Livro da Semana: Hitchcock / Truffaut
Aproveitando o artista de cinema deste mês, nada melhor do que falar deste livro, um dos grandes que fala sobre cinema, produção, arte, entretenimento e, claro, os filmes do mestre do suspense. Aproveita!
O cinema é a arte da sedução. Voyeur por natureza, assim também nos tornamos quando vamos à sala escura, sem que nos vejam direito, assistir a alguém, a alguma história no conforto do anonimato. Alfred Hitchcock soube se utilizar deste nosso fetiche e sempre trabalhou em prol do público, seja para assustá-lo ou para lhe trazer algum alívio. François Truffaut, também cineasta de renome e crítico francês, entendeu o controle hitchcockiano como uma qualidade única – e está certo nisso – propondo uma série de entrevistas com o mestre do suspense sobre sua filmografia. Em 1967, sai o mais emblemático livro sobre Hitchcock e em certa medida sobre Truffaut e o fazer cinema, traduzido no Brasil como Hitchcock/Truffaut.
Há 120 anos nascia Hitchcock, em Londres. Começou a carreira cedo, como assistente de direção, montador e roteirista, em 1922. Em 1925,
estreava na direção com The Pleasure
Garden, cargo que nunca mais deixou. Truffaut disseca o que considera mais relevante em toda a trajetória do diretor inglês, com questões
que servem tanto ao público comum, os espectadores-cobaias, quanto para quem é
mais envolvido com a arte e seus meios de produção. A ideia do cineasta francês
era comprovar a genialidade de seu mestre,
em uma época que o consideravam menos, como um diretor de circuito comercial. A
intenção era clara, identificar o óbvio aos nossos olhos. Hoje não há dúvidas de que Hitchcock já era um dos nomes do cinema de autor. As
entrevistas perpassam a filmografia do mestre, que não só tem um currículo de
respeito, com 54 longa-metragens – citando cinco para relembrar, Psicose,
Disque M para Matar, Janela Indiscreta, Um corpo que cai e Os
Pássaros – como também teve um programa de filmes curtos
para a TV, Hitchcock Presents.
Hitchcock/Truffaut, François Truffaut e Helen Scott |
O livro é um deleite para todos, sendo fundamental para a história do cinema. Após o lançamento em 67, foi feita uma edição definitiva em 1983 – à venda no Brasil a partir de 1986 em edição esgotada da Brasiliense e reeditada em 2004, pela Companhia das Letras. Truffaut sentia uma necessidade de continuar alimentando o livro – e nossa curiosidade – com os novos filmes do diretor. Encontraram-se durante pouco mais de 14 anos e hoje temos essa obra prima. Com fotografias das cenas dos filmes e seus bastidores, das longas entrevistas, prefácio de Ismail Xavier e do diretor francês, tudo em quase 400 páginas, virou referência em produções do gênero.
Como dois cineastas que eram, filmaram as entrevistas e em 2015, saiu o documentário com as conversas, outro imenso presente para nós. A ideia do livro virou referência, basta
recordar as edições de entrevistas feitas com outros diretores – e infelizmente
sem Truffaut – como Woody Allen, Scorsese, Bergman e Almodóvar. Feito para todos os públicos, são aulas de
cinema da forma mais interessante possível, um encontro de mestres com riqueza
de detalhes que alimentam nossa perversão última: a cinefilia.
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