5 filmes fundamentais: Alfred Hitchcock

by - maio 12, 2020

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Alfred Hitchcock e sua filmografia

Alfred Hitchcock é o Artista de Cinema do mês aqui no Café e é bem difícil escolher cinco filmes que resumam sua carreira, mas essas são as regras do jogo. O mais legal de selecionar filmes do meio do século passado é ver o cuidado com o estilo dos cartazes - o que é vintage agora era o padrão dos outros dias. Mas, vamos ao que interessa:

Festim Diabólico (1948)

Festim diabólico tem tudo o que é interessante no fazer cinema: ousadia, muito planejamento e direção, criatividade. O filme, o primeiro colorido do mestre, é uma adaptação de uma peça de teatro que se passa em apenas um cenário e em tempo real. Hitchcock provavelmente pensou: hummm.. por que não? E fez aqui uma das primeiras obras de um plano sequência que conhecemos. Havia uma limitação técnica: nessa época, os filmes eram feitos com película e cada rolo tinha duração máxima de dez minutos. Então, para simular uma grande cena sem cortes, o diretor sempre buscava um fundo preto: um terno, uma cortina, algo que pudesse servir apenas como um intervalo imperceptível ao espectador. Outra coisa muito boa é ver James Stewart trabalhando com o diretor pela primeira vez. Dali em diante, outros três filmes teriam a presença deste homem incrível. O trailer já dá uma dimensão da genialidade da obra. Confira aqui.

Janela Indiscreta (1954)

Eu tenho mesmo uma afeição especial por James Stewart, e não é à toa. Ele representa distinção, caráter, uma figura, para mim, que busca sempre o bem. Claro, com base em alguns de seus filmes. Quem já assistiu A felicidade não se compra (1946), produção de Frank Capra do pós-guerra, sabe do que estou falando. Voltemos à Janela Indiscreta: não temos a ousadia de um plano sequência, mas um cenário imenso construído aqui. Duas fachadas de prédio - Hitchcock sempre foi controlador e tinha uma ideia muito precisa do que queria ver, então trabalhava sempre com o mínimo de improvisos e imprevistos. Aqui, nosso querido James Stewart é L. B. Jeff Jeffries, um fotógrafo que sofreu um acidente e está com a perna engessada. Em casa, recebe a diarista e a noiva, Lisa Carol Freemont - ninguém menos que Grace Kelly - mas, ainda com essas visitas, sente-se entediado. Cansado de jornais, se volta para a janela do apartamento e transforma o nosso olhar, somos como ele agora, voyeurs indômitos da vizinhança. Sendo um filme do mestre do suspense, claro que um crime vai acontecer no prédio e fica a dúvida do que Jeff viu, se ele viu aquilo mesmo e como proceder. É impressionante como o diretor prende nossa atenção com poucos movimentos a maior parte do filme e brinca com nossa curiosidade como se fôssemos nós mesmos, o fotógrafo de plantão.

Um corpo que cai (1958)

Sim, é James de novo, mas agora com Kim Novak. A essa altura, Grace Kelly, a musa do diretor, já estava casada e vivendo em Mônaco - tem até filme sobre isso com Nicole Kidman, mas é outra e triste história - então Kim Novak a substitui com precisão. James é, mais uma vez, o protagonista que se envolve em uma situação extraordinária. Detetive aposentado em tratamento para acabar com as vertigens provocadas pelo medo de altura, um amigo lhe pede que siga sua esposa, com tendências suicidas. No meio desta saga e já obcecado por ela, fatos estranhos começam a lhe atormentar. Aqui, Hitchcock inaugura novos movimentos de câmera, particularmente na cena da vertigem na torre, construída em estúdio. A trilha sonora é de Bernard Herrmann e incrementa esta sensação do protagonista em nós tão bem que lhe rendeu indicações da categoria ao Oscar. É tido como um dos melhores filmes de todos os tempos. Apenas.

Psicose (1960)

Esse aqui quase dispensa apresentações, do tanto que é cultuado desde seu lançamento. O filme é de 1960, já dava para perceber alguma emancipação feminina, ainda que a pobre da Marion Crane (Janet Leigh) não dure muito na tela. A sinopse todos sabemos: uma moça rouba dinheiro do chefe e foge. Para em um motel à beira de uma estrada secundária e o resto é aquela faca subindo e descendo com a trilha que nos impede de tomar banho tranquilos com a cortina do chuveiro fechada. Norman Bates (Anthony Perkins) é o dono do Bates Motel - a série em exibição na Netflix vem daí - e vive em um casarão ali pertinho com sua mãe idosa, que só vemos à distância. Ele recebe Marion e tudo corre bem, até que... Hitchcock proibiu a entrada de pessoas nas sessões depois do filme começado, para que não perdessem nenhum minuto da tensão que ele queria construir em nós. O filme é uma adaptação de um livro que nem é grandes coisas, de forma que o filme o supera ridiculamente. Mais uma vez, Hitch aproveita toda a sua experiência para brincar com o espectador, entregando o crime no primeiro terço da obra e nos deixando tensos até o final. E que final.

Os pássaros (1963)

Ah... Os Pássaros. Tenho uma afeição especial por esse filme. Os pássaros atacam. E é isso. O filme parte de um príncípio sem causa para acontecer e se torna um dos melhores filmes de suspense da história do cinema. Além do que, os efeitos visuais nessa época não eram digitais, então para mostrar os pássaros atacando a cidade - convenhamos que não há adestramento possível para pássaros em volume, atacando pessoas - foi preciso falsear a ideia: na montagem das cenas, Hitch sobrepôs os negativos de pássaros em revoada com as cenas das pessoas correndo e voilá; pessoas fugindo dos pássaros. Todo o making of é uma delícia de assistir, bem como o filme em si. O que o diretor nos diz aqui, comprovando mais uma vez seu talento único é: dá pra criar uma boa história com quase qualquer argumento. Só que isso não é pra qualquer um. E aqui, você ainda recebe um convite exclusivo do mestre para ver o filme.

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