Simplesmente Feliz

by - abril 19, 2009

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Um filme sobre a ousada proposta de levar a vida mais leve.

Normalmente os domingos costumam ser mais ou menos assim: acordo tarde porque saí na noite anterior; às vezes estou com uma ressaca mortal que me deixa letárgica, às vezes é só preguiça: costumo passar o dia de camisola, no sofá, vendo tv, lendo livro e cochilando. No sábado, fez um dia lindo. Estamos no Outono e a temperatura está uma delícia. Não vemos muito isso em Salvador, que costuma ser quente quase o ano inteiro. Aqui está tudo muito gostoso: venta de leve, céu azul, é um ar fresco e à noite tem feito um friozinho de dormir sem ventilador e ter sono profundo.

Acontece que ontem passei o dia inteiro quase de preguiça, entre conversar com Luciene e fazer nosso almoço, ir ao salão para deixar as unhas de mocinha e tomar susto com a Esquadrilha da Fumaça. Em seguida, cine e boteco. Dormi às 02:30h. Acordei às 10h, de sono pesado e mamis ao telefone. Fiquei lerda sem ressaca e coragem de sair. Me situei entre que dia lindo para fazer alguma coisa e jamais irei na praia, que deve estar lotada: o que eu precisava mesmo era de um impulso de um amigo, parente, conhecido, vizinho etc. Não rolou. Me obriguei a sair de casa às 16:15h para ir ao cine novamente. E é onde tudo começa.

O filme foi Simplesmente Feliz. Vendo o trailer você decide se conseguirá ver o filme com uma protagonista que é quase irritante O negócio é que a professora de primário de 30 anos que vive com a amiga em Londres é uma otimista do tipo quase-débil. Ela é feliz em todas as direções, à primeira vista: reconciliadora, graciosa, irritante e risonha. Mas o que me interessou no trailer é que eu tinha a certeza de que seria um filme leve, sem maiores pretensões e que tinha chances de sair uma comédia divertida mesmo, nos limites que o roteiro prevê. E assim foi.

Sozinha no cinema mais cult da cidade, com três salas pequenas, café, teatro, exposição e livraria, cheguei mais cedo e me deparei com milhares de velhinhas e velhinhos com menos preguiça do que eu. Fui à livraria e quase desandei no consumismo. Fiquei um tempo olhando os livros, esperando que algum me desse um tchauzinho ou piscasse o olho. Tentei, esperei, mas consegui sair da loja sem gastar. Estou em busca de livros específicos e preciso me concentrar neles e não no resto do universo. Entrei no cine e descobri que uma sala com pessoas mais velhas é sempre melhor, porque elas realmente ficam caladas e estão interessadas em ver o filme de verdade. Terminado o filme, tentei uma outra sessão, mas já tinha visto o seguinte e fui pra casa.

Vim com uma sensação estranha, o filme me causara uma pontuação no peito. Eu estava feliz? Eu estava tranqüila? E por que um filme aparentemente bobo me causaria tantas perguntas? Saí da praia de Ipanema e segui pra minha rua com cara de interrogação, exclamação e muitas reticências, como se andasse em outro planeta. Sabe como é? É como se você desconhecesse tudo a seu redor, as pessoas que te olham quando você passa, os elogios decorosos e indecorosos, o filhote de labrador que ficou brincando comigo até eu entender que o coroa dono dele poderia achar que meu interesse era nele e saí de perto.

Acho que esse filme traz um amálgama de reflexões que parte de situações do cotidiano que vivemos, sem interpretar a todo instante. É um novo ponto de vista vindo de um filme que não usa a fantasia – como Amélie Poulain – mas o dia-a-dia de qualquer pessoa. E a personagem irritante com roupas coloridas além da conta vai ganhando outras dimensões, como todo indivíduo. Sua complexidade é intensificada de acordo com suas reações a acontecimentos banais. Uma grosseria, uma briga, uma situação delicada no trabalho, com a irmã, e como a personagem reage a tudo, um ponto de vista novo que não infantiliza as situações vividas, mas nos traz novas perspectivas e oportunidades.

É ainda um filme que fala de amizade, de escolhas que fazemos na vida e de como elas nos transformam sem percebermos. É um filme que, ao contrário de particularizar situações, nos aproxima delas, como se todos pudéssemos passar por experiências similares. Sem maiores pretensões, é um filme que nos preenche a cada seqüência, a cada nova resposta para as perguntas ali expostas. É, por fim, um filme leve e tranqüilo, com uma velha lição de moral que é dada de uma forma diferente e inteligente. E ela ainda dança flamenco!

Título original: Happy-go-Lucky (2009)
Diretor: Mike Leigh
País: Inglaterra
118 min.

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2 Comentários

  1. Também adorei esse filme, Tati!
    E também me senti desse jeito que você descreve. A personagem é simplesmente feliz e pronto. Considero a postura dela diante das situações de uma coragem exuberante. Uma forma de dizer para si mesma: "não vou permitir que o mundo me corrompa com suas tritezas". Afinal, estamos aqui para sermos felizes!

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  2. oi,

    tava dando uma corrigida em textos passados em meu blog e deparei-me com seu comentário, que por sinal, foi feito no ano passado quando o on the rocks estava dando seus primeiros passos.

    curti aqui.

    voltarei.

    bj

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