Em junho de 1963, Valentina Tereshkova foi
a primeira mulher lançada ao espaço, com a missão de rodar nosso planeta 48
vezes. Ela era soviética. Em plena Guerra Fria, quando as duas maiores
potencias globais – União Soviética e Estados Unidos – brigavam por um (primeiro)
lugar ao sol, a primeira tomou fôlego e abriu uma prerrogativa jamais
conquistada por sua oponente. Nunca uma mulher americana foi ao espaço – mas,
pelo menos, estiveram nos bastidores e foram fundamentais para qualquer homem
americano ir.
O filme se passa no início da
década de 60, neste mesmo momento de Valentina, quando três matemáticas negras
trabalham na NASA, a agência espacial americana. Para elas terem seus
direitos plenos enquanto mulheres demorou provavelmente uma vida, mas
conseguiram – ao menos naqueles escritórios – vencer um pouco a barreira da
melanina. A algum custo, claro.
Hidden Figures, cuja tradução literal seria perto de ‘números/figuras
escondidos(as)’, faz todo o sentido, é mais sofisticado e menos piegas do que nossa
criativa versão brasileira e conta a história de Katherine G. Johnson (Taraji
P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe),
três matemáticas que trabalham nos escritórios menores da NASA como ‘computadoras’.
São elas e mais uma grande equipe de mulheres negras, que realizam os cálculos
e auxiliam as equipes mais especializadas da engenharia espacial. Mas, elas
podem muito mais, suas inteligências e capacidades são surpreendentes. Assim,
ultrapassando as barreiras sociais a fórceps galgam, cada uma, seu espaço.
As três grandes atrizes –
considerando que Monáe ainda é brilhante como cantora e este é seu primeiro grande filme – dominam qualquer cena,
poderiam todas ser protagonistas das histórias, cuja carga dramática se centra
em Katherine, que trabalha diretamente com Al Harrison (Kevin Costner) na maior
missão, que é levar o primeiro homem para fora do planeta. Além de Kevin, encontraremos Kirsten Dunst como Vivian, a colega de Dorothy em igual ou menor demandas, cujos privilégios são superiores por ser branca, e Jim Parsons (Sheldon Cooper, de The Big Bang Theory), fazendo uma espécie de rival ainda nerd e irritante de Katherine, ao se sentir ameaçado pela eficiência da heroína.
Há um paralelo
constante entre suas vidas no trabalho e como ele se reflete em casa com suas famílias, nos
relacionamentos e na batalha por uma educação de qualidade, sempre relegada aos
brancos e, mais precisamente no campo da engenharia, homens. É um filme
americano, hollywoodiano e como tal, dá pesos e medidas sem atingir as
sensibilidades e políticas da grande indústria. Sua estrutura dramática é leve,
fluida e mexe nas questões raciais, de gênero e sociais muito bem, trazendo comédia
a situações que hoje nos pareceriam surreais – se ainda não acontecessem de
fato. Agora em tempos de Trump, boa parte das intolerâncias podem bater à porta com mais frequência e gravidade novamente.
As indicações a prêmios são devidas,
dificilmente levará a estatueta de melhor filme no Oscar, mas o fazer político
da Academy Awards resolveu dar voz aos negros e os creditou devidamente em
justas indicações que não devem ser medidas pelos contrastes, melhor seria dizer brilhos, de suas peles à luz. O que melhora a história é o fato de ser baseada em fatos
reais. É uma adaptação do livro de Margot Lee Shetterly, (uma
mulher incrível com um projeto de resgatar as identidades das mulheres computadoras),
feita juntamente com o diretor, Theodori Melfi e Allison Schroeder, nomes agora
em ascensão pela indicação de melhor roteiro adaptado. Octavia
Spencer também concorre, como atriz coadjuvante.
As premiações (um detalhe,
cujas seleções servem mais à indústria e ao público que acredita em rótulos sem saber da política por trás) valem para lhe dar o destaque de termos uma narrativa sobre três mulheres negras,
escrita por uma mulher negra, todas protagonistas, profissionais e ótimas. Fica
a curiosidade de conhecer as mulheres da
história real e ver o quão brilhantes e cheias de outras histórias devem
ser. Elas ainda não foram ao espaço, nenhuma mulher americana foi. Talvez, com a "nova" política, não irá tão cedo, mas nos bastidores, não há desenvolvimento científico sem elas. Emocionante, inteligente e relevante, o filme é uma delícia.
*Estreia na primeira semana de
fevereiro.
1 Comentários
Adorei! Eu adoro ver Taraji P. Henson participando de filmes, sigo muito os filmes desta atriz, sempre me deixa impressionada em cada nova produção. É espectacular, superou as minhas expectativas, adoro os filmes de Taraji P. Henson, considero que é uma excelente atriz, a vi em Proud Mary, adorei! Já a viste? Eu recomendo, este filme é um dos bons filmes de suspense que estreou em 2018. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver.
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