O Hotel

by - maio 24, 2008

E então, estávamos mais uma vez na boemia. Numa fila de festa e minha irmã apertada para ir ao banheiro. Do nosso lado, apenas um lugar se mostrou plausível: o Hotel. No bairro em que estávamos, todos os ambientes de hospedagem eram um tanto suspeitos. Haviam dois Hotéis para Solteiros, cujas entradas eram definidas por homens estranhos com caras de más intenções e nada muito limpo, desde a porta até o corredor que se seguia.

O Hotel não era para solteiros. Pelo menos, não era sua indicação. No corredor da fila, desviamos dos amigos e entramos pelas portas de vidro. Um salão amplo e vazio, com poucas luzes e um balcão no fundo. O barulho da tv indicava um programa de sexta à noite de grandes emissoras. De alguma forma, os eventos da rua não influenciavam no silêncio do ambiente. Um homem velho, um senhor branco e simpático, com olhar beirando o sombrio, levantou-se da cadeira e nos atendeu com um sorriso. Boa noite, dissemos. Boa noite. Podemos usar o sanitário? Aqui não tem sanitários, vão no 105. Então podemos ir ao sanitário. Vão ao 105. Com o terror instaurado do quarto 105, como dos quartos onde pessoas morrem de forma macabra, seguimos por um corredor estreiro e fomos escada acima.

No primeiro andar, diversas portas. Éramos duas garotas e resolvemos nos separar. No fundo do corredor em que estava, saiu um homem similar ao recepcionista, baixo, branco, estranhamente educado e com olhar cansado, mas bastante receptivo. Minha irmã percebeu o senhor e, diante de sua agonia em usar o banheiro e sair logo, não se deu conta de um possível problema: onde é o 105, por favor? A esta altura já estávamos no meio do corredor, o senhor se aproximando. É logo aí, ao lado de vocês. Ao nosso lado, grandes sacos de pano no chão brancos, uma entrada estreita, diferente dos outros quartos. Duas portas abertas. A primeira, à frente, parecia ser um setor de serviços, uma despensa de limpeza. Ele indicou: o quarto é aí do lado. Entrei na frente, ela me seguiu. O quarto estava desmontado, como se uma limpeza fosse iminente, mas nunca feita. O quarto não era pequeno e fui atrás do banheiro. Com um olho na frente e outro atrás, entrei, minha irmã me acompanhou, mas pude observar o ambiente. O banheiro, escuro, mais escuro ficou, quando minha irmã apagou a luz. Quase em pânico, mas fingindo calma universal, falei: Marcela, a luz. Ao que ela acende, percebemos outra luz se acendendo: o velho do corredor acendeu a luz da entrada do quarto. Fiquei esperando ele entrar, vigiando a porta, enquanto minha irmã fazia xixi. Esperei pela entrada do velho com o machado, esperei Jack Nicholson e o guri no triciclo, as gêmeas e até a música dos Carpenters do quarto 1408. Estava pronta para tudo, menos para o sumiço repentino do bom velhinho.

Não apagamos a luz. Saímos muito rápido e depois de um calmo trocar de muito obrigada e boa noite, conseguimos fugir do Alicante Hotel. Na rua, os sons de volta, a fila e o mesmo lugar. Decidimos que era hora de ir embora.

Posts relacionados

7 Comentários

  1. quando eu falo que vc é a Lispector da nossa era, vc duvida.

    ResponderExcluir
  2. háaaaaa
    foi a melhor parte da noitee
    hehehe
    macabrito's hotelll
    muito bom
    tinhamo
    hihi

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Mais um hotel para solteiros? huehuehueuheue! Me divirto, queria muito ter feito parte dessa história! heuheuheueuhe! =)

    ResponderExcluir
  5. eu tenho pânico de corredores de hotéis por causa de "O Iluminado".. pânico!
    E vc escreve tão bem... ;)
    beijinhos

    ResponderExcluir
  6. vamos brincar de atualizar isso aqui!
    rs
    =P

    ResponderExcluir