O fio de Ariane
Ariane Ascaride (A delicadeza do amor, 2011) é a
protagonista da nova comédia de Robert Guédiguian (Marie Jo e seus dois amores, 2002 e As neves do Kilimanjaro, 2011) que está nos cinemas. A atriz é
também mulher e musa do diretor que lhe entrega este filme como uma homenagem.
A história está centrada no dia de seu aniversário, em que espera e se prepara
para receber o marido e os filhos e, por um acaso infeliz, nenhum deles pode
comparecer. Ela então resolve sair de casa e fazer do dia, uma aventura.
Na mitologia há uma Ariadne, cujo
fio ajuda Teseu, seu amado, a encontrar a saída do labirinto em que estava o
Minotauro, metade animal, metade homem que precisava matar. O fio de nossa
Ariane é uma guia invisível que a transforma em um amuleto da sorte para quem a
encontra. Para além da sorte alheia, é o mesmo fio e narrativa condutora do
filme, que lhe permite uma jornada de autoconhecimento e percepção de seu lugar
no mundo. A ficção corre nesta direção, orientando a protagonista, lhe
transformando numa mestre e aprendiz frente seus novos desafios.
Filme de verão francês, os
diálogos são sua graça, mas enquanto estrutura deixa a desejar. Os caminhos que
Ariane percorre nesta viagem mudam sua vida de tal maneira e velocidade, que se
transformam em uma espécie de sonho, confirmado com a tartaruga, que ganha o
status de personagem quando passa a conversar com a protagonista. Nada disso
seria um problema se não faltasse um aprofundamento maior nos personagens,
cujas histórias particulares e ótimas atuações, em particular dos atores
Jean-Pierre Darroussin (taxista) e Gérard Meylan (Denis, dono do restaurante),
acenam para um algo mais que não se desenvolve. Ficamos na superfície de
histórias grávidas, como contos que acabam rápido demais.
Mãe de uma família carinhosa,
Ariane se é um emblema – o que torna a homenagem ainda mais bonita – de boa
pessoa, em um símbolo com missões a resolver, para facilitar a vida de todos e,
quem sabe assim, se reencontrar, após sair do labirinto que criou para si. De
presente para nós, ainda a vemos cantar e a encontraremos em sua própria Fontana de Trevi, relembrando o clássico
felliniano A Doce Vida (1960). De
qualquer maneira, o filme acende questões caras ao povo francês, como
tolerância, imigração, generosidade e o cuidado com o outro, de forma leve e
brincalhona, como um filme razoável para uma tarde de domingo.
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