Apatia

by - março 29, 2010

Até hoje não entendi bem como a Globo exibiu Dourado do BBB 10 falar que apenas homossexuais pegam HIV. Até agora não entendi como a emissora não se pronunciou com uma campanha educativa e preventiva, como não aproveitou e cortou no ar mesmo a loucura que foi essa afirmação, mas se postou covardemente de forma passiva e neutra, responsabilizando apenas o personagem de seu programa por suas falas e atos.

Ora, sabemos o que é essa emissora, sabemos o poder que tem e o público deste programa, sempre imenso. E hoje, saiu uma notícia nos jornais, informando que no BBB a justiça obrigou a emissora a se pronunciar agora de forma direta sobre a doença. Eu até entendo a lerdeza da justiça, o que é difícil de entender é a displicência geral.

Essa seria uma oportunidade perfeita para uma campanha, para um movimento, para qualquer coisa. E o que reinou foi a apatia nacional. Nem ouvi pessoas comentando isso! Precisou eu lembrar a meus amigos e colegas de trabalho o caso, e discutir partindo da lembrança de apenas um e não de um incômodo geral.

Estranho isso. E olha que coisa: exatamente quando eu estava pensando nas próximas linhas para este texto quase sem fim, o BBB exibe uma cartela com uma locutora e texto, indicando as formas de contágio do HIV. Tudo bem, ajuda. Mas poderia ser melhor.

A culpa não é do personagem. Ele pode ser ignorante. Muita gente é. Nem todo mundo foi educado para muitas coisas. Pouca gente foi. Acho que não apenas a frase infeliz e, quem sabe, em alguma instância ingênua e carregada de preconceitos, mas o resultado dela, tanto da emissora quanto dos que a assistem. Esse é o reflexo deste país. É por situações como essas que adolescentes engravidam, que muita gente efetivamente contrai o HIV, que meninas morrem fazendo abortos ilegais e lipoaspirações clandestinas. E com um motivo tão óbvio, não se fez nada.

É como eu ia dizendo ao fim... muito estranho isso. E nem precisei falar da ausência do governo nesse momento. Porque uma governança séria, falaria sério sobre isso. Aproveitaria uma deixa óbvia e fácil. E a partir daí, se transformaria alguma coisa em alguém... em alguém que vê televisão, em alguém que só tem isso pra ver... em alguém onde não há como buscar educação... e tudo o que bastou aparentemente foi uma cartela de 10 segundos na tela. Lugar bom pra se viver.

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