Filme de estreia do diretor iraniano Abbas Kiarostami realizado em 1970, esse curta de 10 minutos foi nosso exercício na Oficina de Crítica Cinematográfica ministrada por Jean-Michel Frodon, no Festival Varilux de Cinema Francês que acontece agora no Rio de Janeiro e em outras capitais.

Em pouco mais de dez minutos, Abbas Kiarostami cria uma história que diverte e desperta interesse em seu curta-metragem de estreia.
Uma rua pequena com cruzamento de
outras duas ou três. Um garoto com um pedaço de pão e cadernos caminha distraído,
chutando uma lata. Um cachorro em seu caminho e uma música dos Beatles nos
abrem os olhos para o conflito: como atravessar a rua sem ser mordido por um
cão feroz? Com uma ideia de simples execução e custo baixo, o diretor sustenta
sua trama sem diálogos ou qualquer necessidade deles. A narrativa se impõe
entre gestos, olhares e músicas que traduzem tanto o clima do que assistimos
quanto suas resoluções.
Realizado com crianças e para
crianças, o filme abraça todas as idades e épocas. A situação é própria da
infância de uma cidade pequena ou não violenta de qualquer lugar do mundo e a
ausência de idioma – ainda que o próprio pão e os créditos de abertura indiquem
uma cultura específica – reafirma sua universalização.
Aparentemente e por execução feito sem maiores ambições, o filme atinge mais do que intenciona, identificando na ingenuidade própria da infância sua outra grande
característica: a criatividade. Inteligente, se sustenta na duração exata do
que carece e encerra bem, como o fim de um ciclo lúdico e divertido. Comédia
para todos, que em cortes simples e bom uso de câmera, nos posicionam
tanto em cena quanto a assistindo;
somos o garoto e sua plateia à espera
de desfecho. Grande estreia de um diretor hoje consagrado e experiente.
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