Guerra ao Terror

by - março 14, 2010


Ao contrário do que parece, é fácil entender porque Guerra ao Terror ganhou vários prêmios. Mas, antes de tudo, vamos entender realmente do que ele trata. O filme é sobre o trabalho de um esquadrão anti-bomba no Iraque. Este grupo de 3 homens vai onde há uma ameaça e enquanto dois dão cobertura, um terceiro vestido adequadamente vai ao local e a desarma. E, uma pequena observação: o filme é dirigido por uma mulher.

Por mais que isso pareça pouco, é estranho e interessante ver um filme de guerra dirigido por uma mulher. Em nossa cabeça passa, ainda que sutilmente, aquela idéia de porque uma mulher se interessaria em fazer um filme de ação, um filme de guerra e ainda: quase não pôr mulheres no filme. Mas a melhor parte desse pensamento que aparece sem querer e sem que queiramos, é que ele rompe com o ideário padrão.

Antes de ver o filme fiquei me perguntando se ia ganhar o Oscar. Como todo mundo, tinha visto Avatar e me deslumbrado com seus efeitos, com a brincadeira 3d, com a megalomania. No caso de Kathryn Bigelow não tem muito disso. O foco, aliás, bem escolhido levando em conta o tema, a relação destes homens com sua atividade e, principalmente, entre si. A chegada de um novo líder na equipe, aquele que desarma as bombas, após a morte iminente do grande amigo e líder anterior, desequilibra as relações e percepções dos envolvidos. E é nisso que está a graça.

Logo na primeira seqüência, o filme já diz ao que veio: o esquadrão em atividade, um dos três colocando a roupa de proteção, as cenas de ambientação, “cenas de Iraque”, cenas meio sujas, câmera na mão, tensão. O filme mantém esse ritmo até o fim e nossa respiração fica presa a cada investida deles em campo. Não adianta: nos afeiçoamos aos personagens, independente de política. O filme foi construído assim, o roteiro é assim, assim quis a direção. E são bons personagens. Jovens, bonitos e corajosos, humanos, homens dispostos a enfrentar o "vida ou morte" todos os dias, com seus dilemas, seus medos. Cada um dos protagonistas carrega um motivo que cria a empatia; um é o mais novo, que precisa de mais cuidados; o outro não sabe bem o porquê de estar ali e muito menos de não estar e o terceiro, com aquele perfil de estou aqui porque gosto, é disso e para isso que vivo.

O filme ganhou quando me perdi dentro dele. Cada cena fora do quartel era uma tensão, ainda que saibamos que no início ninguém morre senão o filme acaba. Essa tensão é difícil de construir quando as situações são parecidas e têm que ser mesmo, afinal o objetivo é mostrar o dia a dia. Não suficiente, a fotografia merece várias exclamações (!!!!!!!!!). O câmera conseguiu ser repórter, espectador, documentarista e diretor de fotografia de ação. Os planos à luz quase natural o tempo todo ou tendendo a isso criou uma atmosfera realista, bem como a inconstância de movimentos, os planos quase tremidos mas perfeitamente inteligíveis. E não vou nem comentar aqueles em super câmera lenta, porque são obras de arte. Só vendo pra sentir.

Não vi todos os filmes que concorreram ao Oscar desse ano. Vi apenas Avatar e este. Mesmo tendo gostado bastante de Avatar, não passa muito de efeitos especiais numa história bonita até, mas secundária. Tudo compreendido, deve ter sido bastante difícil e caro de fazer, de construir o mundo de James Cameron. Mas, mais interessante achei esse. Mesmo sendo um filme de guerra, mesmo sendo unilateral e mesmo mantendo os iraquianos calados e de cara fechada todo o tempo com uma única exceção trágica do garoto, passemos por cima das obviedades. Kathryn deu um show de direção num filme de situação estabelecida. Teoricamente não há heróis, mas participantes do mesmo conflito. O filme não prevê o fim da guerra, muito pelo contrário, a meu ver não culpa tanto os iraquianos, não há nada muito tendencioso (além de ser um filme americano, claro) que nos impeça de assisti-lo. Claro, melhor seria se fosse mais ambíguo, se ouvíssemos aqueles que armam as bombas e suas também tragédias diárias, mas não era o objetivo deste, não era seu recorte.

O Oscar é uma premiação política. Filmes sobre não só essa, mas todas as Guerras americanas pelo mundo são sempre melhor posicionados. Há um cuidado em se manter o moral norte americano, essa é a política óbvia. É preciso que se vá a ele sem esperar muito. É um filme de guerra, é um filme de relações humanas numa guerra, é um filme de ação. Tem tiros, tem crueldade. E é americano e bom.

Título Original: The hurt Locker
Direção: Kathryn Bigelow
EUA, 2008, 131 min

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1 Comentários

  1. Realmente é um filme de macho dirigido por uma mulher. E concordo com você que isso vale um certo mérito. Mas, não consigo separar o filme em si com o contexto fora dele, principalmente se é um filme ganhador de um Oscar. Enfim, depois a gente discute mais!!!

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