Um senhor estagiário*
Enquanto assistia Um senhor estagiário – título em
português que poderia ser “o estagiário” e entregaria menos a ideia para quem
não viu o trailer – me perguntei onde está o ator de Taxi Driver, Touro Indomável e O
Poderoso Chefão. Robert De Niro é imenso e do alto de seus 72 anos, a
qualidade do seu trabalho não vale discussão. Aqui também está bem, aqueles
filmes têm mais de 35 anos e muita água já passou por debaixo desta ponte. Anne Hathaway, outra atriz inquestionável, nos seus 32 anos, também parece ser maior
do que Jules Ostin, chefe de Ben Whitaker (De Niro). Então, com grandes atores
e uma diretora experiente, o que houve?
O filme não é ruim, deixando
claro. É uma comédia leve, com alguns bons diálogos e é sempre um prazer rever
De Niro e Hathaway, que todos adoram. O problema está no excesso de leveza, na ampla gama de clichês de uma comédia de verão
que não vai muito além. Tenho uma predileção pelo gênero, então assisto a
maioria dos filmes que aparecem pela frente – o que me dá algum senso de
loucura, mas bastante base, por outro lado. Jules é diretora de uma startup, que está fazendo um sucesso estrondoso. Como a maioria das
marcas nascidas na internet, seu crescimento foi vertiginoso e o que era um
blog, virou uma loja de roupas virtual com 200 funcionários. Como parte de um
projeto comunitário, criam um programa de estágio para idosos, para que unam
sua experiência de vida à ocupação do tempo livre – além de não se importarem com
a renda, já que são aposentados. Com isso, De Niro surge e a primeira cena já
nos passa o teor do que veremos: a apresentação de seu personagem indica um
senhor agradável, otimista e pragmático.
O filme mostra a rotina da
empresa e as relações de trabalho que os estagiários – idosos e jovens – têm com
o restante da equipe, focando na relação de Jules com Ben. A crise se deflagra
quando um assistente de Jules sugere a contratação de um CEO, alguém com maior
experiência de gestão que comandaria a empresa e traria mais segurança aos
investidores. Essa estratégia entregaria o poder de Jules a um candidato homem –
todos os entrevistados eram homens – por uma sugestão de outro homem. Onde está
o erro? Com problemas em casa e no trabalho, sem tempo para comer ou dormir – a
velha imagem do workaholic de salto – decide pelo processo seletivo. Neste meio
tempo, Ben está sempre ao seu lado, pronto para atendê-la nas atividades mais
diversas e sempre com a frase certa no momento preciso – benesses da
experiência que a idade traz e alguma noção de timming.
O filme corre sem grandes
solavancos e ganha força em algumas cenas, como na parceria com os outros
estagiários e aí o elenco brilha, com Adam DeVine, Zack Pearlman e Jason Orley
no hilário choque de gerações. Ao mesmo tempo, não há nada muito extraordinário
e os protagonistas carecem de profundidade, ainda que estejam sustentados por
grandes atores. É uma falha de roteiro que acaba atravessando a história toda
num clima morno, com algumas tiradas inteligentes, mas os estereótipos acabam
mais fortes do que a ideia que está pro trás da história.
Nancy Meyers é diretora deste e de,
entre outros, Simplesmente Complicado, O
Amor não tira férias e Alguém tem que
ceder. Os três filmes são deliciosos, trazem temas e papeis onde a mulher
tem destaque e as histórias são centradas nos pares que estão perdidos,
tentando encontrar uma saída para suas relações, sejam com o passado, com as
diferenças entre as gerações e sempre em relacionamentos amorosos. Neste
último, ao menos, o foco está no trabalho, na carreira de uma mulher que almeja
o sucesso e vida pessoal – e não há nada de errado nisso (estamos em 2015, vale
lembrar) – mas, ainda tomamos susto ao descobrirmos que Jules é mãe de família.
Talvez o que falta neste estagiário seja algo que ultrapasse o bom moço. Não há
sarcasmo, quase não há ironia e a construção de alguém sempre centrado e
correto parece irreal. Não esperamos grandes aventuras de um senhor de setenta
anos que resolve voltar ao trabalho, mas a submissão condescendente também
incomoda. Ainda assim, vale para uma tarde de domingo, sem esperar que este
seja um dos melhores filmes deste grande elenco e equipe – mas por tê-los, vale
como passatempo.
*Uma versão deste texto está no Blah Cultural. :)
*Uma versão deste texto está no Blah Cultural. :)
1 Comentários
É um filme altamente recomendado! A trama traz ninguém menos que a dupla Robert DeNiro e Anne Hathaway como dois legítimos representantes desses tempos tão diferentes. É que mais do que contar uma história parece que O Estagiário quer passar uma mensagem: que a geração digital (da web) tem ainda muito que aprender com a textual & analógica, não apenas a nível profissional mas principalmente no que diz respeito às suas relações familiares e emocionais. Ou então é uma afirmação que os mais velhos – para além do savoir faire que podem transmitir aos mais novos - têm prospectivas de emprego e de sucesso. Mas apesar de seu argumento central clichê – o de que jovens e velhos precisam aprender uns com os outros - a forma humana e sincera como a história é contada, sem julgamentos morais e condenações, a eleva a um patamar acima das outras.
ResponderExcluir