Um beijo roubado

by - maio 06, 2008



O que torna um filme especial? É o filme em si, a companhia, a falta dela ou a situação que vivemos que aguça a nossa sensibilidade? Um beijo roubado é o novo filme de Wong Kar Wai. A história de um amor que se constrói através das experiências a distância e da necessidade que um tem do outro, ainda que em espaços diferentes, marca o filme cheio de memórias e momentos para pensar.

Ao assistir o filme pela primeira vez, muito sentimento vem à tona, ficamos enebriados com a beleza do filme, as cenas lentas, a sensualidade latente de cada olhar distante. Vemos histórias de amor acabando e que dão alimento a uma nova, que guia todo o filme. E, ao sair da sessão, não sabemos se queremos chorar, pensar ou sorrir... mas um silêncio egoísta nos domina, porque não temos muitas palavras para falar do filme.

Em inglês, My blueberry nights, traz mais o sabor do filme, cujas tortas de amora aparecem suculentas em primeiríssimo plano. Quase dá vontade de lamber a tela. E cada história que a trama traz é mais um aperto no peito, mais uma das dores que todos já conheceram algumas vezes.

A narrativa de cartões postais por onde passa nossa protagonista, que literalmente dá o tom do filme – ela é Norah Jones – nos faz mergulhar no ritmo da fala de um bom observador, aquele que para se recuperar de sua própria tragédia, acaba notando que esta não é a única do mundo, mas que há histórias em qualquer lugar que se esteja. O coração partido pelo amor traído, a morte de um ex-amor de culpas, a morte de um pai. Inseguranças e muita humanidade.

Na segunda vez que assistimos o filme, já estamos preparados para a carga de emoção. Não há mais a surpresa da história, mas, ao contrário do que pensávamos e que comprova a qualidade do que estamos vendo, os mesmos sentimentos retornam e mais uma vez, lágrimas e o aperto no peito. Não há como fugir do coração. Ele é o principal determinante da qualidade de uma obra de arte. Comédias e dramas românticos existem aos montes, mas poucos realmente fazem valer a sessão.

My blueberry nights tem um ar de noite, uma nostalgia, o olhar vazio. A leveza do filme está em Jude Law, o amigo amor, o destinatário das cartas da mocinha. A história dela cruza com a dele em intervalos, enquanto vemos Rachel Weisz e Natalie Portman dominarem seus personagens. Por trás da beleza única de cada atriz, há o espetáculo da atuação, o prazer de conhecermos o personagem e acreditarmos nele e em sua história. Em cada parada na trajetória de mais um Estados Unidos que pouco vemos, uma mulher sofre de passado, de uma história que ainda não acabou, mas que sua duração indica um final infeliz. É mais uma vez um filme de estrada, agora através de uma mulher em busca de se salvar e se conhecer.

O olhar sensível de Wong Kar Wai antes visto em tantos outros filmes, como Amor à Flor da Pele e o conturbado 2046 – Os Segredos do Amor, indica que não importa o local em que se filme, mas a busca do sentido para o que se procura filmar é que traz a marca de seu diretor. E essa sensibilidade é percebida logo nas primeiras seqüências: no close-up de um par de sapatos em pés inseguros, das imagens filmadas através de filtros singulares – vitrines de uma cafeteria, porta, paredes de vidro, copos, câmera de vigilância – na trilha sonora que nos envolve sem percebermos, nas cores e em seus escuros de vida real. Esta é a nova poesia de amor do cinema incrivelmente hollywoodiano.

P.S.: Aconselho ver o filme sem ver o trailer, mas indico aqui o site pra quem já viu.

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4 Comentários

  1. adoro suas resenhas de filme
    !!

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  2. Cada vez que vc escreve dá vontade de ver o filme.
    Essa qualidade de seduzir o leitor nem todo mundo tem..
    Vi dois dias em Paris. Vale a pena!
    Se der veja.
    beijão

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  3. Quero muito assistir esse filme...
    pq ele nao chega logo aqui, hein?!
    =*******

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  4. Vi o filme esse finde
    realmente tem gosto de amora e dá vontade comer a tela hahaha
    uma delicia de se ver..

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