Setembro amarelo no Cinema | 20 filmes sobre saúde mental

by - setembro 17, 2020

2020 tem sido um ano difícil. Desgoverno, desinformação, pandemia. A reclusão e o isolamento social compulsórios não colaboram para a nossa saúde mental e, neste setembro amarelo, o mês de prevenção ao suicídio, trago a lista definitiva (ou perto disso) com alguns filmes para pensarmos sobre o assunto.

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10 de setembro é o dia mundial de prevenção ao suicídio e desde 2015, o Brasil instituiu a campanha  Setembro Amarelo, nos fazendo pensar sobre saúde mental e os preconceitos em torno de suas doenças e tratamentos. Assim, talvez a estigmatização de transtornos que atingem grande parte da população tomem seu lugar de debate e deixem, de uma vez por todas, de ocupar o lugar esquecido e escondido das famílias.

No fim de agosto, listei 10 produções que irão mexer com sua mente, em homenagem ao dia do psicólogo. Agora, aproveito para trazer bons filmes que envolvem os assuntos de Depressão, Esquizofrenia, Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que valem tanto como entretenimento quanto para reflexão.


Depressão

O que é a depressão: é um mal que atinge muita gente e costuma ser confundido com tristeza e luto. A depressão é um dos grandes fatores para o suicídio e há muitos filmes que tratam do assunto de forma inteligente e sensível, como um alerta às familias e amigos sobre aqueles que convivem com esta condição e estão ao nosso lado:

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As virgens suicidas (1999), Sofia Coppola
O filme trata de uma família grande, com cinco filhas. Uma delas tem depressão e tenta o suicídio, fazendo com que o resto da família, em uma tentativa de se proteger, se feche para a sociedade, trazendo ainda mais transtornos. Primeiro filme de Sofia Coppola, traz no elenco Kirsten Dunst, James Woods, Josh Hartnett, Danny DeVito e Kathleen Turner. No telecine e apple tv.

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Cake (2014), Daniel Barnz
Jennifer Anniston é Claire, que perde um filho em um acidente e vive sob um luto amargo e doído, refletindo em um sério problema de coluna e depressão. O filme se desenvolve e subverte aos poucos essa situação, graças a um novo acontecimento e a sua acompanhante / empregada doméstica Silvana (Adriana Barraza), que lhe sustenta além de suas capacidades. O filme conta com Anna Kendrick, Sam Worthington, Felicity Huffman e William H. Macy. Na amazon prime vídeo.

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Foi apenas um sonho (2008), Sam Mendes

Ambientado no início do século 20 sem crise americana, um casal onde parece que está tudo bem, convive de perto com a depressão. Em uma nova cidade, uma geração de mulheres submissas no velho conhecido espaço machista recebe este casal sedutor e inteligente que se apregoa diferente dos demais, ainda que viva a mesma realidade social. A insatisfação culmina num desmembramento da suposta relação perfeita e encontramos neles, a verdade que não queremos ouvir: o contentamento e a decepção. A crítica do filme está aqui, é só clicar. Com Kate Winslet e Leonardo diCaprio. No telecine, apple tv e google play.

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Por lugares incríveis (2020, Brett Haley)
Violet (Elle Fanning) e Theodore (Justice Smith) se conhecem na escola. O garoto é apaixonado por ela, que sofre entre os olhares de escrutinio e a depressão depois da perda da irmã em um acidente de carro. O filme é baseado no livro homônimo de John Green que sempre aposta em um drama trágico adolescente e costuma vender bem. Apesar de não ser uma obra imensa do cinema, é um filme leve, na medida do possível, que levanta alertas sobre depressão e como é difícil, às vezes, a percebermos, quando tudo parece bem. Na netflix.


Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)

O que é transtorno de personalidade borderline? É uma condição que tem por característica marcante as alterações rápidas, intensas e abruptas de humor, podendo gerar riscos em quem convive com a doença - uma espécie de versão aguda do transtorno bipolar (falando muito genericamente). Fiquei intrigada em como é difícil encontrar - se é que existe - filmes sobre transtorno de personalidade borderline com homens afetados pela doença. O transtorno é, de fato, mais comum em mulheres e o assunto voltou à mídia recentemente (há um caso de borderline no programa da rede Record, A Fazenda, Raíssa Barbosa). Em todo caso, há bons filmes que ajudam a ilustrar a condição:

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Sete dias com Marilyn (2011), Simon Curtis
Sete dias com Marilyn trata de mostrar um pouco da vida de uma das maiores atrizes do cinema mundial, Marilyn Monroe. Viciada em barbitúricos, a atriz teve uma vida difícil e provavelmente foi isso que a levou tanto ao transtorno quanto aos remédios. Um filme sensível, com grande atuação de Michelle Williams e Eddie Redmayne. Você encontra a crítica do filme aqui. Na amazon prime video.

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Margot e o casamento (2007), Noah Baumbach
Margot (Nicole Kidman) viaja para o casamento da irmã Pauline (Jennifer Jason Leigh) e todos passam juntos um fim de semana em casa. Segredos de família explodem junto com as alterações de humor em Margot e percebemos que ali há mais do que questões de intimidade, algo parece não funcionar bem. Do mesmo diretor de Enquanto somos Jovens e Frances Ha. No google play.

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Bem vindos ao meu mundo (2014), Shira Piven
Kristen Wiig tem essa pegada de fazer filmes de comédia que puxam para o cinema independente americano. Com um humor 'diferente', ela traz neste drama a história de Alice Klieg, que ganha na loteria e realiza o sonho de ter um programa de tv. O que ela não sabia era o que ia acontecer quando deixasse de tomar sua medicação. Com uma aura estranha, esse filme passa sentimentos conflitantes, mas Kristen está magnífica. Na netflix.

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Vicky Cristina Barcelona (2008), Woody Allen
Em 2008, Woody Allen nos trazia um filme rodado em Barcelona com um elenco estelar: Scarlet Johansson, Javier Bardem, Penelope Cruz e Rebeca Hall. Penelope é Maria Elena, a ex-mulher de Juan Antonio (Bardem), e é quem apresenta as drásticas alterações de humor que caracterizam o transtorno. É uma comédia inteligente e deliciosa, mas que leva a sério a questão e os cuidados necessários a estas pessoas. No google play e looke.


Esquizofrenia

Qual é o conceito de esquizofrenia? A esquizofrenia pode ser definida não como uma doença única, mas como um grupo de transtornos psiquiátricos conhecidos como transtornos psicóticos. A psicose, por sua vez, é definida com a presença no paciente de percepção de alucinações e alterações no juízo da realidade, os delírios. No cinema, a esquizofrenia é abordada em diversos filmes, e aqui há alguns interessantes:

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Uma mente brilhante (2001), Ron Howard

Filme que mostrou o talento de Russel Crowe, Uma mente brilhante trata da vida de John Forbes Nash, um matemático que definiu as bases da criptografia e sofria de esquizofrenia. Um gênio reconhecido mundialmente, é até hoje a única pessoa que ganhou o Nobel e o Abel (o Nobel da matemática) Assim, até a compreensão da doença, muito sofrimento e resiliência são vistos no filme que, por sinal, vale muito a pena. Na claro video, apple tv e google play.

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Spider - desafie sua mente (2002), David Cronenberg

David Cronenberg é um diretor cultuado no meio do cinema 'alternativo', o diretor do clássico A Mosca e do asqueroso Mistérios e Paixões (baratas enormes, impossível pra mim assistir, apesar de parecer interessante) tem ótimos filmes e Spider é um deles. A história de um homem diagnosticado com esquizofrenia que 'reencontra' sua versão infantil. Brilhante, com Ralph Fiennes como o protagonista Dennis Clieg.

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Cisne negro (2010), Darren Aronofsky

Nina (Natalie Portman) é uma bailarina obstinada e perfeccionista que se prepara obsessivamente para dançar o Lago dos Cisnes e se vê ameaçada pela nova integrante do corpo de dança, a sensual e espontânea Lily (Mila Kunis). O suspense e a transformação dos personagens – física e psicologicamente – são brilhantemente conduzidos por Darren Aronofsky, de Pi (1998) e Réquiem para um Sonho (2000). No telecine, apple tv, looke e google play.

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A cela (2000), Tarsem Singh
Esse é um filme que só lembrei agora, depois de pesquisar sobre o assunto. De 2000, traz Jennifer Lopez como a assistente social que vai literalmente entrar na cabeça de um esquizofrênico para ajudar o FBI a solucionar um crime. É isso mesmo o que você leu. Interessante e estranho - ou excêntrico talvez seja seu melhor adjetivo, bem executado e com imagens incríveis que retomam às infinitas possibilidades criativas da mente, vale o ingresso. Com Lopez, Vince Vaughn e Vincent D'Onofrio. Na hbo go.


Transtorno obsessivo compulsivo (TOC)

O que é TOC? Definido por seu título, o transtorno obsessivo compulsivo é considerado uma doença mental grave, crônica e duradoura. Está entre uma das maiores causas de incapacitação e acomete a muitas pessoas. As obsessões são pensamentos recorrentes e persistentes entendidos como intrusivos e indesejados. As compulsões, por outro lado, são comportamentos repetitivos que se manifestam em resposta às obsessões. No cinema, o transtorno é abordado sob diversas óticas e é mais comum em filmes de comédia, como os que seguem aqui:

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Toc Toc (2017), Vicente Villanueva
Quase o filme mais famoso sobre o assunto, Toc Toc é sucesso de público na netflix. O filme se passa em uma sala de espera de uma clínica psiquiátrica e todos os pacientes estão aguardando a sua vez. Assim, vemos uma gama de transtornos se manifestando de forma interessante, como uma versão aleatória de uma dinâmica de grupo. Leve e divertido, o filme espanhol é um ótimo programa para o fim de semana. Na netflix.

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Melhor é impossível (1998), James L. Brooks
Esse muita gente já conhece e ama. Jack Nicholson é Melvin, um homem que mora sozinho em um apartamento e tem TOC. Sua condição é extremamente limitante pelo número de regras e situações de controle de comportamento que se impõe. Ao mesmo tempo, a vida acontece lá fora e ele, eventualmente, é levado a participar dela. Com Helen Hunt, Greg Kinnear e Cuba Gooding Jr., é uma delícia de assistir, desses que dá vontade de revisitar sempre. Ah! E é comédia romântica... também. Na hbo go, google play e apple tv.

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Monk (2002), Andy Breckman
Pedindo licença para indicar uma série, só porque esta, além de ser ótima, é o exemplar mais óbvio de TOC para quem ainda tem dúvidas sobre as manifestações do transtorno. Tony Shalhoub é Monk, um detetive brilhante (como House, o médico da outra série), que desvenda os crimes de uma forma quase como Sherlock Holmes, com menos cenas de ação e mais de investigação e insights meio aleatórios. A série é super inteligente, de comédia, e traz este comportamento meticuloso e regrado que caracteriza o transtorno. Tem oito temporadas e está na amazon prime vídeo.

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O aviador (2004), Martin Scorsese

Não é meu filme preferido do diretor, sigo com meu favorito Taxi Driver, mas, ainda assim, não dá para dizer que é uma obra péssima. O Aviador conta a história de Howard Hughes (Leonardo diCaprio), o diretor de cinema de Hollywood dos anos 30 que decide construir um avião que fosse mais rápido e melhor do que os da PanAm, sua concorrente. Germofóbico, ao longo dos anos, essa 'mania' vira uma condição de saúde mental, que afeta drasticamente a vida e carreira do diretor. Com Cate Blanchet, Kate Beckinsale, Alec Baldwin, John C. Reilly, Jude Law, Ian Holm, Alan Alda e Gwen Stefani. Na hbo go, google play e looke.


Transtorno dissociativo de identidade (TDI)

O que significa transtorno dissociativo de identidade e quais são suas características? Este transtorno é uma condição psicológica grave, em que o comportamento, as memórias e a identidade são afetados. É literalmente um processo dissociativo, como uma separação, uma falta de conexão do indivíduo com sua identidade 'real'. Normalmente, costuma acometer pessoas que sofreram traumas sérios na infância e formam uma nova personalidade para agir em defesa daquela que foi vítima. Muitos filmes de suspense trazem o transtorno como foco, mas consegui alguma variedade aqui:

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Fragmentado (2016), M. Night Shyamalan

Talvez seja hoje o filme mais óbvio a falar de transtorno dissociativo de personalidade que existe. Fragmentado é um suspense que conta a história de Dennis, um homem que, em si, congrega 23 personalidades distintas, como pessoas diferentes habitando um mesmo corpo. Uma aula de atuação de James McAvoy, é um filme de confinamento e stress, mas que traz a doença mental para o plano principal da história. Do mesmo diretor de O Sexto Sentido e Corpo Fechado e que quase se estragou fazendo o filme Fim dos Tempos. Na apple tv, google play looke.

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Clube da luta (1999), David Fincher
Clássico moderno do cinema americano e dirigido por David Fincher, Clube da Luta é um suspense psicológico com traços de comédia e ação, que nos deixa quase tontos com uma velocidade narrativa e criativa. Aqui, um burocrata (Edward Norton) conhece um Tyler Durden (Brad Pitt), um cara que produz sabonetes e juntos eles abrem um Clube da Luta, quase um espaço para romper os estresses do dia a dia, 'vivendo de verdade'. Há muito o que descobrir por trás dessa sinopse e é aí, no mistério, que está o tema da identidade. Baseado no livro de Chuck Palahniuk, conta ainda com Helena Bonham Carter e não vale a pena falar mais do que isso. Na amazon prime vídeo.

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As duas faces de um crime (1996), Gregory Hoblit
Martin (Richarg Gere) é um promotor vaidoso que está sempre sob os holofotes. Aaron (Edward Norton) é um rapaz de 19 anos acusado de assassinar um arcebispo a facadas. Martin decide pegar o caso e defender Aaron, que se diz inocente. Com o andar do filme, entendemos o título e as percepções e consequências de um julgamento de uma pessoa com transtorno dissociativo de personalidade. Intrigante, vale assistir o quanto antes. Na apple tv, google play e looke.

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Zelig (1983), Woody Allen
Filme pouco conhecido do público e de Woody Allen antes de toda a crise e denúncias em torno de si e da própria Mia Farrow com quem contracena aqui, este conta em forma de documentário a história de Zelig, um homem que nunca existiu na vida real. Leonardo Zelig tinha o dom de modificar sua aparência para agradar os outros, como uma espécie de homem-camaleão. Engraçado, com um roteiro brilhante, é como se fosse uma versão literal do transtorno dissociativo de identidade, desenhada para o filme.

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3 Comentários

  1. Adorei que você resolveu abordar essa temática <3. Com certeza que agora minha lista vai 'pocar' mesmo (só não vou colocar o de David Cronenberg pq teno trauma desse homi hahahaha... Minha mente não alcança ele não...).

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    1. Hahahahahaha...Cronenberg é complicado mesmo, eu gosto de alguns filmes, mas outros, sem condições. Esse Mistérios e Paixões é um trauma real. Foi uma indicação, um amigo me deu o dvd e eu vi coisas muito asquerosas e parei o filme logo no início. Foi suficiente! hahahaha :P

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    2. Faltou o filme o lado bom da vida

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