
Enquanto somos jovens é o tipo do filme que te deixa em
dúvida quando você passa pelo cartaz. Naomi Watts e Ben Stiller parecem um
casal improvável para o cinema, ele meio bobo, ela, uma atriz de peso maior. Não
suficiente, Amanda Seyfried quase nos faz desistir de vez – não fosse um filme
de Noah Baumbach (dos lindos A Lula e a Baleia e Margot e o Casamento) chamando novamente Adam Driver – tudo estaria perdido.
Exageros à parte e explicando melhor o diretor e seu pupilo:
os dois estiveram juntos em Frances Ha, outro filme sobre maturidade, sensível,
amoroso, engraçado, em p&b e com uma trilha sonora genial. Frances Ha
surpreende em mil e um aspectos e nos mostra como é difícil tornar-se adulto
quando se é uma alma criativa e delicada em uma cidade grande – as oportunidades
chegam na gradação dos desafios.
Ben Stiller é Josh, um documentarista que não consegue
terminar seu novo filme. Em anos de preparação e montagem – e algumas
regravações – a insegurança em produzir algo o impede de entregar a obra e ele
se divide entre a postergação e as aulas que ministra na universidade. Lá,
descobre Jamie (Adam Driver), um aluno aficionado por seu trabalho, lhe
oferecendo o carinho no ego e assim, a vaidade de Josh volta à tona como um
filho sempre elogiado pelos pais. Naomi Watts é Cornelia, casada com Josh e
produtora dos documentários do pai, então um diretor renomado, que tenta sempre
ajudar o genro. A amizade de Jamie – e Darby (Amanda Seyfried), a namorada –
com Josh e Cornelia são o cerne da trama. A graça toda começa aí e admito logo
que o filme parece que foi feito pra mim – assumo o egocentrismo – tratando de
documentário, verdades e mentiras na realização de uma obra, os mestres do ‘gênero’
citados, analogias sobre o que é verdade e simulacro, a ética na produção artística,
o refinamento da comédia – ainda que esbarre em alguns exageros – maturidade e o mais
importante: a brincadeira com esse novo personagem das metrópoles – o hipster.
O hipster é o cult amplificado. Antes era tudo sobre
filmes estrangeiros, tatuagens, rock e cabelos compridos. Agora é uma
categoria, um acumulado de percepções que mistura toda a superficialidade de ser alternativo – o hipster continua como o cult,
lendo as primeiras páginas de todos os livros, cultuando bandas que ninguém
ouviu falar, odiando hollywood, indo pra exposições
de arte contemporânea e performances de artistas desconhecidos, usando o mesmo uniforme, criticando o que lhes é alheio em festas estranhas
com gente esquisita. Com todo o exagero que uma redução assim traz, o filme
traça o paralelo entre essa turma e aqueles que passaram por ela e veem nessa
juventude, uma espécie de espelho distorcido de um passado glorioso.
O novo dá lugar ao retrô ao mesmo tempo que a instantaneidade é a marca dessa
geração. Tudo deve acontecer ao mesmo tempo, tudo tem que ser registrado, tudo
é audiovisual, tudo serve, é arte. Se quando lançaram a franquia BBB, incomodava
a invasão da vida alheia, a exposição de intimidades na tv, hoje fazemos
gratuita e voluntariamente nas redes sociais – não espanta a redução da
audiência dos programas (sem mencionar a qualidade). Ao mesmo tempo, o estímulo
dessa forma de registro encontra a alimentação na vaidade e carência e aí Josh
se perde, confunde seu papel de mestre como o de alguém que deve ser ovacionado e faz de tudo para continuar jovem, afinal, são um casal de meia idade sem filhos, então, com a liberdade garantida para se manterem assim – em oposição ao casal de quem se afastam, da mesma idade: são amigos que acabam de ter um filho, passam a lidar com o nascimento da família e vêem o fim das fantasias e aventuras de então.
O filme percorre os conflitos e diferenças entre as gerações, em um roteiro rico de comparações mordazes em dores e alegrias que os casais
dividem. Mais uma vez, não consigo ver muito aprofundamento em Amanda
Seyfried, mas Adam Driver é o perfil exato – como Woody Allen em seus filmes,
sempre o mesmo e sempre bem – da caricatura do jovem antenado, enquanto Ben
Stiller e Naomi Watts se esforçam – em ótimas performances – para alcançá-lo,
se perdendo sem perceber. Em paralelo ao tratamento da maturidade – tema frequente nos filmes do diretor – vemos uma homenagem ao cinema com um esboço de uma discussão teórica bem inserida no contexto do filme – a ética na construção de uma obra esbarrando no caráter de quem a fez. E aí é debate sem fim, cuja solução encontrada aqui é apenas uma das possibilidades – e que já levanta polêmicas.
Comédia leve e despretensiosa que de 'boba não tem nada', não chega a ser um Frances Ha, mas consegue nos deixar pensando – especialmente se você está entre os dois casais – sobre crescer, sobre até onde vai o jovem que ansiamos ser eternamente e em que momento encontramos – sem maiores tragédias – a maturidade. Ainda que o final da história se atrapalhe num clichê, é garantida a diversão neste filme para ver depois de um longo dia de trabalho.
Comédia leve e despretensiosa que de 'boba não tem nada', não chega a ser um Frances Ha, mas consegue nos deixar pensando – especialmente se você está entre os dois casais – sobre crescer, sobre até onde vai o jovem que ansiamos ser eternamente e em que momento encontramos – sem maiores tragédias – a maturidade. Ainda que o final da história se atrapalhe num clichê, é garantida a diversão neste filme para ver depois de um longo dia de trabalho.
1 Comentários
Também adorei a despretensão do filme que conseguiu fazer uma crítica hilária da cultura hipster e ainda levantar um velho dilema ético: será que os fins justificam os meios?
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