Netflix - Maio 2020

by - maio 27, 2020

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Maio chega na reta final, infelizmente seguimos em casa com a prudência de fazer reduzir a curva da pandemia à fórceps. Infelizmente também, fazemos sem a ajuda do governo federal, que funciona enquanto desejo e sonho em nossas mentes, quando na realidade é um trágico circo de horrores e estupidezes. Sigamos adultos, com pesquisa e conhecimento, acreditando em embasamento científico e na medicina. Tudo há de terminar bem, em algum momento. Enquanto isso, o resumo das dicas da Netflix deste mês está aqui, para relaxarmos um pouco e focarmos em conteúdo de qualidade e cultura. Vamos em frente!

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Supermães (Workin' Moms 2017-)
A série canadense sobre jovens mães, chegou à sua quarta temporada neste mês. Ela traz o dia a dia de um grupo de mães que precisa, cada uma, lidar com uma rotina atribulada entre família, trabalho, relacionamentos e individualidade. Humor ácido, grandes diálogos e muita vida real aparecem ali pra gente se identificar. Sendo ou não mãe, sendo ou não mulher, tem pra todo mundo. O fato de ser uma produção canadense é um alívio, ver um país que funciona e com nossas heroínas e heróis precisando lidas apenas com a vida doméstica - não que seja pouca coisa. Catherine Reitman é quem protagoniza como a personagem Kate Foster. É também a criadora e roteirista, além de ser mãe, de forma que ela sabe do que está falando. Uma curiosidade bacana é que Philip Sternberg, o marido de Kate Foster é casado na vida real com Catherine. Não suficiente tudo o que a mulher faz, ela ainda foi ao Tedx Talks. Segue link com a palestra em português.

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Cooked (2016)
Reality shows e documentários sobre comida viraram uma febre nos canais de televisão e streamings. O negócio é que falar de comida é muito bom mesmo. Esta minissérie vai além, fala dos elementos que formam a comida (e a vida, na verdade) e de como cozinhar ajuda a moldar as culturas mundialmente. É apresentado pelo escritor best seller Michael Pollan e é uma delícia de assistir, dá vontade de morder a televisão. É interessante a divisão dos episódios, tratando dos elementos primordiais na natureza em relação à comida, à forma de fazê-la, onde encontrá-la. Vale muito a pena.

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Você nem imagina (The halkf of it, 2020)
Uma pegada mais jovem e não besta é o sentimento por este para essa nossa temporada indoor. Um garoto está apaixonado pela garota mais bonita da escola, que tem namorado, claro. Ele faz amizade com a garota inteligente e solitária, para tentar conquistar a mocinha. São vários clichês, aquele padrão americano que procura uma desconstrução e traz outras camadas de complexidade nos personagens. Mas há um pouco mais aqui, talvez pela história ser baseada em fatos reais da vida da diretora Alice Wu, a protagonista inteligente. Adolescente, mas sensível, tem bons diálogos e ótimas referências literárias Fala sobre família, amizade, comportamentos e descobertas. É bem bom e o tempo passa que nem percebemos, com bastante poesia.  

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Os irmãos Willowghby (2020)
Para aquele momento em que só queremos aventura e fantasia para nos tirar desta realidade. Os Irmãos Willowghby traz tudo isso, em um filme divertido e para todas as idades e baseado em um livro homônimo de Lois Lowry. Os pais Willoughby são bem imprestáveis e despreparados, e seus filhos estão cansados do descaso e maus tratos e resolvem se livrar deles - só não contavam com uma babá sem experiência para cuidar de todos. Fofo sem ser besta, traz algumas ideias interessantes sobre o conceito de família e criação. Poderia seguir em paralelo com Divertidamente (2015), na maneira incrível como aborda temas complicados impactando em todas as gerações. A animação é hoje a mais bem avaliada do ano e ainda conta com Maia Rudolph e Ricky Gervais no elenco como dubladores. Ainda em dúvida? O trailer está aqui.

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Lazzaro Felice (Happy as Lazzaro, 2018)
Lazzaro Felice é um dos poucos filmes com um olhar diferente na Netflix. Italiano, conta a história de Lazzaro (Adriano Tardiolo), esse rapaz inocente que vive em função de sua família e da dona da vila, uma mulher cruel que escraviza seus funcionários. Quando o filho dela forja o próprio sequestro, Lazzaro o encontra e desenvolvem uma amizade que lhe tornará um pouco diferente. Com a doçura de um conto de fadas e inspirado por uma situação real acontecida nos anos 90, ganha também uma crueza e crueldade pertinentes das pessoas sensíveis a um mundo longe de ser doce. Sensível e realmente lindo, levou o melhor roteiro em Cannes, é dirigido por Alice Rohrwacher e carrega a brilhante Alba Rohrwacher, sua irmã, no elenco. Se prepare para ver este; como Roma, é pra assistir sem pressa. 

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Atrás da Estante (Circus of Books, 2020)
Se você ainda não viu Atrás da Estante (Circus of Books), o momento é agora. O documentário é sobre uma livraria de fachada que, na verdade, era uma loja e locadora de filmes eróticos gays na Los Angeles dos anos 80. O mais interessante, entretanto, é entender como surgiu, quem gerenciava e porquê. Um casal heterossexual de família tradicional judaica encontrou no negócio um caminho rentável para melhorar a economia familiar. Não sabiam, que a empresa seria não só a base de finanças da família para a vida toda, como colaboraria com a comunidade lgbt de uma forma nunca antes imaginada. É o primeiro filme de Rachel Mason e fala sobre sua família - seus pais eram os donos da Circus. Enquanto obra, gera um interesse enorme, pois trata de todos os macro temas (sexualidade, comportamento, família, religião, economia, educação) de uma forma pessoal, nos aproximando das vidas do filme, nos fazendo pensar em como agimos e como agiríamos se fôssemos aquelas pessoas. 

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Coisas da vida (Little Things 2016-)
Coisas da Vida é uma série indiana deliciosa sobre a vida deste casal que está saindo dos vinte e tantos anos. Eles moram juntos e dividem o dia a dia, as agonias e alegrias dos trabalhos, com uma pegada realista e divertida. Como toda boa história, não importa de onde ela vem, sempre conseguimos nos identificar e criar uma relação. Esta tem três temporadas e a cada uma, seus protagonistas ganham complexidade e a trama só melhora, com outras questões para além do dia a dia deles. É interessante como tudo se aproxima de nós aqui, uma série rodada do outro lado do mundo, com questões e comportamentos similares aos nossos. A cultura da globalização e da internet são fortes aqui e, mesmo assim, há um cuidado em manter e exibir os costumes locais. É muito legal e nos ajuda a mudar um pouco nosso olhar acostumado às produções e imagens estadunidenses das comédias românticas, inclusive esteticamente. 

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The Eddy (2020)
Outra grande minissérie que estreou na Netflix esse ano. Com oito episódios e grandes diretores, como Damien Chazelle (Whiplash, 2014 e o chatíssimo La la Land, 2016, esqueçamos desse) e Houda Benyamina (do ótimo e difícil Divinas, 2016), é um drama sobre o dono de um clube de Jazz em Paris. André Holland (Moonlight, 2016) protagoniza a série como Eliot, músico que saiu do Blue Note, uma historicamente conceituada casa de jazz em Manhattan para a capital europeia. Todo o cuidado com a música em Whiplash é retomado aqui, o suíngue do jazz, grandes performances musicais e de atuação parecem nos conduzir bem, assim como busca, por outro lado, retomar as questões de imigração, comportamento e sociedade. Ainda não cheguei ao final, mas é uma ansiedade só. Imperdível.

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Frances Ha (2012)
É impressionante como esse filme não parece ser de 2012. Mentira, às vezes só parece, pensando agora, por todo o momento que estamos vivendo, quando essa ideia de cidade, vida comum, narrativa de identidade e descobertas parece pausada, enquanto tentamos não surtar na pandemia do século. Frances Ha é um dos melhores filmes que já vi - perdão pelo exagero, mas é mais uma confissão. Acho que o filme me pega porque é a história de uma mulher que chegou à vida adulta sem saber como, um pouco como as pessoas da minha geração, aquelas que tiveram a sorte e o privilégio de viver uma adolescência relativamente tranquila e enveredou no automático pela vida universitária até chegar ao caos de hoje. O fato é que tem gente que segue a vida numa narrativa menos caótica e outros precisam de um tempo para trilhar o caminho ou, antes disso, descobrir por onde seguir, como dar os primeiros passos. O filme traz isso com o reforço da amizade de duas mulheres, uma trilha sonora brilhante e o charme da fotografia em preto e branco na Manhattan romantizada. Precisa de mais alguma coisa? Tem grande elenco, com Greta Gerwig, Adam Driver e, além da direção sensível e precisa de Noah Baumbach. Vou rever hoje.

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