Demon é um filme de expectativas.
Toda a sua narrativa, seu ritmo é um crescente em suspense que nos prende
minuto a minuto, com fotografia, enquadramentos, trilha e atores que juntos
garantem nossa ansiedade, nossa vontade de entender o que está acontecendo com
aquelas pessoas em uma festa de casamento. Até que algo dá errado.
A proposta de um filme de terror
é, obviamente, nos causar medo. Pode ser aquele de momento, que vem em uma
sequência de sustos e vemos o assassino ou, que me parece mais interessante, o que
trata do sobrenatural. Cada religião é composta de não sei quantos milagres e
mitos, lendas que pelo medo e pela fé nos mantêm firmes em tudo o que é
inexplicável. Assim, nos prendemos a elas, por acreditar que há algo além de
nossa compreensão e, mais simples e importante, há algo além.
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Peter :: Itay Tiran |
Hitchcock já dizia que um bom filme de suspense – era seu gênero, mas se aplica também ao terror – deve fazer sofrer ao máximo sua audiência. E seu diretor, Marcin Wrona*, constrói uma grande base: um forasteiro que pouca gente conhece, um mito judaico de possessão, a transformação do protagonista, a reação de sua mulher, um estranho concorrente ao amor da noiva e um professor, que parecem ver uma história se repetir – e talvez deem alguma dica, eu diria que está tudo com estes dois últimos – um padre com medo. Em paralelo, o casamento em si, uma grande festa e a decadência que se promete numa falsa elegância à base vodca suficiente para causar amnésia alcoólica coletiva no dia seguinte, sob um humor obscuro e refinado que os grandes filmes têm. O objetivo é esse mesmo, fazer com que todos esqueçam o que viram ali, aquele espetáculo esquisito, um noivo se comportando como qualquer coisa, uma imagem de vaidade de uma família abastada frente uma ameaça do passado, incontrolável, incontornável.
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Zaneta :: Agnieszka Zulewska |
A base do terror e do suspense
implica em não requerer grandes explicações a respeito de seus acontecimentos. Ao mesmo tempo, se
se deixa tudo como está o filme termina aberto demais, de forma que o
espectador não consegue encerrar a trama. Há algumas possibilidades aqui e o filme é lindamente construído, Turan
e Zulewska são grandes atores que seguram as cenas, especialmente o primeiro, que
traduz um personagem torturado em manifestações viscerais e inteligentes, mas
todas as conclusões que pensamos são frágeis, com peças soltas no
terceiro tempo da narrativa.
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Ronaldo (Thomasz Zietek) e Jasny (Tomasz Schuchardt) |
++++
*A triste curiosidade reside em seu diretor, Marcin Wrona, que cometeu suicídio durante o planejamento de lançamento do filme ano passado, na Polônia. Jovem de 42 anos, sem motivo aparente, o diretor, roteirista, professor de cinema e PHD em estudos sobre cinema nos deixou seus filmes como herança e já uma falta reconhecida no cinema europeu.
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