemplo); o segundo, o da apropriação dessas expressões difusas e descontextualizadas para, em um ambiente democrático, caracterizado pela dialética e pela participação coletiva, abrir margem a um decisionismo unilateral.

Compõe a identidade do povo brasileiro o seu caráter multicultural. Pretender a proteção da beleza a partir apenas de parâmetros cristãos/ocidentais (seja lá o que isso queira significar exatamente) é virar as costas à sua história e à sua memória. A apropriação da beleza, por quem quer que seja, destruirá o mundo, porque sempre provocará ódio e revolta. Não é isso o que o Príncipe Myshkin tentou fazer. A beleza não é de ninguém. A beleza é de todo mundo. 

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Quem escreve
Bernardo Lima é Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia e Advogado. Você o encontra no instagram.

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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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