Semana de Carnaval é sempre uma
loucura, né? Quem viaja pra curtir a festa não pensa em outra coisa, quem curte
na própria cidade, também. Tem os sortudos
que trabalham na véspera e aceitam sua condição, esperando os minutos passarem
em contagem regressiva para o feriadão. Tem gente que está no meio do caminho,
que queria o Carnaval ideal – no meu caso, o de Salvador – e se não tem, meio
que qualquer coisa serve: vira um feriadão para aproveitar um pouco da festa da
cidade, ir a praia, beber com os amigos e recuperar o tempo perdido dos filmes
em cartaz nos cinemas, dos VODs da vida e de nossa maravilhosa Netflix.
Não, não ganho um centavo para
fazer a propaganda, só acho que a empresa teve uma ótima sacada e que funciona
muito bem para ela e para o consumidor. Neste mesmo feriadão apareço aqui
novamente com as críticas de Carol e Spotlight, que estão quase prontas e
talvez mais alguns do Oscar. Enquanto isso, fiz essa listinha especial com 10
filmes para passarmos o tempo, darmos um intervalo nas festas, curarmos a ressaca
ou simplesmente, ficarmos de preguiça:
Embriagado de Amor (2002, Paul Thomas Anderson) – 95 min
Se você é desses que tem
preconceito com Adam Sandler, só
porque ele fez (fez mesmo) um monte de filme besta, assiste esse. Embriagado é um filme lindo em muitos
sentidos: é engraçado, mas inteligentemente engraçado. Acho que você não vai
gargalhar, mas vai rir da sutileza das coisas. O filme é lindo também porque
mostra um relacionamento entre duas pessoas muito diferentes, diferentes entre
si, diferentes do que costumamos ver. É lindo porque a fotografia é...um
negócio. E o roteiro é muito bom. Acho que este é um desses filmes subestimados
e que passam batido pela maior parte das pessoas, mas vale muito a pena. Ah, já
ia esquecendo, o diretor é ninguém menos que Paul Thomas Anderson, o cara que fez Boogie Nights (1997), Magnólia
(1999), Sangue Negro (2007) e O Mestre (2012). E ainda leva junto: Emily Watson e Phillip Seymour Hoffman. Agora já era, né? Tem que ver.
Janela Indiscreta
(1954, Alfred Hitchcock) – 112min
Hitchcock, gente. Esse é aquele
filme incrível que James Stewart é
um fotógrafo profissional que está se recuperando em casa de uma perna quebrada. De frente para sua janela há outros prédios, como eu, ele mora de fundos
e consegue dar uma olhada na vida da vizinhança nesses momentos de tédio. Lá
pelas tantas, acha que testemunha um crime, logo em frente, em uma dessas
janelas. Grace Kelly é seu par
romântico e co-protagonista na história. Ela é a mocinha independente que gosta
e cuida deste “namorado” e vai ajuda-lo a descobrir o que está acontecendo.
Muito voyeurismo, grandes diálogos e, é claro, suspense. Presta atenção: em
algum momento Hitch aparece, mas sempre discretamente.
Quero ser grande (1988, Penny Marshal) – 108 min
Anos 80, Tom Hanks, comédia. Só isso já vale o filme, né? Esse filme é
daqueles de magia, que de súbito você tem outra idade e tem que lidar com essa
realidade alternativa, sabe? Muito bom! Nos anos 80, onde tinha aquela
ingenuidade e algumas brincadeiras sérias demais para crianças, mas que nessa
década, de alguma forma, poderiam acontecer. Saímos desse filme super leves, querendo ser crianças novamente (sempre quero) e viver essa vida mansa sem grandes preocupações. Vai fundo!
Gilbert Grape:
aprendiz de sonhador (1993, Lasse Hallström) – 113 min
Parece que agora vai, né?
Finalmente Leonardo di Caprio vai
ganhar o tal do prometido Oscar. Ganhando todos os prêmios que aparecem pela
frente com seu O Regresso (do mestre
Iñárritu), o ator é dono de uma carreira sólida desde muito cedo. Neste filme
de Lasse Hallström, Leo interpreta Arnie Grape, irmão mais novo de Gilbert (Johnny Depp) em um drama familiar
adaptado do livro homônimo de Peter Hedges. Aqui, Gilbert é nosso protagonista,
ele quer sair dessa vida, mas precisa cuidar de Arnie, seu irmão que vive com
alguma deficiência cognitiva e sua mãe obesa, que nunca sai de casa. Com a
família nas costas, vê seus sonhos de mudança cada vez mais distantes.
Se você perdeu esse filme na ‘sessão da tarde’ ou naquele ‘domingo maior’,
aproveita e assiste. É engraçado, terno, duro, triste e muito muito bom. Foi
aqui que Leo recebeu sua primeira (de seis) nomeação ao Oscar – pra quem leva
isso muito a sério.
Fargo (1996, Joel
Coen e Ethan Coen) – 96min
Um crime mórbido e planejado.
Personagens cruéis e algo dá errado. Uma investigadora grávida. Esse filme fantástico é como Cães de Aluguel pra mim, um dos
melhores do gênero. Os irmãos Coen são responsáveis por algumas das melhores
produções inteligentes do cinema americano das últimas décadas e esse, com
certeza, está nesse rol. Com 69 prêmios e 2 Oscars, carrega ninguém menos que
William H. Macy, Steve Buscemi, Frances McDormand em performances únicas. É
engraçado, sórdido e inteligente. E meio cruel. Mas veja.
A vida de outra mulher (2012, Sylvie Testud) – 97min
Na linha de Quero ser grande, ninguém menos que Juliette Binoche é a protagonista desse romance diferente. Um dia,
Marie Speranski acorda e se encontra com um perfil que não parece ser o seu, já
que nesse despertar se passou uma noite desde os seus vinte e poucos e ela ainda
era uma estudante sem grana. Agora, uma mega empresária com vista para a Torre
Eiffel, ocupada e em um casamento em ruínas. Juliette contracena com Mathieu Kassovitz, um dos atores mais
relevantes do cinema francês atual. Vale muito ver essa atriz se adaptando num duplo papel, em choque com sua 'nova' realidade.
Tem uns filmes que nem dão
vontade de escrever nada. Dá vontade de dizer apenas: vá ver e depois a gente
conversa. É o que acontece com esse aqui. Taxi Driver é sensacional. Acho que
eu o vi mais nova e revi há uns poucos anos e ficou na minha cabeça de uma
forma...que comprei o dvd e assisto algumas vezes por ano. É a melhor fase de
Scorsese, um desses diretores que sempre acompanhamos. Para quem não liga o
nome aos bois, Scorsese é diretor de Touro
Indomável (1980), Alice não mora
mais aqui (1974), Depois de Horas
(1985) sem falar nos novos que são também bons, mas esses aí moram no meu
coração há mais tempo. Robert De Niro
é Travis, um motorista de táxi entediado, veterano do Vietnã, vivendo em NY, achando
tudo aquilo de uma sujeira moral e física avassaladoras. Em um desses dias, se
depara com Betsy (Cybill Shepherd)
que lhe causa uma comoção pela beleza da moça. Mas as coisas não andam bem e
Travis começa a se descontrolar. Durante o filme
ainda vemos Jodie Foster fazendo uma
prostituta adolescente e Harvey Keitel
como seu cafetão.
Um método perigoso (2011,
David Cronenberg) – 99 min
Cronenberg é conhecido por fazer
filmes estranhos. Não simplesmente “cults” ou “alternativos”, mas que
transmitem uma sensação de bizarro, de estranheza mesmo. Neste filme ele segue
muito mais sóbrio do que no início de carreira, trazendo uma história baseada
em fatos reais que conta o início do relacionamento entre
Freud (Viggo Mortensen) e Jung (Michael Fassbender) e o desenvolvimento
da psicanálise. No meio disso tudo, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma paciente de Jung
com distúrbios psicológicos e que depois se torna, ela mesma, uma das primeiras
psicanalistas. Bem construído, com Keira se contorcendo enquanto paciente em agonia – sendo ela talvez a estranheza – nos sentimos no filme como
observadores de um momento único na história moderna, evidenciando o velho
clichê de que de perto ninguém é normal,
mas participando das discussões nos diálogos rápidos e bem
construídos sobre as teorias de cada um e como elas se contrapõem às suas
vidas. Parece sério demais, mas pense que quem fez este, fez também A Mosca (1986), Mistérios e Paixões (1991),
Cosmópolis (2012) e Mapa para as
Estrelas (2014). De narrativa o rapaz entende.
Mad Men (2007-2015, Matthew Weiner) –
50min/episódio
Se você quiser ser agressiva(o),
tem essa grande opção de série, 7 temporadas, que encerrou oficialmente ano
passado me deixando órfã e triste. Mad Men trata da vida de uma agência de publicidade de Nova York que
sai dos anos 50 e entra na era de transformação das comunicações, a década de
60. Tem histórias reais da propaganda, interação com marcas de verdade e as
vidas no trabalho e pessoais daquela equipe, com um elenco de peso: Jon Hamm, Elisabeth Moss, Vincent
Kartheiser, Joan Harris, John Slattery e tantos outros.
Vencedora de não sei quantos Emmys ao longo de suas temporadas, a série é
maravilhosa. O roteiro te deixa sem querer respirar e há uma complexidade de
personagens pouco vista hoje, junto com o tratamento histórico real da época. Tem tudo: drama, comédia, romance e muita emoção. Direção
de arte, fotografia, figurino, trilha sonora, o final de Mad Men foi, como diz
seu último slogan the end of an era.
É uma das melhores séries já feitas. Finalmente uma crítica! :)
Promises
(2001, B.Z.Goldberg, Justine Shapiro e
Carlos Bolado) – 106 min
Para encerrar essa maratona, um
documentário que traz alguma esperança. Promessas
de um novo mundo (título em português) eu vi tem bastante tempo. De 2001, o filme acompanha a vida de sete crianças judias
e palestinas em Jerusalém e como elas se percebem, percebem o outro e convivem.
Nestes três anos, vemos as mudanças por que passam essas crianças, a inocência
que vai se perdendo e como em cada família os ideais e visões políticas podem
ser tão distintas. O filme é incrível porque parte do olhar da infância até uma
parte da adolescência e percebemos as ingenuidades se fragmentando, ainda que
permaneçam nestas idades. É um olhar que busca o complexo, sair da
dicotomia de que quem se considera certo e errado em questões bastante
delicadas e elas também, complexas. Fundamental.
Valeu pelas dicas. Serao seguidas!:)
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