O Blah Cultural, revista de cultura virtual em que escrevo algumas
críticas de cinema, solicitou a mim e aos outros colaboradores uma lista dos nossos melhores filmes do ano. É um negócio bem complicado esse,
porque são muitos os aspectos a considerar, além do gosto que, claro, é um
grande motivador. Assim, a revista traçou a média dos colunistas e a matéria
final está aqui, nesse link. Por outro lado, achei legal deixar minha listinha
aqui, que considera apenas os filmes que vi – o que significa que podem haver
filmes ainda melhores que estes da lista, eu só não tive o prazer de
experimentá-los.
Escrevi a crítica. O filme é grandioso sob muitos aspectos: o apuro estético e uniforme, quase matemático do figurino contrastando com a fotografia e os enquadramentos. Estes valem por si só e seu sentido é explicitado através da montagem, com o crescimento de uma tensão silenciosa que nos acompanha e é potencializado a cada sequência. Um roteiro que nos brinda com a chegada de uma família aparentemente perfeita e feliz – como muitas o são quando vistas a uma certa distância – para uma semana de esqui em um grande resort. Em certo momento, uma catástrofe se anuncia e o resultado disso impactará gravemente em cada um. Ainda assim, o filme não sai hermético, mas consegue sustentar um humor refinado e brutal. Esse é um daqueles filmes que podem ser vistos várias vezes.
É um dos que devo a crítica
ainda. Vi já no final do ano e é um filme que surpreendeu pelo longo tempo que
ficou em cartaz. Viviane Amsalem vive em Israel e solicita o divórcio a seu
marido, que lhe nega incontáveis vezes. A batalha dessa mulher na corte para
conseguir o seu direito esbarra num código que, mais uma vez, favorece o homem,
quando apenas com o consentimento dele – e não uma decisão judicial imparcial –
é possível conseguir a separação. O filme se passa quase todo numa mesma sala,
a corte, com os mesmos personagens e praticamente o mesmo diálogo, deixando
claro, mas não cansativo para o espectador, o absurdo da situação. Ronit
Elkabetz é Viviane e também a diretora da obra, persistente e paciente até o
limite da razão. Prometo que é o oposto do tédio.
Com certeza o melhor filme
brasileiro do ano. A crítica está aqui e ainda fiz uma entrevista com o diretor.
Baseado no livro homônimo de Milton Hatoum e primeira ficção do diretor, com Dira Paes e Daniel de Oliveira em um drama rodado no Pará. Uma
história em que amor, família, herança e mistério caminham juntos com uma
fotografia que deixa qualquer um que já visitou a região morrendo de saudades.
Se no início somos seduzidos pelo encontro dos dois protagonistas, até o final seremos
sugados não só por eles, mas por uma busca insana que Arminto (Daniel de
Oliveira) precisa fazer para conseguir viver. Não dá pra falar mais do que
isso, sem tirar a graça.
O primeiro filme que vi da diretora
foi Em um mundo melhor (2010). Filmado na África, conta a história de um médico que
precisa decidir se salvará a vida de um terrorista local, cujo prazer consiste
em estuprar e assassinar mulheres. O conflito ético resvala numa crise familiar
de tal forma que sentimos a mesma dificuldade sobre que rumo tomar, caso
estivéssemos naquela situação. Em Segunda Chance há outro conflito. Aqui um
policial perde o filho ainda criança e precisa decidir se ficará com o bebê de
um bandido, cuja família é incapaz de lhe oferecer uma vida melhor. Mais uma
vez, a diretora nos deixa entregue à nossa moral. Tenso até o final e com
atuações impecáveis, por favor, veja e vamos discutir! A crítica está aqui.
Uma mulher cega em seu
apartamento passa os dias ouvindo música sentada numa cadeira em frente a uma
janela que tem vista para a rua. Assim conhecemos Eilin e sua condição é tanto
ponto de partida quanto metáfora para si e demais personagens. O filme tem um
roteiro intricado e original que nos prende nos dias sem fim da protagonista,
nas experiências dos coadjuvantes e, mais importante, na forma de contar suas histórias.
A marca mais forte é o aspecto sensorial, que nos faz chegar mais perto de
Eilin, de sua condição, passamos a participar de seu tatear, de reconhecimento
de espaços, de sua adaptação – ela não nasceu cega. Norueguês e primeiro longa
do diretor, não temos a velocidade de um filme comum e nem precisamos. Merece ser visto.
Primeiro documentário da lista, Ingrid
Bergman é a atriz de Casablanca (1942, Michael Curtiz), para quem não se recorda. Essa mulher sueca e
linda é vista aqui em seus filme de família, com depoimentos sobre sua
trajetória fílmica e pessoal, suas correspondências, seus amores e filhos. A
riqueza está tanto nas imagens de arquivo como em um reconhecimento ainda maior
que daremos a essa atriz após saber mais dela. Não é um filme biográfico de fã
que ressalta apenas as qualidades e sucessos do objeto de estudo, mas tenta dar
um apuro humano, relegando a nós os julgamentos, questionamentos e
qualificações. É um filme lindo, íntimo e pessoal sobre uma das maiores atrizes
de todos os tempos. A crítica tá aqui!
Esse pode ser o Segundo documentário
da lista, se não restringirmos muito o significado do gênero. The Wall foi a última turnê feita por Roger Waters – ex-Pink
Floyd até agora e ele o transformou num filme grandioso – em todos os sentidos.
Mistura de documentário, show, biografia, espetáculo, ficção, poesia e
manifestação, merece ser visto na maior tela que você dispor, porque é um
deleite para os olhos. O show em si, que está integral aqui, nos deixa morrendo
por dentro por não termos ido, mas a captação foi tão bem arquitetada para áudio
e imagem, que é a definição ideal de prazer para os olhos. Há que gostar do
disco The Wall, mas imagino que não seja problema para a maioria das pessoas de
lucidez. :) A crítica!
Outro nacional, Que horas ela
volta? conta uma história sem novidades. Uma doméstica (Regina Casé surreal,
porque não parece a do Esquenta!) pernambucana vive numa casa de classe média
alta em São Paulo e recebe a notícia de que sua filha virá à cidade para
prestar vestibular. Com o aval da família para quem trabalha, recebe sua filha
que passará um tempo ali, no quartinho dos fundos que a mãe habita. Só que essa
moça recebeu educação e senso crítico que lhe permitem questionar um sistema a
partir de dentro, de seu funcionamento orgânico e esbarrará nas estruturas de
poder e preconceitos vigentes. Vale cada centavo e, mesmo não sendo novidade,
foi surpreendente. Conto mais aqui, mas não deixe de ver.
O Blah me encaminhou para
assistir esse documentário sobre um diretor de cinema chinês de quem eu nunca
tinha ouvido falar. Pensei: lascou, não tenho tempo para ver os filmes
e gosto de estudar, saber de quem e o que estou falando. Mas fui em
frente, por conhecer Walter Salles, estudar documentário e gostar de desafios.
O filme é maravilhoso porque ultrapassa a superfície da cinematografia do
diretor e expande para o pequeno
universo das relações humanas, do progresso e futuro, do cotidiano em uma sociedade
fechada, para os conceitos de família e vida, de escolhas. O filme consegue ser
tanto pequeno, quando trata do dia-a-dia e da feitura dos primeiros filmes do
diretor sem orçamento, para um olhar macro, que revela aos poucos a
grandiosidade desse diretor jovem e extremamente sensível e inteligente. Pode ver sem medo, provo aqui. Vai ser bom.
Sim, é aquele filme com a menina
de Crepúsculo. E sim, é possível que ela esteja atuando bem. Neste drama, Maria
Enders (Juliette Binoche) é uma atriz que recebe uma proposta para fazer uma
personagem mais velha de uma obra em que havia trabalhado décadas antes como a
personagem mais nova. Valentine (Kirsten Stewart) é sua assistente pessoal que
estará ao lado dela para o funcionamento de sua agenda e carreira e será um dos
pontos de conflito, quando a relação entre elas ganha outras cores. É uma
história dentro da história com tantas nuances que só não ficamos perdidos
porque a direção e o roteiro são extremamente bem executados. É um thriller,
drama, romance e algo de comédia ao mesmo tempo. E tem Juliette Binoche,
precisa dizer mais?
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