A Netflix dessa vez me surpreendeu. Na nova safra de filmes
e séries, há mais Lars Von Trier, há filmes bem interessantes e alguns
documentários muito bons, além dos animes de sempre e os filmes obscuros do pacote. Esta edição não poderia se chamar fortes emoções novamente,
levando em conta nossos últimos acontecimentos e a tentativa constante de
destruição dos brasileiros por parte do governo. O negócio está tão sério que a ameaça do Estado Islâmico passou batida por aqui. Em todo caso, a edição celebra
muito bem a estrutura de poder com dois grandes e cultuados filmes, além de
outros que tentarão nos tranquilizar, na ilusão maravilhosa da narrativa de
ficção. Vamos a eles!!
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Ninfomaníaca I e II (2013, de Lars Von Trier) – 117 min e
123 min.
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Ninfomaníaca foi um filme
polêmico, dividido em duas partes e aqui considero ambas. Lars Von Trier não é
a melhor pessoa do mundo, é extremamente complicado e controverso e já deu
declarações horrendas em sua vida. Ao mesmo tempo, é um grande artista, tem
filmes com aquele status de arte que foge da redução que o ‘cult’ tenta
construir. O filme não é sobre sexo, é sobre poder. E não é excitante, a menos
que a apatia seja algo que te agrade. Nossa protagonista Joe (Charlotte Gainsbourg e Stacy Martin) conta sua história a Seligsman
(Stellan Skarsgard), um homem que a resgata da rua, toda machucada e quase
inconsciente. Ela foi deixada ali não se sabe porque e o homem que a resgata
salva sua vida. É uma história pesada e com bastante sexo, mas do tipo que
envolve doença, ela não é ninfomaníaca dos títulos baratos e acrobáticos dos
filmes pornôs, ela é ninfomaníaca como diagnosticada com uma doença que a
domina, que ultrapassa seus sentimentos e intelecto. O filme é grandioso, tem
alguns momentos que poderiam ser feitos de outra forma e é longo, se
considerarmos as duas partes. Foram lançados separadamente nos cinemas. Vale
muito a pena, mas precisa de estômago. O final é a própria representação da
sociedade e é tudo o que eu vou falar. Além dos já citados, encontraremos Uma Thurman, Willem Dafoe, Christian
Slater e Shia LaBoeuf.
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Sherlock
(2010 -, de Mark Gattis e Steven Moffat) – 90 min
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Para pararmos um pouco de pensar
sobre todas as coisas que envolvem o filme acima e podem me convidar para todas
as discussões sobre ele, segue uma série ótima da maravilhosa BBC para nós: Sherlock. Sim, é sobre
deduções investigativas brilhantes, é sobre o cultuado e divertido Sherlock
Holmes (Benedict Cumberbatch) e Dr.
Watson (Martin Freeman). Os
episódios são longos, duram 90 minutos, mas as temporadas são super curtas, de
3 episódios. A produção é imensa, porque a série ganha efeitos especiais,
muitas locações e personagens, sendo ambientada nos tempos de hoje. O mais divertido é ver os personagens dialogando
e Benedict e Martin fazem uma dupla incrível no que parece ser um quase
adolescente (Sherlock) e seu fiel escudeiro mais maduro, mas que precisava de
alguma ocupação depois de uma vida tensa no Afeganistão (Watson). A estratégia de
ser um seriado curto, como as minisséries da Globo funciona bem, porque quando
chegamos perto de cansar, a temporada acaba e precisamos saber o que vai
acontecer depois. A série ganhou 73
prêmios além das 107 indicações,
acho que vale, pelo menos, dar uma olhada.
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Ferrugem e Osso (2012, de Jacques Audiard) – 120 min
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Pense num filme bonito? Esse pode
ser sobre uma história de amor, quase dá pra chamar de romance, embora não seja o foco do filme. É sobre duas pessoas que vivem dramas fortes e distintos
e o superam juntos, em uma ligação muito mais profunda de amizade do que de
amor. Stéphanie (Marion Cotillard) é
uma treinadora de baleias Orca, daquelas de parques aquáticos. Alain van Versch
(Matthias Schoenaerts) é um jovem
pai de um garoto que não tem trabalho e precisa encontrar um de qualquer forma,
a fim de poder dar alguma vida para seu filho. Os dois se conhecem em uma boate
e dali não sai nada, mas ele a ajuda, lhe dando uma carona para casa. Vão se
encontrar mais adiante e aí então saberemos mais. É de uma fotografia magnífica
em seus contrastes, na aproximação dos personagens. É de uma edição brilhante
nas cenas de luta e na construção da história e, para melhorar de vez, é
econômica em palavras, do jeito que muitos filmes deveriam ser. É o tipo de
filme que nos provoca a conhecer toda a filmografia do diretor e roteiristas,
para continuar com estes sentimentos e construções narrativas. Ganhou um milhão
de prêmios e vou rever. Ah! Lembra de Piaf que indiquei aqui outro dia? Pois, é ela a protagonista. O filme é belga e vale uma atenção para a cinematografia do país –
os filmes tendem a ser impressionantes.
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Tubarão (1975, de Steven Spielberg) – 124 min
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Continuando a saga sobre filmes
de poder que tal um em que a natureza se vira contra nós e nos ameaça? Tubarão
é um clássico que todo mundo já viu, mas a trilha sonora permanece em nós para
sempre e nos faz querer rever. Não é da safra nova da Netflix, mas é eterno. Spielberg nos traz um suspense
aterrador sobre um tubarão que ameaça uma praia e a única solução que o homem
encontra para ter paz e poder mergulhar novamente é matá-lo. Mas o tubarão não
é bobo nem nada, então dá bastante trabalho e literalmente toca o terror onde
aparece. A sinopse é simples assim mesmo, mas o filme é maravilhoso. É um dos
marcos do cinema de terror, um dos marcos na carreira do diretor que todo mundo
conhece. Tem seus momentos trash, mas de forma geral é até um filme sério,
considerando seu gênero. Levou três
Oscars, é um dos filmes mais cultuados de todos os tempos e em todo mundo, e
carrega um elenco de peso: Roy Schieder,
Robert Shaw e Richard Dreyfuss.
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Grandes Momentos (2012, de Michael Mohan) – 97 min
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Agora, como não poderia faltar,
uma comédia romântica daquele tipo: boba, gostosa, não estúpida e do tipo que dá
pra ver algumas vezes. Sarah (Lizzy Caplan) é a mocinha da livraria que
namora Kevin (Geoffrey Arend). As coisas não estão muito bem quando ela conhece
Jonathan (Mark Webber, que com esse filme me fez buscar todos os outros em que
participou) e da mesma forma, nem tudo são flores. No meio disso, Beth (Alison
Brie, a Trudy Campbell de Mad Men), sua irmã, está enlouquecida com os preparativos para o casamento com Andrew
(Martin Starr) e tudo vira um novelo difícil de desatar. O filme é leve,
despretensioso, mas com personagens bem construídos e diálogos simples e
eficientes. Funciona muito bem em tudo e é um passatempo delicioso.
Bonus track!!
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Perdidos na Noite (1969, de John Schlesinger) – 113 min
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Esse filme não sai da minha
cabeça. Demorei muito para assisti-lo, mesmo com todas as suas credenciais e o
resultado foi surpreendente, de fato. Vou escrever propriamente sobre ele, mas
acho que se encaixa nesta lista, já que pode ser sobre amizade, sobre redenção
e poder. Joe Buck (Jon Voight) é um texano que decide encontrar uma vida melhor
em Nova York. Ele acha que por ser bonito e atraente vai conquistar as mulheres
da cidade grande com botas de cowboy e um eterno bronzeado. De cara, claro, as
coisas não funcionam assim, toda grande cidade sabe ser cruel com os ingênuos.
De alguma forma, ele cruza com Ratso (Dustin Hoffman) e pode se dizer que se
tornam amigos. Os dois, miseráveis e sem trabalho, seguem tentando se dar bem e
enfrentando as consequências de muita pobreza e ideias românticas demais sobre
ganhar a vida, para dizer o mínimo. Os dois atores, hoje já grandes nomes da cinematografia americana, aqui estão soberbos. A trilha sonora
é de uma nostalgia gritante, da mesma forma que para nós é ver a Nova York de
mais de 40 anos atrás com um viés urbano de sombras, sujeira, vida real. O filme é tão bem construído
que trechos dele soam com documentais, tamanha composição realista daquela
rotina e narrativa. É impressionante e perfeito. Até o fim. Veja com calma, se
deixe levar pela história, não ache que é um filme comercial. Você vai se
impressionar. E se incomodar um pouco. Levou melhor filme, roteiro e direção no Oscar de 1970, além de outros 24 prêmios e 15 indicações.
1 Comentários
Muito boas as dicas. Texto consiso que desperta a vontade de ver os filmes. Ótimo trabalho.
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