Souvenir
Depois de grandes filmes como o
controverso e brilhante Elle (2016,
de Paul Verhoeven) e o sensível e coerente O
que está por vir (2016, de Mia Hansen-Love), Isabelle Huppert surge como
Laura, uma personagem sonhadora, própria dos filmes clássicos de artistas em
decadência, que encontra um último suspiro em segundos de fama, com este Souvenir.
A lembrança que seria a tradução
literal do francês é também sinônimo para presente, aquele que trazemos de
viagens, quando – literalmente – não esquecemos alguém. Segundo longa-metragem
de Bavo Defurne, o drama romântico soa como um conto de fadas, com direito a
príncipe encantado e princesa quase em perigo. Laura (o nome artístico de
Liliane Cheverny) é uma ex-cantora que agora trabalha como decoradora de bolos
em uma fábrica. Ali ela conhece Jean Leloup (Kévin Azaïs), um rapaz vinte anos
mais novo por quem se apaixona e que a reconhece como a cantora por quem seu
pai foi apaixonado décadas atrás. A ideia de relança-la no festival da canção
surge e com isso, todo o drama se instaura.
Isabelle Huppert nos choca com a
placidez desta obra que se perde na inverossimilhança. O universo da fantasia
não se sustenta com a tentativa de combinação com a realidade. Poderia ser um
realismo fantástico, caso os elementos narrativos fossem mais oníricos, mas é
como se estivéssemos vendo uma obra cujo ápice parece não atingir o efeito
desejado e ficamos sem saber se devemos trata-lo como uma estranha comédia ou
um drama de fato. Há um jogo narrativo interessante com a solidão, o esquecimento da protagonista e como ela própria fez questão de reforça-lo, ao ver o fim da carreira artística, usando seu nome verdadeiro na vida e se mantendo à margem das possíveis amizades no ambiente de trabalho. Liliane não quer falar de Laura, não quer lembrar a fama e glória de um tempo efêmero, não quer reviver as dores que afoga em doses de whisky, mas - e aí talvez esteja o primeiro problema da trama - ao primeiro pedido de Jean, se rende e investe com todas as forças, ultrapassando quaisquer obstáculos para se fazer ressurgir enquanto cantora.
O maior problema talvez resida na construção dos personagens,
cujos arcos narrativos parecem não dobrar, não atingem a maturidade para suas
transformações. Há a tentativa de reviver o passado, isso está claro desde o
cenário da casa de Liliane quanto com seus figurinos. Huppert acentua o efeito, com um gestual ambíguo, entre o estranho, com uma atuação bem marcada
para o palco – e agora as referências de Gloria Swanson em Crepúsculo dos Deuses (1950, de Billy Wilder), sem o drama, mas
nos movimentos parece uma ideia não tão distante – quanto extremamente
romântico nas trocas com Jean. Ao mesmo tempo, a atriz reforça um olhar que não sabemos se é frio e descrente por conta de sua trajetória ou o contrário, um suspiro de esperança sempre sufocado.
0 Comentários