Vivemos um momento histórico e
sabemos disso. Talvez seja uma das poucas coisas de que temos certeza
ultimamente. Com nossa profunda e complexa crise política, é muito difícil
discutir com os amigos de opiniões diferentes explicando-lhes que opiniões não
necessariamente são carregadas de bandeiras coloridas. Podem não ter cor
nenhuma, podem nem ser bandeiras, inclusive. Assim, se estiver um pouco cansado
dessa dicotomia forçada que a grande mídia tenta produzir e que os mais
distraídos parecem comprar, te mando escolhas certeiras e outro assunto para debater.
Um pouco de cinema nunca fez mal a ninguém e as discussões aqui não encerrarão
amizades com certeza, mas estimularão o intelecto, a curiosidade e ampliarão a
forma de pensar. Não esqueça a política e embarque nela junto, pois é
importante pelo menos tentar entendê-la. Quando cansar, passa aqui, que te
ajudo.
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A pele que habito (2011, de Pedro Almodóvar) – 120 min |
Escolha certa para começar o fim
de semana com coragem. Almodóvar
sempre estará nas listas, faz parte do Olimpo dos grandes diretores, como Hitchcock,
Kubrick, Allen, Polanski, Scorsese, Kurosawa, Godard, Truffaut...me perdi. Antonio Banderas é Robert, um cirurgião
plástico que faz pesquisas genéticas avançadas de reconstrução de tecido humano
a partir de pele sintética. Viúvo, vive com Vera Cruz (Elena Anaya), uma mulher enclausurada, cuja obsessão o impede de
libertá-la e para isso, solicita a ajuda de Marilia (Marisa Paredes). Esse é só um trecho da história, cuja sinopse
completa estragaria maiores surpresas. Um dos melhores filmes de Amodóvar já feitos,
com alta carga de suspense e humor negro, apuro estético como poucos e
narrativa tensa até o fim. Surpreendente, se não viu ainda, corre, nem precisa
ver o trailer. Quanto menos se souber melhor sairá. Olha a crítica aqui!
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Enquanto somos Jovens (2014, de Noah Baumbach) – 97 min |
Um respiro depois do suspense.
Este é um filme despretensioso. Dirigido por Noah Baumbach, veio na sequência de Frances Ha, para mim ainda o melhor filme do diretor, muito
provavelmente por uma identificação com a protagonista e sua história. Em todo
caso, este parece nada, se visto sem muita atenção. Aparentemente besta em sua
estrutura, vai trazer comparativos interessantes do choque de gerações entre os
jovens – aqueles que estão entre os
20 e 30 anos – e os que acabaram de sair dali, entrando nos quarenta. Como não
vivemos nada parecido com a geração de nossos pais e a aceleração das
tecnologias e mudanças de comportamento não permitiram o amadurecimento de
antes, parece que nunca sabemos se ainda somos ‘jovens’ ou se já entramos na
categoria ‘adulto’, como se as duas coisas não pudessem coexistir e/ou se o
amadurecimento corresse mais lentamente (ou se quiséssemos ser jovens por mais
tempo). A dualidade é vista nessa comédia, em que há gente perdida demais,
entre uma coisa e outra. Leve, interessante, não espere muito, assim o filme
fica melhor. Com Naomi Watts, Ben Stiller
e Adam Driver, que desponta em
produções independentes, esteve em Frances Ha e na série da HBO, Girls. Também tem crítica! \o/
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Now: in the wings on a world stage (2014, de Jeremy Whelehan) – 97 min |
Kevin Spacey e Sam Mendes
se unem aqui, neste documentário-making of da turnê internacional da peça Ricardo III, de Shakespeare. Tudo acontece antes do ator encarnar Frank Underwood
em House of Cards, e ter a oportunidade de assistir às montagens das peças nos
maiores teatros do planeta deve ter sido uma das experiências da vida de muitos
daqueles atores. O filme extrapola o sentido primeiro de making of,
documentário e ficção, ao tempo que traz tudo de uma vez. Para além desse
hibridismo o filme cativa por mostrar o lado ‘ser humano comum’ dos atores
experientes e menos consagrados na mesma medida. O senso de equipe-família que
a convivência intensa proporciona, os luxos de uma apresentação teatral com
ares de blockbuster e a montagem, nos deixam boquiabertos. Estava buscando
referências do ator por conta de House of Cards – cujo roteiro foi baseado
também nesta tragédia e em Macbeth – e encontrei esta pérola, que traz muita
coisa de uma só vez. Há mais surpresas na relação com House of Cards, mas não conto aqui.
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O jogo da imitação (2014, de Morten Tyldum) – 114 min |
Grande filme, conhecido da
maioria das pessoas, concorreu ao Oscar
no ano passado e é melhor que muitos dos que competiram esse ano. Baseado em
fatos reais, conta a história de Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático homossexual que tentou desvendar
os códigos inimigos das comunicações trocadas na Segunda Guerra, a fim de
garantir informações estratégicas aos Estados Unidos em vista de vencê-la.
Reprimido por sua sexualidade, tentou encontrar formas de conviver profissionalmente
sob imensa pressão e sublimando sua vida pessoal, cuja opção sexual não era
aceita como normal. Concorreu a 8 Oscars, levando melhor roteiro adaptdado e
perdendo melhor ator para outro sensacional, Eddie Redmayne (Teoria de Tudo, A
Garota Dinamarquesa). Com Keira
Knightley, Matthew Goode, te prende até o último momento.
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Celeste and Jesse Forever (2012, de Lee Toland Krieger) – 92 min |
Na linha comédia romântica, um
filme bacana, desses que dá vontade de rever. Nem sempre as coisas acontecem
quando queremos ou esperamos. Aliás, quase nunca, vamos ser sinceros. Aqui não
é diferente e essa semelhança com a ‘vida real’ é o grande gancho do filme. Esta
é a história de dois amigos que tiveram um relacionamento, estão separados e agora
voltaram a ser amigos. Parece familiar? Pois. O filme vai um pouco além e o
casal tem uma química boa, que nos faz querer participar daquele momento. Vale
pro finalzinho do domingo, ali, antes de dormir. Com Rashida Jones, Andy Samberg
e Elijah Wood. Surpreendentemente, o
diretor Lee Toland Krieger fez este antes de A incrível história de Adaline,
um filme bem ruim. Vai entender.
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