Buscar apartamento no Rio de Janeiro não é uma tarefa fácil. Não é
para corações fracos e há que ter estômago. É uma situação absurda frente o
valor dos imóveis (especialmente na zona sul) e a abordagem anacronicamente
esnobe das imobiliárias. Parece sempre que estamos pedindo um favor: por favor,
me permita alugar este imóvel por um preço abusivo. Nesse momento, precisamos
parar um pouco pra respirar. Tem gente que enche a cara, faz meditação,
terapia, se estressa ainda mais... entre tantas coisas que também faço, uma
delas é imprescindível: ir ao cinema. São várias opções para destilar o ódio no
coração que fica fácil passar duas horas numa sala escura não pensando na vida
real.
***
Outro dia consegui escolher o filme: O Exótico Hotel Marigold é
uma comédia leve, com grandes atores e que parece ser um desses filmes de
verão, só que inglês (ao invés daquelas coisas meio sessão da tarde americanas).
Com um roteiro leve e promessas de satisfação garantidas no trailer, ficou
fácil. A história começa com a apresentação dos protagonistas: uma turma no fim
da meia idade, insatisfeita com a vida que leva na Inglaterra, encontra num site
a propaganda deste hotel magnífico, numa área paradisíaca da Índia e prometendo uma
experiência única de vida. Um espaço para passar seus golden years em grande
estilo. O grupo se conhece no aeroporto ao descobrir que têm o mesmo destino.
No elenco indiano, encontramos Dev Patel (o protagonista de Quem
quer ser um milionário), como o gerente do hotel. A interpretação dele incomoda
um pouco. Não sei como são os indianos na vida real, mas este me pareceu
extremamente agitado para qualquer padrão. Com uma necessidade de sempre
agradar os clientes num hotel caindo aos pedaços e os tendo como únicos
hóspedes, não poderia ser diferente, mas ele sustenta uma aura de extrema
ansiedade, combinada com uma agitação exagerada. A falta de respiração é tão constante que sua presença cansava, imaginando aquela positividade como uma esperança
diante do impossível, uma agonia romântica. Em contrapartida, quase todos os
outros personagens indianos do filme são pacientes, na medida correta (ou verossímil...).
Judi Dench é quem carrega o filme do lado inglês. Ela é nossa
narradora ocasional a partir do momento que decide escrever um blog para contar
ao filho à distância, a nova aventura. Ela acaba de se tornar viúva e viver na
Inglaterra sem o marido perdeu o sentido. Como alternativa, resolve partir do
zero num país desconhecido, completamente diferente de tudo o que já viu e com
pessoas que lhe eram estranhas. Com coragem, consegue um emprego numa empresa
de telemarketing, tendo como diferencial treinar os funcionários para atender o
púbico de que faz parte adequadamente.
Encontramos também outros grandes atores, todos nomeados no cartaz,
com destaque para Bill Nighy, no papel do marido que todos gostaríamos de ter.
Este homem doce e gentil sofre com a intolerância da esposa que não consegue enxergar
além de seu universo de mulher mimada e preconceituosa portanto, não se adapta.
Ainda e não menos importante, Maggie Smith faz uma das personagens importantes, talvez a que mais se transforma. Com uma postura rígida, acompanha a maior parte das outras estórias individuais, mas, ao contrário de Judi Dench que nos conta um pouco mais de si e dos outros, a primeira atua como uma observadora crítica e distante. Ao mesmo tempo, a partir do momento em que necessita da ajuda de outro e aí o confronto com as diferenças entre as culturas se torna evidente, é que surge a reviravolta e sua história se transforma.
Cada um parece estar ali não apenas para essa experiência exterior, como para – lembrando Comer, Rezar, Amar – se reencontrarem. Os dois filmes são parecidos nesse sentido; os personagens vão a um lugar diferente, buscando o estranho e acabam reconhecendo e relembrando quem são. Como o roteiro é estruturado em cima de um grupo protagonista, temos ritmo e alguns momentos-chave; as interpretações dos estereótipos ganham peso frente às estórias particulares que devem preencher. Ali, sem conhecer ninguém, não é necessário manter uma máscara ou uma postura defensiva, mas dá para baixar a guarda e se permitir não censurar.
Com uma leveza nada boba – ao contrário de Comer... que acaba irritando quem o assiste – o filme nos guia entre piadas, estórias nem sempre tranqüilas e uma boa dose de sinceridade. Judi Dench nos carrega e junto com seus novos companheiros de vida mostram que uma nova oportunidade está sempre ali – com o perdão do clichê – basta saber procurar. Neste caso, a conclusão do filme tem ainda um plus, de não sabermos exatamente como terminaria cada estória, sem, no entanto, deixar nada por responder.
Ainda e não menos importante, Maggie Smith faz uma das personagens importantes, talvez a que mais se transforma. Com uma postura rígida, acompanha a maior parte das outras estórias individuais, mas, ao contrário de Judi Dench que nos conta um pouco mais de si e dos outros, a primeira atua como uma observadora crítica e distante. Ao mesmo tempo, a partir do momento em que necessita da ajuda de outro e aí o confronto com as diferenças entre as culturas se torna evidente, é que surge a reviravolta e sua história se transforma.
Cada um parece estar ali não apenas para essa experiência exterior, como para – lembrando Comer, Rezar, Amar – se reencontrarem. Os dois filmes são parecidos nesse sentido; os personagens vão a um lugar diferente, buscando o estranho e acabam reconhecendo e relembrando quem são. Como o roteiro é estruturado em cima de um grupo protagonista, temos ritmo e alguns momentos-chave; as interpretações dos estereótipos ganham peso frente às estórias particulares que devem preencher. Ali, sem conhecer ninguém, não é necessário manter uma máscara ou uma postura defensiva, mas dá para baixar a guarda e se permitir não censurar.
Com uma leveza nada boba – ao contrário de Comer... que acaba irritando quem o assiste – o filme nos guia entre piadas, estórias nem sempre tranqüilas e uma boa dose de sinceridade. Judi Dench nos carrega e junto com seus novos companheiros de vida mostram que uma nova oportunidade está sempre ali – com o perdão do clichê – basta saber procurar. Neste caso, a conclusão do filme tem ainda um plus, de não sabermos exatamente como terminaria cada estória, sem, no entanto, deixar nada por responder.
Título Original: The Best Exotic Marigold Hotel
2011, 124min, Reino Unido.
Diretor: John Madden.
2011, 124min, Reino Unido.
Diretor: John Madden.
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