O filme de hoje do Festival do Rio me veio de presente
através de um convite. Não havia visto o trailer, mas a sinopse me dizia algo
de interessante e fui arriscar. O diretor apresentou a sessão, dizendo uma das
coisas mais legais que todo nerd cinematográfico gosta de saber: a presença de
outro diretor, ainda mais bacana na mesma sala. Dario Argento estava lá. E
suspeito que do meu ladinho. Mas isso é tudo sobre ele.
O filme trata da história de uma Cônsul italiana na África
do Sul se preparando para voltar a seu país. Conhece uma sul-africana que lhe
pede ajuda para reencontrar seu companheiro, um fotógrafo que estava
investigando o tráfico de humanos. O interesse da Cônsul é romântico: Marco,
este fotógrafo, havia sido um grande amor cujo relacionamento foi rompido com
muito sofrimento para os dois e algum mistério para um. E aí a Cônsul resolve
entrar na jogada e tentar descobrir que fim teve esse rapaz.
Mas a grande questão é que o filme se perde. O diretor
respondeu algumas perguntas após a sessão e explicou que queria mesmo enfatizar
o tráfico humano, trazendo um conflito amoroso, mas o filme acaba ficando
muito vazio e resulta no contrário: um pano de fundo com tema forte e tratado
por cima, reforçando o diálogo sobre os relacionamentos destas mulheres. A Cônsul
parece uma mulher alienada que viveu muito tempo numa situação de conforto, em
que tudo que está além de sua casa e consulado não existe, não está a seu
alcance e, de repente, ela se envolve
com tudo e todos, levantando uma bandeira justa, mas aparentemente com outro
objetivo. A sul-africana, por outro lado, perde muito tempo querendo saber que
tipo de relacionamento eles tiveram, ao invés de buscar respostas com outras
perguntas que seriam mais úteis.
Me recorda um pouco o que vivemos aqui no Brasil, no Rio
especialmente. O Rio é dividido em setores: Zona Sul, Oeste, Norte e Centro. Eu
considero o Centro como uma extensão da Zona Sul. É muito perto e muito
parecido em muitos aspectos. A Zona Oeste me parece ser mais heterogênea, mas
tem o problema de respirar uns ares de Miami que deixam as largas avenidas
estéreis e estranhas. E a Zona Norte, imensa e ainda uma interrogação pra mim,
é a zona mais humilde, que concentra a maior parte da população e que faz com
que a cidade efetivamente funcione. O incrível é que para muitos moradores da
Zona Sul, a Zona Norte está muito distante, não existe praticamente. Essa noção
espacial é reafirmada cotidianamente por seus moradores, como acontece com nossa
protagonista Cônsul.
O que realmente irrita é que no processo de busca de um
fotógrafo italiano talvez seqüestrado por traficantes escravocratas, os
diálogos entre a atual companheira e a antiga são de uma futilidade tremenda.
Enquanto a preocupação com a vida deste personagem invisível deveria estar
sempre em primeiro plano e mobilizar muito mais do que duas mulheres - lembrando que uma delas é CÔNSUL e teria relações, no mínimo políticas, que favorecessem o caso - as mesmas disputam uma preferência impossível em discussões vazias, reduzindo seus
próprios personagens a duas mulheres poderosas, mas paradoxalmente inseguras.
Com assuntos tão sérios em pauta, ‘quem vai ficar com ele’ não deveria ser tão
importante. O amor poderia e foi destacado no filme e é plausível, mas o eterno
embate é cansativo. E a Cônsul mantém uma aura de mistério o tempo inteiro, em
que não sabemos exatamente como foi o fim do relacionamento, sendo que isso
pouco importa na trama do filme.
Acho que o pano de fundo acabou sendo o tráfico de escravos,
e não o mote principal, como me parecia ser e que foi o que me trouxe ao filme.
Algumas tentativas existem, a Cônsul visita abrigos de mulheres, conhece um
traficante, se mete em algumas roubadas, acreditando que seu título a salvará
no final - outra ingenuidade estranha vindo de uma mulher que aparenta ter alguma experiência no cargo. Ainda, a montagem poderia ser mais enxuta e o filme talvez resultasse
mais curto, se eliminássemos metade das discussões redundantes e fúteis. Com um
tema tão caro à África do Sul e ao restante do mundo, o mínimo a se esperar era
uma preocupação maior e um final mais coerente.
Título Original: Il Console Italiano
Diretor: Antonio Falduto
2011, 90 min. Itália
Bom, pelo menos você sentou ao lado de Dario Argento. Queria ver "Do You Like Hitchcock?"
ResponderExcluirAi, como gosto dos posts desta blogueira! Quero ver todos os filmes -- nao chegam por estas bandas houstonianas nao.
ResponderExcluirBeijo grande.
Ex vizinha