Filhos de João

by - julho 19, 2011

Na semana passada, no dia treze, foi o dia mundial do rock. Aqui no Rio não aconteceu nada de interessante, mas me peguei ouvindo uma banda baiana que me tomou por inteira e me levou para os shows que ia em Salvador no início dos anos 2000. Scambo era o nome e Salvador conhecia as letras originais e as versões, e percebi que me marcou muito mais do que eu imaginava.
Nessa leva de baianidade, troquei boa parte das músicas internacionais que ouvia diariamente por outras baianas e às vezes meu coração aperta de saudade e me dá vontade de cantar bem alto, mas quase sempre estou dentro de um ônibus e o que acontece é meu coração explodir por dentro e uns risos meus, sorrisos, enquanto olho o mar carioca.
Hoje assisti a pré-estreia de Filhos de João, o filme de Henrique Dantas sobre os Novos Baianos. Dei uma sorte danada, porque encontrei outros baianos e vi o filme entre eles. Nada melhor, já que ouvi o sotaque de pertinho, vi o filme, cantamos umas partes e no final, mais baianidade no coquetel. Parece bobagem, mas esse retorno é realmente importante. Às vezes o tempo vai passando e deixamos passar junto um pouco do que somos e vamos nos tornando outros, sem perceber... às vezes é só uma música, a companhia ou um filme que nos avisa com um ‘psiu... lembra? Você é isso também’. Era tudo o que eu precisava.
O que acontece é que este filme foi feito durante 11, 12 anos e trouxe entrevistas de tempos diversos, mas que juntas, davam um tom gostoso e interessante, traduzindo numa boa forma de contar a história. E eu nem sabia que João Gilberto era esse João do título e sua importância na formação do grupo. A questão é que João Gilberto já era um mestre nos anos 60 e essa turma dos Novos Baianos, de músicos fantásticos estava se descobrindo, quando o músico-padrinho mostrou possibilidades e novos olhares que transformariam o rock dos baianos numa música essencialmente brasileira e fundamental.
O filme mostra raridades, trechos de shows, da convivência deles num sítio aqui no Rio, de como as canções se formaram, de como eles viviam e cresciam, se multiplicavam. E múltiplo é também o filme, que nos dá o prazer de ver os pais da guitarra elétrica, do nosso Carnaval baiano, de Armandinho, Dodô e Osmar, até de Gil e Caetano, como quem não quer nada. É um prazer de ver e ouvir. E é a história da música brasileira. Isso tudo num documentário inesperado, lindo e divertido.
Tom Zé abre o filme e faz as vezes de mediador da história, ditando os momentos importantes da virada, com sua fala completamente original e, que pode parecer a muitos ‘viajante’ e metafórica, mas, se pensada e ouvida faz total sentido. Todas as suas palavras e adjetivos. Junto com isso, um contexto da época na Bahia, com os filmes de Edgard Navarro e tantos outros – porque os Novos Baianos também fizeram filmes – e toda a efervescência cultural de uma época que aconteceu assim no mundo inteiro. E o legal é que eles todos falam num tom simples, com tranqüilidade, sem maneirismos ou palavras difíceis. É um filme para todos. Todos que gostam de música, cultura, de Brasil, de Bahia.
Acabei de chegar em casa e não consegui não escrever sobre o filme. E tenho que agradecer à minha irmã que me apresentou a esses baianos maravilhosos quando eu nem sabia de nada. Hoje o filme chegou tímido e me deu uma recarga de baianidade no inverno carioca, não tão gelado como em outras cidades, mas longe de ser aconchegante como na minha terra. E quando isso acontece, não tem essa adversidade que me tire o humor. E nem falemos de outros filhos dos filmes de música; gostei muito dos de Francisco, mas não se comparam a esses aqui. Assim como a analogia ao Admirável Mundo Novo, aqui se justifica plenamente no filme. Era uma geração que buscava algo novo, diferente, livre... que se perdeu na ingenuidade do velho sonho de romper um sistema - na verdade, talvez um sonho ainda novo naquele tempo - mas que ainda assim permaneceu num sistema próprio tempo suficiente para criarem vida e nova música. É isso, Novos e Velhos baianos no rádio e agora nos cinemas, por favor.

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2 Comentários

  1. Gostaria de ter compartilhado esse momento com você, mas que bom que você foi. Adorei ler seu texto. Precisamos mesmo nos "achar" no meio dessa vida carioca que levamos. Beijos, Catarina.

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  2. vou correndo assistir depois de encher minhas veias de dendê, antes de voltar pra terra do sotaque estranho e do céu cinzento! ;)

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