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by - novembro 13, 2009

Uma noite dessas estive numa festa de aniversário de uma pessoa que não conhecia. Fui acompanhando uma amiga em comum e aproveitei pra conhecer o bar na Lapa.

Saímos de lá, agora quatro meninas num carro dirigido por Camis, a amiga. Nossa motorista havia bebido umas cervejinhas antes, umas oito da noite e tinha parado por aí. Agora já eram 00:30. Na Praia de Botafogo a caminho de casa, uma blitz da Lei Seca.

A blitz ainda não se entendeu em estrutura. Eles sempre causam engarrafamentos surreais onde param. Paciência. Das risadas que foram minguando, o policial nos fez parar. Instantaneamente, nosso clima de curtição se transformou em tensão. Nenhuma de nós era da área de saúde para saber a duração do álcool no sangue e todas haviam bebido.

Camis foi chamada ao bafômetro. Tensa, tadinha, com razão já que era a dona do veículo, já imaginava o pior. Ao nosso redor, dezenas de carros, muitos meninos na casa dos vinte e início de trinta e um casal que chamou atenção: eram de meia idade, a senhora usava um vestido pavão em cores, maquiagem e uma cabeleira loira presa no alto da cabeça. O senhor, em eterna pose, caminhava e falava ao telefone. Na certa, os policiais pensaram: whisky. Até acho que eles foram pegos, porque não estavam com uma cara de muitos amigos. Outra figura era uma garota de top e short estilo esportista que conversava animadamente com um dos policiais. Momentos depois, uma das meninas de nosso carro lhe perguntou se tinha bebido e ela respondeu: muito.

Camis foi ao seu martírio junto comigo. Eu explicava segundo a lógica do momento: relaxe, você bebeu bem mais cedo, já tomou refrigerante e comeu coisinhas. Tudo acabará bem. E fingindo calma, fomos. Ela soprou três vezes o negócio na esperança do O.O aparecer no visor. Na maior educação e presteza, nosso algoz nos disse enfim: muito bem, senhoritas, podem ir pra casa. Na mesma calma, dissemos com o olhar: Viu? E por fim, ele: parabéns. Ela: Obrigada. Ainda que esse pudesse ser o início de uma história de amor com tantas gentilezas, acabou aí mesmo e fomos buscar nossa liberdade no carro.

A euforia continuou como havia iniciado antes da blitz, agora com a ênfase da vitória final. Ao deixar as duas meninas na primeira parada, uma delas diz: mas tem é gente bonita nessa Lei Seca, hein? À parte a surrealidade da comadre, a tensão não vale a pena. Ainda mais quando são policiais. Ainda mais no Rio. Ainda mais quando eu lembro que dois dias antes, saindo do banho de mar matinal do verão desavisado e toda enrolada na canga pra atravessar a rua, dois policiais desses que acham bonito mostrar a ponta do fuzil no carro, falam coisas quando passam por você.

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1 Comentários

  1. História mais surreal, impossivel!
    Porém já sei o que contarei pros meus netinhos... rs

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