Segunda Chance
Comecei a prestar atenção no
trabalho de Susanne Bier a partir de Em
um mundo melhor, de 2010 que levou o Oscar de Filme Estrangeiro. O filme
contava a história de um médico europeu em missão na África que precisava
decidir se salvaria a vida de um ditador desses que trucida mulheres em todos
os níveis e assassina a oposição. Em paralelo, mistura-se o profissional e o
privado, à medida que sua família desmorona no outro continente com uma crise
conjugal e um filho adolescente que se torna amigo de um garoto problemático. A
obra consegue nos tornar permeáveis ao que se passa e nos colocamos na posição
do protagonista – e aí a coisa muda de figura e entendemos porque além do
Oscar, levou o Globo de Ouro e outros 10 prêmios pelo mundo.
Antes disso, em 2007, mas com menos impacto, ela já tinha feito Coisas que perdemos pelo caminho sobre o luto e a reconstrução da vida – também com uma questão a ser resolvida aqui. O filme bom, com atuações impressionantes de Benício Del Toro e Halle Berry já identificava o tema das perdas em nossas vidas – mas não havia me chamado à atenção para a direção.
Antes disso, em 2007, mas com menos impacto, ela já tinha feito Coisas que perdemos pelo caminho sobre o luto e a reconstrução da vida – também com uma questão a ser resolvida aqui. O filme bom, com atuações impressionantes de Benício Del Toro e Halle Berry já identificava o tema das perdas em nossas vidas – mas não havia me chamado à atenção para a direção.
Este ano estreou Segunda chance. Outro dilema moral, aqui
a história está centrada no policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau – Jamie
Lannister, de Game of Thrones), casado, que de repente encontra seu filho de um
ano morto em casa. Em desespero ao ver sua mulher Anna (Maria Bonnevie, de
Reconstrução de um Amor) em uma crise irreversível, revisita a casa
onde havia feito uma batida policial e cuidara de um bebê com sinais de maus
tratos, deixa o corpo de seu filho e pega a criança viva, acreditando que o
casal viciado em drogas entenderá que o bebê morreu de alguma forma e que eles
não teriam condições de salvá-lo. Esse é o trailer de um filme que nos deixará
tensos até o último minuto.
O que parece o início de
uma trajetória difícil é só a ponta do iceberg de um dilema moral em que,
novamente, a diretora consegue nos atingir fundo. Sofremos com Andreas e
Anna – entre o luto e a aceitação de uma segunda chance de felicidade – se é que
existe a possibilidade, sofremos com Sanne (a modelo-agora atriz, May
Andersen), mãe da criança que insiste em dizer que aquele cadáver não é seu de filho, e só não sofremos com Tristan (Nikolaj Lie Kaas, também de Reconstrução de um
Amor) porque ele realmente é um cara complicado e garante algum humor ácido. Com um elenco estelar do cinema dinamarquês e uma tensão que não nos permite piscar, não sabemos o que esperar do final de uma
história tão intensa.
Uma amiga escreveu sobre o filme tratando da dramaticidade da história, de como as perdas e o tema forte pesaram
nela. Para mim e também para Camila – a comadre das sessões semanais de cinema –
a percepção foi outra: o roteiro é tão bem construído e a diretora já tem em si
o olhar de mostrar a vida como ela é
ao invés de criar uma trilha sonora e construção de cenas que enfatizassem a lá novela a trama e o drama, que a
ânsia era em ver o desfecho e entender – como consegui minutos antes da
dissolução – como a história se fecharia. E saímos satisfeitas – se a palavra for essa e perplexas com o que vimos.
Além da estrutura narrativa ter
seu peso comprovado em atuações impecáveis – como ver os olhares de pânico e choque de Maria Bonnevie
se transformando, o desespero do personagem Andreas e até a
relação que mantém com o veterano Ulrich Thomsen (Em um mundo melhor) como
Simon, seu amigo e colega de trabalho que também convive com seus demônios, a fotografia e as locações reforçam a
obra. É interessante entender o contexto cultural – é quase bizarro ver a mãe levando o filho que chorava em passeios noturnos para acalmá-lo. Ela
caminhava de sua casa – num bairro deserto – tarde da noite, levando o filho
num carrinho de bebê no acostamento das ruas na tranquilidade de um domingo no
parque. Só em ver a cena, o público brasileiro já imagina que alguma tragédia
acontecerá, mas não: é o dia-a-dia de uma cidade muito mais segura do que as
nossas. A própria residência – cujas luzes da fachada reforçavam a delicadeza
da fotografia – ressaltavam o afastamento do centro urbano. A ideia era deixá-los isolados, evidenciando tanto uma
necessidade de se manter a paz e felicidade familiares (ou até o
desespero nas cenas seguintes), como uma vida perfeita em oposição ao apartamento
entulhado, sujo e desorganizado do casal ‘bandido’.
Lançado internacionalmente ano passado, resta saber se terá fôlego para mais alguma premiação além do título em San Sebastian e outras quatro indicações. De qualquer forma, este tem o mesmo peso de Em um mundo melhor e ainda deixou a vontade de ver o restante da filmografia da diretora. A certeza da evolução estética e narrativa é um fato, nos dando a quase certeza de que bons filmes dessa diretora nos aguardam.
Lançado internacionalmente ano passado, resta saber se terá fôlego para mais alguma premiação além do título em San Sebastian e outras quatro indicações. De qualquer forma, este tem o mesmo peso de Em um mundo melhor e ainda deixou a vontade de ver o restante da filmografia da diretora. A certeza da evolução estética e narrativa é um fato, nos dando a quase certeza de que bons filmes dessa diretora nos aguardam.
2 Comentários
Comadre!!!! Filme ótimo. Realmente sai maravilhada com o filme (de ser tão bom) e sem palavras por ser tão chocante. :*
ResponderExcluirA amiga que escreveu sobre o filme agradece a menção! E dá-lhe Susanne Bier e suas porradas emocionais nos nossos estômagos e corações.
ResponderExcluirBjos