Hoje é um daqueles dias que
escolhemos para homenagear alguém. Agora é a vez de nossos pais,
co-responsáveis por nossa existência, com sorte por nossa educação, formação e
o que mais for possível.
Eu fui muito feliz nesse
quesito. Tenho um pai que não poderia amar mais, simplesmente porque não cabe.
Como minha mãe, ele me deu educação, caráter, aqueles conceitos de bom e mal,
certo e errado que vêm junto com a bagagem de vida dele(s), e que funcionaram
bem comigo.
Meu pai teve a mim e a minha
irmã, duas meninas e ainda assim, não nos mimou para sermos princesas, quiçá
para esperar príncipes em carruagens. Ao contrário, nos criou como seres
humanos, dotados de inteligência e curiosidade, responsabilidade, cuidado e respeito
pelo outro, quem quer que seja. Colocamos a mão na massa para o que for
necessário: na saúde e na doença, nas tristezas e alegrias. Somos um núcleo
separado geograficamente, mas sólido como aqueles seres unicelulares da
biologia. Sabemos lavar, passar e cozinhar, fazer mercado, pagar contas, ler,
escrever e pensar. Graças a eles. Nossa bagagem cultural é diversa por
formação, tamanha a diferença entre as famílias materna e paterna, mas é uma
boa mistura – dá uma diluída nas realidades de cada contexto e nos deixa mais
críticas e paradoxais. Como toda grande família, a nossa também é um caos.
Somos quatro partes de um todo,
inseridos em círculos maiores, mas concentrados na velha unidade familiar.
Tenho sorte de ter esse jovem ao meu lado, de contar piadas, de vê-lo contando outras
não engraçadas e rir assim mesmo, porque é engraçado só de ouvir. É bom falar
com ele sobre política, é interessante ouvir as opiniões sobre os filmes que eu
gosto e que ele não vê o porquê e trocamos argumentos, é sempre um desafio
gostoso indicar filmes e é maravilhoso quando acerto. É
massa viajar e contar para ele como foi, ele esquecer tudo e meses mais tarde,
depois de ver um documentário na tv, me indicar o lugar pra ir. É bom sair pra
almoçar, quase esperando dar errado, pra ouvir ele falar ‘que nunca mais bota
os pés ali’ e mais oitocentas histórias que valem contar mais tarde, pra uma
turma bem menor do que essa, na verdade.
Meu pai é médico e quando eu era
criança, era como ter um super-herói em casa. Ele era e é estressado com um
monte de coisas, com o planeta, com o Brasil, com todas as injustiças e, como
nós, está cansado dessa maluquice toda. Mas é porque ele tem um coração imenso –
como minha mãe e minha irmã também, nossa família é toda coração – e sofremos
juntos com as barbaridades. Mas ele, agora pensando, continua herói e pai não só meu, mas de muita gente e não das
histórias em quadrinhos, mas da vida, é uma referência de pessoa que carrego
sempre comigo e cujas lições procuro manter e seguir.
Meu pai odeia redes sociais. Por
isso, para arrumar mais um motivo para colocá-lo em todos os lugares, trago
junto um curtinha de 3 minutos, sobre o cara que deu origem a esse ômi, meu
avô, Walter Ferreira. É de um festival de cinema de arquivo que teve aqui
no Rio, o Recine, no ano que desembarquei, 2008. Fruto de um
workshop de cinema de arquivo, o curtinha me rendeu, ainda que seja bem simples, o
prêmio de melhor roteiro. É uma homenagem a um outro pai que ficou na minha
memória infantil, cujos detalhes fui resgatando com a ajuda de minha avó, minha
prima, meus pais. É uma brincadeira com o acervo do Arquivo Nacional brasileiro e algumas
fotos de família.
Feliz dia dos pais, espero que gostem e é claro que estou com saudades.
4 Comentários
Filha! Como sempre tem o dom de com poucas palavras falar de tudo com clareza e também traduzir o amor que tem pela familia e com tudo que faz. Daí ter as conquistas e realizações , porque abraça e vai em frente. Beijos
ResponderExcluirSua mãe.
O que deve dizer, ou fazer, uma tia tão consaguínea e tão apartada de vc?
ResponderExcluirUm sorriso ou um abraço acolhedor, cheio de orgulho, não conseguem alicerçar o ocaso de tantas conversas pouco sonoras e atravessadas por diferenças que eu sequer posso imaginar quais sejam ou de onde vêm.
Talvez vc possa alcançar um fato simples: a alegria desta tia, caçula entre todas as famílias, que, diante de tantos ruídos entre nossa comunicação, lhe admira pelo cuidado afetuoso que expressa por seu pai, mãe e irmã.
Ser sabedora da sua inteligência e personalidade afetuosa, me bastam, e constituem uma parte importante da minha felicidade cada vez mais minizada por perdas físicas e presenças ausentes.
Acredite, também te amo, querida Tatiana.
Parabéns pelos seus textos, sobretudo pelo exemplo que sua atitude nos dá a todos.
Beijo de tia.
Lindo texto!
ResponderExcluirAi amor ..te digo é nada ..para além da descrição da relação e intenção do nosso pai .o resgate lindo poético íntimo e verdadeiro da memória do nosso vô...não me canso de ler e sobretudo assistir !ahaza Bi!!!
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